A deputada Tabata Amaral busca fortalecer candidaturas femininas e apoia mulheres de diversas siglas. As selecionadas para receber apoio são de 17 partidos distintos (Leonardo Prado/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 27 de setembro de 2020 às 10h24.
Última atualização em 29 de setembro de 2020 às 22h13.
Eleitos em 2018 na onda da renovação política, parlamentares de movimentos como RenovaBR, Livres e RAPS pretendem apoiar neste ano candidatos que não são de seus partidos. Eles afirmam que enfrentaram as urnas pela primeira vez sem a ajuda de padrinhos políticos e, agora, querem facilitar o caminho daqueles que, independente das siglas às quais estão filiados, compartilham de suas bandeiras. Dirigentes partidários se dividem entre dar carta branca à iniciativa e questionar o reforço a outras legendas.
Dois dos parlamentares que ampliaram a própria rede de apoio para além de seus partidos são os deputados federais Tabata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES). Eles estão distantes de seus partidos desde o ano passado, quando contrariaram a orientação das legendas na votação da reforma da Previdência. Mas ambos negam que tenha sido esta a motivação para construir um apoio suprapartidário em 2020.
Tabata busca fortalecer candidaturas femininas e apoia mulheres de diversas siglas. As selecionadas para receber apoio são de 17 partidos distintos, passando por PSOL, MDB e Republicanos. Três a cada quatro delas são de grupos de renovação. "Elas são ideologicamente diferentes, mas em termos de valores e trajetória têm muito em comum", disse a deputada.
Presidente do PDT, Carlos Lupi diz que toda iniciativa para incentivar mulheres é positiva, mas isso deve ser feito através das instituições partidárias. "Eu questiono quando a pessoa se elege pelo PDT e apoia candidatos de outros partidos. O que representa a sociedade são os partidos políticos", disse Lupi, que comanda o PDT há 15 anos. "A luta por mais mulheres na política não é partidária. Algumas lutas transcendem isso", argumenta Tabata.
Rigoni também lançou mão de uma estrutura ampla de apoio para as próximas eleições. No momento, ele conduz entrevistas com cerca de 40 pré-candidatos para escolher quem vai ajudar no processo eleitoral. Os avaliados pertencem a diversas siglas, como DC, PV PDT e Novo. "Eu não vou apoiar porque é do partido, vou apoiar porque a pessoa pensa como eu", diz.
Colega de partido de Rigoni, o deputado federal Rodrigo Coelho (PSB-SC) também tem conduzido apoio político em seu Estado de maneira suprapartidária. "Estou ajudando alguns colegas que vejo que têm perfil parecido com o nosso."
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, minimiza o apoio a candidatos de outras siglas e diz não se preocupar com a questão. "Nosso partido não depende da atuação deles", afirma.
Professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da FGV, a cientista política Graziella Testa pondera, no entanto, que as siglas podem ser menos relevantes em questões locais, como no caso das eleições municipais. "Quanto mais localizado, via de regra, menos o partido importa, porque as questões locais muitas vezes não estão abarcadas nas grandes questões partidárias."
É esta percepção que embasa o argumento do deputado federal Tiago Mitraud (Novo-MG), que também decidiu apoiar diversos pré-candidatos em 2020. Mitraud afirma que, nas cinco cidades de Minas onde o Novo terá candidatos, seu apoio ficou restrito a membros do partido. Nos demais municípios, ele pretende ajudar candidatos de 16 legendas distintas, de diferentes matizes ideológicos - da Rede ao PSL - escolhidos por meio de um processo seletivo. "Para a gente isso é menos determinante do que a qualidade do candidato", afirma.