A demora na captura de Deibson e de Rogério e mesmo as pistas deixadas pelos dois deixam apreensivos moradores da zona rural de Mossoró
Agência de notícias
Publicado em 17 de fevereiro de 2024 às 10h29.
Última atualização em 17 de fevereiro de 2024 às 11h57.
A perícia da Polícia Federal (PF) concluída nesta sexta-feira na Penitenciária Federal de Mossoró (RN), onde dois presos fugiram na madrugada de quarta, indicou que eles contaram com mais do que uma “série de coincidências negativas”, como disse no dia seguinte o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. Foram encontrados objetos metálicos nas celas de Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça, usados para arrancar uma luminária e ampliar o buraco por onde fugiram.
A posse dos artefatos é uma violação ao protocolo de segurança do presídio de segurança máxima. Lewandowski afastou a direção da penitenciária no mesmo dia da fuga e nomeou um interventor, Carlos Luis Vieira Pires, que já dirigiu a penitenciária federal de Catanduvas (PR).
A avaliação da equipe que apura a fuga é que tanto a retirada da luminária quanto o buraco não tenham sido feitos de uma hora para outra, mas aos poucos, e ao longo de vários dias. A PF acredita que os presos usaram um lençol na ponta dos objetos para abafar o barulho com os preparativos para escapar.
A polícia investiga como um artefato metálico chegou aos presos, já que até as giletes de barbear usadas pelos detentos têm de ser devolvidas diariamente, e as canetas são entregues desmontadas. Pelo protocolo, as celas passam por inspeção diária durante o banho de sol dos detentos. Eles também têm de ser revistados todos os dias.
— Sem dúvida, houve falha de procedimento — afirmou à TV Globo o juiz corregedor da prisão, Walter Nunes — se as celas tivessem sido inspecionadas, não teríamos tido esse problema.
A PF apura se a fuga teve a a ajuda de um agente penitenciário ou operário de obras feitas na unidade. A perícia fez fotos do buraco na parede de uma cela por onde a dupla teria escapado. Foram recolhidos objetos com material genético para saber se mais alguém acessou o local onde estavam Deibson e Rogério.
Os indícios apontam que os dois fugitivos alcançaram o alto do prédio onde estavam, desceram por um poste e percorreram 75 metros até chegar ao ponto do alambrado onde fizeram outro buraco para escapar, com um alicate recolhido de um canteiro de obras próximo.
— Eles sabiam muito bem para onde estavam indo — avalia Nunes, que informou que a cerca cortada pelos dois não estava eletrificada como deveria.
A câmera de segurança que teria de captar imagens deste trecho percorrido não estava funcionando, segundo o corregedor. Além disso, os refletores do poste mais próximo do ponto em que eles deixaram a unidade estavam desligados por causa de um disjuntor desativado. Os refletores externos que ficam perto desta área por onde passaram Deibson e Rogério também não estavam ligados.
O juiz corregedor informou que eram feitas três obras no presídio: uma reforma da área do banho de sol, outra no alojamento dos policiais penais, e outra em uma área aberta na entrada do presídio, que iria ser fechada para climatização.
A demora na captura de Deibson e de Rogério e mesmo as pistas deixadas pelos dois deixam apreensivos moradores da zona rural de Mossoró e do município vizinho de Baraúna. Os dois teriam sido vistos por alguns destes moradores.
De acordo com o 2º Batalhão da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, foram encontradas duas camisas, uma rede e marcas no solo semelhantes às das solas das sapatilhas usadas pelos detentos. Também foram localizados na mata uma toalha e um lençol.
A marca de pegada foi encontrada nos arredores da Serra de Mossoró, que fica próxima ao Rancho da Caça, a sete quilômetros do presídio, onde uma casa foi furtada na manhã de quinta-feira. O arrombamento é um indício de que os dois teriam passado por este trecho da zona rural de Mossoró.
Mais de 300 policiais estão engajados nas buscas, em um raio de 15 quilômetros ao redor da penitenciária. As equipes contam com três helicópteros e drones que têm visão noturna e podem mapear pontos de calor, além de cães farejadores. O nome dos dois presos foi incluído na lista de difusão vermelha da Interpol, mas a expectativa das autoridades é capturar Deibson e Rogério ainda no Rio Grande do Norte.
Nos arredores do Rancho da Caça, há receio de que os foragidos voltem a arrombar casas para furtar mais mantimentos.
— O clima é de medo de eles entrarem nas casas, quererem roubar um veículo. Se correram para o parque, há muitas brechas, comunidades — contou Sandja Silva, referindo-se ao Parque Nacional da Furna Feia, a cerca de 1,5 quilômetros da autoescola em que trabalha em Baraúna.
Gerente de um estabelecimento comercial em Mossoró, Alexandre Medeiros diz que a maior preocupação é com a segurança do presídio:
— Estamos com medo de acontecer de novo — afirmou Medeiros.
A recepcionista Luana Dantas trabalha em uma área urbana, mas perto da zona rural de Mossoró, e diz que há mais apreensão para sair de casa:
— A gente não sabe o que pode acontecer. O que se ouve muito falar é que eles ainda estão na mata.
O Ministério da Justiça prorrogou na sexta a suspensão de banhos de sol, visitas e atividades educacionais, de trabalho e religiosas nos cinco presídios administrados pelo governo federal. A restrição vale agora até 21 de fevereiro. Também foi limitado o acesso às dependências das áreas de “vivências, isolamento e inclusão”, mas está mantido o atendimento de saúde e de advogados aos presos.