Doria esteve em Curitiba para marcar território. Estado fechou apoio com Eduardo Leite. (Divulgação/Divulgação)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 6 de outubro de 2021 às 06h30.
Última atualização em 6 de outubro de 2021 às 11h15.
Pode faltar um ano, mas a corrida para as eleições de 2022 já começou e o pleito está mais próximo do que parece. Partidos se alinham, outros se fundem, e alianças estão em processo de construção. No PSDB, as prévias, que serão realizadas no dia 21 de novembro, vão definir o nome da legenda para disputar o Palácio do Planalto.
Dos três candidatos, dois estão praticamente empatados, segundo projeções, e o vencedor deve ser definido no voto a voto. De um lado, o governador de São Paulo, João Doria, e do outro, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Na semana passada, o senador pelo Ceará, Tasso Jereissati, desistiu de concorrer e declarou apoio a Leite. No jogo ainda está o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio.
Para tentar vencer, a principal estratégia da campanha de Doria é o olho no olho, como explica Wilsinho Pedroso, coordenador da campanha de prévias do governador paulista, que conta com cerca de dez pessoas envolvidas diretamente neste trabalho desde meados deste ano.
“O mais importante é criar relações. As prévias te dão a oportunidade de conhecer as pessoas, quem é o cara do partido que põe a mão na massa, que está na linha de frente. Como as prévias desembocam nas eleições, o partido já entra aquecido”, diz.
Wilsinho Predoso tem experiência quando fala de estratégias. Foi responsável por coordenar as prévias que elegeram Doria à prefeitura da capital paulista, em 2016, e ao governo de São Paulo, em 2018, e também para a reeleição de Bruno Covas, em 2020.
Por mais que a experiência conte, em uma campanha nacional tudo é diferente. As distâncias e as realidades de um país continental, são completamente diferentes de falar de bairros ou regiões estaduais.
Apesar de Doria governar e ter apoio no estado com maior peso na conta final da eleição - cerca de 25% -, as viagens são essenciais para falar com os correligionários, e principalmente ouvir, em busca de mais apoios. No roteiro já estiveram estados próximos a São Paulo, como Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso, e locais mais distantes, como o Pará.
“A política é olho no olho, pois você vê mais as questões sociais e comportamentais. A proximidade e a boa conversa de forma presencial são muito fundamentais”, afirma Wilsinho Pedroso.
Minas Gerais, o segundo em peso na disputa - aproximadamente 13,66% - já fechou questão em favor de Eduardo Leite. Mas nem por isso deixou de receber a visita de Doria. Na semana passada ele esteve em Belo Horizonte em um evento para 350 pessoas, em que tentou romper a barreira formada por Aécio Neves, que apoia o governador gaúcho.
Mesmo que estados já tenham fechado questão, a conta final para vencer as prévias do PSDB não é uma matemática simples. No total, os votos dos filiados contam como 25%, os deputados federais, senadores, vice-governadores e vice-governadores e ex-presidentes do partido somados também valem 25%, assim como o dos deputados estaduais. Já prefeitos e vereadores têm peso de 12,5%, cada, na escolha interna.
Ao caminhar pelo Brasil, Doria tem falado das experiências aplicadas em São Paulo e que podem ser feitas em todo o Brasil. O principal trunfo é ter trazido ao Brasil a primeira vacina contra a covid-19, a Coronavac, aplicada no dia 17 de janeiro. O imunizante foi, inclusive, alvo de embates entre o governador paulista e o presidente Jair Bolsonaro.
“O melhor que nós temos a oferecer é aquilo que estamos fazendo, é o Brasil que dá certo. Em São Paulo nós conseguimos a vacina. Foi o primeiro estado que trouxe a vacina, 100 milhões doses do Butantan foram distribuídas e aplicadas no país. Aqui não há espaço para negacionismo, aqui há espaço para a saúde e para a ciência”, diz Doria em entrevista à EXAME.
A vacina, desenvolvida em parceria com o laboratório chinês Sinovac, trouxe um holofote a Doria até com governadores de partidos de oposição. Há duas semanas, o Instituto Butantan fez a primeira entrega direta de vacina contra a covid-19 a cinco estados. O lote com 2,5 milhões de doses foi entregue ao Ceará, Espírito Santo, Pará, Piauí e Mato Grosso, em um evento com a presença dos chefes dos Executivos estaduais.
Outro argumento que Doria tem utilizado para convencer os eleitores do PSDB se refere a dados da economia. Na projeção do Ministério da Economia o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve crescer 5,3% em 2021, e o de São Paulo deve ter um salto de 7,8%. O número é próximo ao que deve crescer a China (8,1%) e os Estados Unidos (7%).
“O Brasil crescerá 5% porque 36% deste crescimento é de São Paulo. Aqui no estado geramos 713 mil empregos de janeiro a agosto. Mais de um terço dos empregos gerados no Brasil foram em São Paulo. O melhor espelho, o melhor portfólio que eu posso apresentar para convencer os eleitores do PSDB, e futuramente os eleitores do Brasil, é o que estamos fazendo em São Paulo”, afirma.
No debate para vencer as prévias, também há o argumento de voltar às origens do PSDB, quando pautou grandes reformas econômicas liberais, sobretudo com as privatizações.
“A estabilidade econômica é fundamental. É uma pauta econômica mais razoável. O PSDB tem muito a oferecer para a construção do Brasil trazer a inflação a um patamar melhor e sair dessa polarização”, avalia Marco Vinholi, presidente do partido em São Paulo, e secretário na gestão de Doria.
Muitos analistas políticos veem que as prévias do PSDB dão um gostinho do que deve ser a disputa ao Palácio do Planalto em 2022 pelo alto grau de rivalidade. Mas ao mesmo tempo em que nomes de peso aparecem, há uma divisão clara dentro do próprio partido, como avalia o cientista político André César, da Hold Assessoria.
“É uma novidade na cena na política brasileira essas prévias. E isso implica em alguns riscos, que o partido está dividido, mesmo Leite e Doria tendo apoiado Bolsonaro em 2018. Isso pode deixar sequelas muito grandes para o partido. O PSDB vem perdendo espaço e não consegue renovar lideranças”, diz André Cesar.
O governador paulista concorda que há uma grande disputa entre os candidatos, mas avalia que isso deixará o partido ainda mais forte.
“Isso fortalecerá o candidato que vencerá a partir do dia 21 de novembro para que ele tenha mais força e maior reconhecimento para formar a terceira via e ter a capacidade de dialogar com outros partidos, com humildade, mas legitimado pelas prévias para atender aquilo que deve ser a melhor via para o Brasil. Longe da extrema esquerda de Lula, longe da extrema direita com Bolsonaro”, afirma.