Carro aparece com a seca da Represa de Jaguari, do sistema Cantareira, em Bragança Paulista (Roosevelt Cassio/Reuters)
Vanessa Barbosa
Publicado em 14 de outubro de 2014 às 13h14.
São Paulo – Em meio à pior crise hídrica vivida por São Paulo, um novo estudo mostra como o drama da torneira seca é também uma crise ambiental, que vai muito além do calor recorde e da pouca chuva.
Faz pelo menos 30 anos que a região da Cantareira possui quase 80% de sua vegetação nativa desmatada, aponta o levantamento feito pela Fundação SOS Mata Atlântica.
Apesar dos mananciais terem proteção legal, a degradação da cobertura vegetal dessas áreas de produção de água, tão necessárias para o sustento das cidades, avança a olhos vistos.
Atualmente, restam apenas 21,5% da cobertura original na bacia hidrográfica e nos 2.270 quilômetros quadrados do conjunto de seis represas que compõem o Sistema Cantareira, fonte de abastecimento para quase 10 milhões de pessoas e centro da crise hídrica paulista.
Na pesquisa, a degradação é atribuída à expansão urbana e atividades como agricultura, pecuária e silvicultura.
Os impactos do desmatamento em áreas de manancial são significativos. A floresta tem papel essencial na prevenção de secas, pois reabastece os lençóis freáticos e impede a erosão do solo e o assoreamento de rios.
Um dos problemas mais evidentes da supressão de mata nativa é a redução na recarga das águas subterrâneas, o que afeta a drenagem das águas de chuva. Sem as árvores, pouca água é absorvida pelo solo.
Segundo o estudo, o percentual de vegetação remanescente está abaixo do ideal para uma bacia hidrográfica produtora de água e também da totalidade necessária de áreas protegidas (incluindo Áreas de Preservação Permanente (APP), topos de morros e encostas) e reserva legal previstos na legislação.
O caminho para reverter esse quadro, de acordo com a ONG, passa, primeiramente, pela recuperação da cobertura vegetal nas áreas de mananciais e produtoras de água. No entanto, para fazer diferença, é preciso que o governo paulista implemente efetivamente instrumentos econômicos como o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e a cobrança pelo uso da água a todos os usuários.