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Para juiz, candomblé e umbanda não são religiões

Para o juiz, as duas "não contêm os traços necessários de uma religião" por não terem um texto-base, uma estrutura hierárquica nem "um Deus"

Candomblé: Ministério Público Federal (MPF) para que obrigasse o Google a retirar 15 vídeos ofensivos à umbanda e ao candomblé (Toluaye/Wikimedia Commons)
DR

Da Redação

Publicado em 16 de maio de 2014 às 20h18.

Rio - O juiz federal Eugenio Rosa de Araújo, da 17ª Vara Federal do Rio, afirmou em uma sentença que "as manifestações religiosas afro-brasileiras não se constituem em religiões ".

Referindo-se à umbanda e ao candomblé, o magistrado afirmou que elas "não contêm os traços necessários de uma religião" por não terem um texto-base (como a Bíblia ou o Corão), uma estrutura hierárquica nem "um Deus a ser venerado".

Nessa decisão, emitida em 24 de abril, o juiz negou um pedido do Ministério Público Federal (MPF) para que obrigasse o Google a retirar 15 vídeos ofensivos à umbanda e ao candomblé postados no site YouTube.

O episódio começou no início do ano, quando a Associação Nacional de Mídia Afro levou ao conhecimento do MPF, por meio da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, um conjunto de vídeos veiculados na internet por meio do site YouTube.

Segundo essas gravações, as religiões de origem africana estão ligadas ao "mal" e ao "demônio".

Um dos vídeos afirma que "não se pode falar em bruxaria e magia negra sem falar em africano" e outro associa o uso de drogas, a prática de crimes e a existência de doenças como a Aids a essas religiões.

Embora as opiniões sejam atribuídas a grupos evangélicos, não foi possível identificar quem publicou ou divulgou essas gravações na internet.

Para o Ministério Público Federal, esses vídeos disseminam o preconceito, a intolerância e a discriminação a religiões de origem africana. Por isso, o órgão enviou recomendação ao Google no Brasil para que retirasse as gravações da internet.

Mas a empresa se negou a atender o pedido, afirmando que o material divulgado "nada mais é do que a manifestação da liberdade religiosa do povo brasileiro" e que os vídeos discutidos não violam as regras da empresa.

Diante da postura do Google, o MPF foi à Justiça para pedir a retirada dos vídeos. Mas o juiz não atendeu o pedido. "Os vídeos contidos no Google são manifestações de livre expressão de opinião", afirmou Araújo.

O procurador da República Jaime Mitropoulos já recorreu da decisão ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região.

"O ordenamento jurídico brasileiro estabelece que as relações sociais devem primar pela solidariedade, liberdade de crença e de religião, pelo respeito mútuo, pela consagração da pluralidade e da diversidade. A liberdade de expressar crença religiosa ou convicção não serve de escudo para acobertar violações aos direitos humanos, atacando ou ofendendo pessoa ou grupo de pessoas", afirma o procurador.

"Realmente não há uma hierarquia nem um código canônico que oriente as religiões de origem africana, mas isso não faz com que elas não sejam religiões. Além de serem religiões, o candomblé e a umbanda são filosofias de vida e manifestações culturais enraizadas no Brasil", afirmou Manoel Alves de Souza, presidente da Federação Brasileira de Umbanda.

Márcio Righetti, presidente da Associação Nacional de Mídia Afro, entidade que denunciou os vídeos ao MPF, classificou como "infeliz" a decisão do juiz.

"Essa intolerância tomou uma proporção absurda. A gente não pode conviver com isso com naturalidade. Hoje são (atacadas) as religiões africanas, amanhã podem ser os judeus, os católicos, os evangélicos", afirmou ao canal de TV Globonews.

São Paulo – Por conta da expressão “do Oiapoque ao Chuí” – que designa as extremidades do país de norte a sul – todos os brasileiros já ouviram falar na pequena cidade gaúcha de Chuí. Pois nenhum município brasileiro tem, proporcionalmente, tanta gente “sem religião ” na mesma área quanto a cidade de 6 mil habitantes, no extremo sul do país. Isso pode ser averiguado nas ruas com uma pesquisa informal: enquanto no Brasil somente uma em cada 12 pessoas não segue nenhuma doutrina religiosa, em Chuí, uma em cada duas pessoas se enquadra no grupo. E embora quase 90% da população brasileira seja católica ou evangélica , lá em Chuí a soma dos dois grupos atinge apenas 30%, conferindo a ela o título de menos cristã do país. Curiosamente, é também no Rio Grande do Sul que se localiza a cidade mais católica do Brasil. Especialistas acreditam que a convivência fronteiriça com o Uruguai,país onde a religião é menos predominante, tenha grande influência neste cenário. Mas Chuí não está sozinha. Clique nas fotos para conhecer outras 19 cidades brasileiras em que mais de um quarto dos cidadãos não se compromete com nenhuma religião, seja por optarem pelo ateísmo e agnosticismo, seja por seguirem sozinhos a própria espiritualidade. Apesar da posição de Chuí, 12 das cidades estão na região Nordeste . Os dados são do Censo 2010, do IBGE .
  • 2. 1) Chuí (RS) - 54% sem religião

    2 /20(Gilmar Mattos/Flickr)

  • Veja também

    População: 5.917 Sem religião: 54,04% (2.942 pessoas)
    Católicos: 22,82%
    Evangélicos: 7,26%
    Espíritas: 2,73%
    Umbanda e Candomblé: 1,45%
    Outras: 11,48%
  • 3. 2) Álvaro de Carvalho (SP) - 40% sem religião

    3 /20(Reprodução/YouTube)

  • População: 4.650 Sem religião: 40,12% (1.760 pessoas)
    Católicos: 42,68%
    Evangélicos: 13,17%
    Espíritas: sem registro
    Umbanda e Candomblé: sem registro
    Outras: 4,03%
  • 4. 3) Gaúcha do Norte (MT) - 38% sem religião

    4 /20(Divulgação/Prefeitura)

    População: 6.293 Sem religião: 38,65% (2.200 pessoas)
    Católicos: 45,02%
    Evangélicos: 15,5%
    Espíritas: 0,25%
    Umbanda e Candomblé: sem registro
    Outras: 0,58%
  • 5. 4) Roteiro (AL) - 37% sem religião

    5 /20(Mathieu Struck/Flickr)

    População: 6.656 Sem religião: 37,82% (2.221 pessoas)
    Católicos: 37,64%
    Evangélicos: 23,42%
    Espíritas: 0,26%
    Umbanda e Candomblé: sem registro
    Outras: 0,78%
  • 6. 5) Barra de Santo Antônio (AL) - 34% sem religião

    6 /20(Luis Morais/Guia Quatro Rodas)

    População: 14.230 Sem religião: 34,86% (4.477 pessoas)
    Católicos: 43,86%
    Evangélicos: 20,32%
    Espíritas: 0,27%
    Umbanda e Candomblé: sem registro
    Outras: 0,12%
  • 7. 7) Jaguaripe (BA) - 32% sem religião

    7 /20(Divulgação / TCM Bahia)

    População: 16.467 Sem religião: 32,28% (4.870 pessoas)
    Católicos: 46,22%
    Evangélicos: 17,09%
    Espíritas: 0,23%
    Umbanda e Candomblé: 0,87%
    Outras: 3,31%
  • 8. 8) Itanagra (BA) - 31% sem religião

    8 /20(Divulgação/Prefeitura)

    População: 7.598 Sem religião: 31,97% (2.207 pessoas)
    Católicos: 46,62%
    Evangélicos: 19,59%
    Espíritas: 0,36%
    Umbanda e Candomblé: 0,05%
    Outras: 1,42%
  • 9. 9) Paranhos (MS) - 30% sem religião

    9 /20(Reprodução/YouTube)

    População: 12.350 Sem religião: 30,73% (3.278 pessoas)
    Católicos: 48,36%
    Evangélicos: 18,36%
    Espíritas: 0,1%
    Umbanda e Candomblé: 0,08%
    Outras: 1,96%
  • 10. 10) Japeri (RJ) - 29% sem religião

    10 /20(Wikimedia Commons)

    População: 95.492 Sem religião: 29,56% (26.101 pessoas)
    Católicos: 26,87%
    Evangélicos: 37,86%
    Espíritas: 1,02%
    Umbanda e Candomblé: 0,32%
    Outras: 4,14%
  • 11. 11) Rio Formoso (PE) – 28,9% sem religião

    11 /20(Divulgação/Prefeitura)

    População: 22.151 Sem religião: 28,96% (5.873 pessoas)
    Católicos: 34,54%
    Evangélicos: 35,54%
    Espíritas: 0,05%
    Umbanda e Candomblé: 0,13%
    Outras: 0,77%
  • 12. 12) Itamari (BA) - 28,8% sem religião

    12 /20(Paulo Marcos/Flickr)

    População: 7.903 Sem religião: 28,81% (2.090 pessoas)
    Católicos: 46,53%
    Evangélicos: 22,77%
    Espíritas: 0,14%
    Umbanda e Candomblé: sem registro
    Outras: 1,76%
  • 13. 13) Santa Isabel do Rio Negro (AM) - 28,2% sem religião

    13 /20(Daniele Gidsicki/Flickr)

    População: 18.146 Sem religião: 28,27% (4.264 pessoas)
    Católicos: 59,41%
    Evangélicos: 9,37%
    Espíritas: sem registro
    Umbanda e Candomblé: sem registro
    Outras: 2,94%
  • 14. 14) Ibirapitanga (BA) - 28% sem religião

    14 /20(Reprodução Google Earth)

    População: 22.598 Sem religião: 28,01% (5.716 pessoas)
    Católicos: 50%
    Evangélicos: 19,95%
    Espíritas: 0,14%
    Umbanda e Candomblé: 0,25%
    Outras: 1,58%
  • 15. 15) Campestre (AL) - 27,9% sem religião

    15 /20(Reprodução/Google Street View)

    População: 6.598 Sem religião: 27,9% (1.668 pessoas)
    Católicos: 40,69%
    Evangélicos: 31,37%
    Espíritas: sem registro
    Umbanda e Candomblé: sem registro
    Outras: 0,04%
  • 16. 16) Arataca (BA) - 27,4% sem religião

    16 /20(Reprodução/YouTube)

    População: 10.392 Sem religião: 27,49% (2.569 pessoas)
    Católicos: 50,54%
    Evangélicos: 15,09%
    Espíritas: 0,2%
    Umbanda e Candomblé: 0,07%
    Outras: 6,62%
  • 17. 17) Catu (BA) - 27,3% sem religião

    17 /20(Cassio Goes/Wikimedia Commons)

    População: 51.077 Sem religião: 27,39% (13.004 pessoas)
    Católicos: 41,27%
    Evangélicos: 25,04%
    Espíritas: 0,49%
    Umbanda e Candomblé: 0,13%
    Outras: 5,68%
  • 18. 18) Capão do Leão (RS) - 27,2% sem religião

    18 /20(Eduardo Amorim/Flickr)

    População: 24.298 Sem religião: 27,2% (6.113 pessoas)
    Católicos: 38,62%
    Evangélicos: 25,39%
    Espíritas: 3,79%
    Umbanda e Candomblé: 2,17%
    Outras: 2,73%
  • 19. 20) Cardoso Moreira (RJ) - 26% sem religião

    19 /20(Reprodução/Google Street View)

    População: 12.600 Sem religião: 26,79% (3.160 pessoas)
    Católicos: 32,03%
    Evangélicos: 38,43%
    Espíritas: 0,97%
    Umbanda e Candomblé: sem registro
    Outras: 1,79%
  • 20. Agora, veja como as religiões se distribuem por capital

    20 /20(Stock.xchng)

  • Acompanhe tudo sobre:JustiçaPreconceitosRacismoReligião

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