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Nova eleição é inviável, mas Temer terá dor de cabeça

Falta de apoio deve emperrar eventual proposta para convocar novas eleições; base aliada estremecida preocupa


	Temer está tranquilo sobre pedidos de reedição de Diretas Já, mas sabe que governabilidade não está garantida
 (Beto Barata/PR)

Temer está tranquilo sobre pedidos de reedição de Diretas Já, mas sabe que governabilidade não está garantida (Beto Barata/PR)

Marcelo Ribeiro

Marcelo Ribeiro

Publicado em 9 de setembro de 2016 às 07h46.

Brasília — Após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), manifestações contra o governo efetivo do presidente Michel Temer (PMDB) ganharam força por todo o país. A maioria delas tem se destacado por pedir novas eleições - em uma tentativa de reeditar o movimento das Diretas Já,  que reivindicou eleições presidenciais diretas no Brasil nos anos 80.

Naquele momento, ainda que a proposta de emenda constitucional tenha sido rejeitada, os adeptos do movimento conquistaram uma vitória parcial, já que Tancredo Neves se tornou presidente por meio de eleição indireta, em 1985.

O desfecho dos recentes protestos, porém, não deve desencadear mudanças no comando do Palácio do Planalto, segundo especialistas consultados por EXAME.com. Para eles, o Congresso — que até o momento está fechado com Temer — não aprovaria a antecipação de uma corrida presidencial. 

O cientista político Lucas Aragão, da Arko Advice, afirmou que não há votos suficientes para que a proposta siga adiante. “Os partidos da base aliada estão descontentes com o novo governo, mas isso não é suficiente para que eles aprovem uma PEC que antecipa a eleição“, avaliou Aragão.

O especialista classificou como “improvável” uma eventual renúncia do peemedebista ou a cassação da chapa da campanha de Dilma e Temer na eleição de 2014 por irregularidades pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Essas seriam as possibilidades que determinariam a convocação de um novo pleito.

“A defesa das Diretas Já é uma narrativa adotada por aqueles que não entendem as regras. Além da falta de apoio, não há consistência jurídica legal constitucional nesse pedido”, opinou Aragão.

Aldo Fornazieri, cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp), prefere destacar a pouca legitimidade do governo Temer. Para ele, o peemedebista terá um governo de crise. 

“Ele não terá governabilidade e não conseguirá emplacar reformas necessárias para dar uma guinada na economia. O ajuste fiscal também não será tão amplo quanto o prometido“, disse Fornazieri, enumerando prováveis falhas do novo governo. 

O especialista da Fespsp acredita que a forte rejeição a Temer determinará o desembarque de boa parte da base aliada no curto prazo. “Presença do PSDB, do DEM e do PPS na base governista tem prazo de validade. Até 2017, eles pulam fora”. 

Aragão, por sua vez, destaca que toda base governista tem problemas, mas sinaliza que as alianças que Temer estabeleceu estão consistentes.

“Não é a base que está rachando. São os partidos que estão fragmentados. Quem se opõe a Temer, sabe que ele irá adotar medidas impopulares para colocar o país de volta aos trilhos”, disse Aragão, reforçando que governabilidade não será um problema para Temer. 

Segundo o cientista da Arko Advice, o Congresso é historicamente governista e só rachou em duas oportunidades, com os ex-presidentes Dilma e Fernando Collor. 

“Dilma não soube dividir o poder. Montou o bunker da resistência no Alvorada e não se sentou com aliados à mesa. Já Temer tem escutado quem está ao seu lado. Isso já é meio caminho andado para tudo dar certo˜, pontuou Aragão. 

Para Fornazieri, apenas um governo com aprovação e legitimidade conseguirá emplacar as medidas econômicas. “Agora é Temer quem está em uma prova de resistência. Mas quem está do outro lado é o povo e não os parlamentares”.

Veja também: Os fantasmas que assombram nova fase do governo Temer

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