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No Brasil, 52% trocariam instituições fortes por um salvador da pátria

Um terço dos entrevistados pela Ideia Big Data está descontente com a democracia no Brasil

Getúlio Vargas desfilando em carro aberto pelas ruas de Vitória, Espírito Santo em 1951 (Arquivo Nacional/Wikimedia Commons)

Getúlio Vargas desfilando em carro aberto pelas ruas de Vitória, Espírito Santo em 1951 (Arquivo Nacional/Wikimedia Commons)

Talita Abrantes

Talita Abrantes

Publicado em 7 de maio de 2018 às 09h50.

Última atualização em 7 de maio de 2018 às 16h01.

São Paulo – A história política nacional é repleta de exemplos de personalidades que chegaram ao poder prometendo "salvar a pátria". Apesar dos exemplos de efeitos negativos para a nossa democracia desse tipo de abordagem,  metade dos brasileiros ainda estariam dispostos a abrir mão da independência de instituições fortes, como o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional e a imprensa, em nome de um presidente capaz de resolver os problemas do país, segundo pesquisa exclusiva da Ideia Big Data, feita a pedido do site EXAME.

A sondagem foi feita por telefone entre os dias 20 e 24 de abril com 2005 pessoas de 93 cidades dos 27 estados brasileiros. A margem de erro é de 1,95% para mais ou para menos.

Apesar de a outra metade dos entrevistados se posicionarem de maneira contrária à ideia, os números revelam uma tendência do brasileiro de acreditar nesse tipo de discurso. O caso mais emblemático da  história recente é Getúlio Vargas, o "pai dos pobres" que comandou o país em dois momentos - a primeira vez durante 15 anos ininterruptos e, depois, por 3 anos e meio após eleições diretas.

Roberto Romano, professor emérito da Universidade Estadual de Campinas, afirma que a vitória desse tipo de retórica não terminou com o suicídio de Vargas em 24 de agosto de 1954. Segundo ele, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, João Goulart, os militares, Fernando Collor de Mello e até Luiz Inácio Lula da Silva se valeram, em graus mais ou menos profundos, dessa categoria de discurso para conquistar votos ou seguidores.

“Em momentos de crise econômica, política ou religiosa, essas lideranças oferecem a esperança muitas vezes enganosa de segurança do cotidiano”, afirma. Não é por acaso que as pesquisas de intenção de voto recentes apontam um bom desempenho de candidatos mais personalistas e defensores de propostas mais palátaveis para o grande eleitorado embora de resultado incerto.

Nesse sentido, a pesquisa também revela um elevado grau de descontentamento com o estado das coisas. Apesar de 88% dos entrevistados considerarem a democracia a melhor forma de governo, um terço deles admitiu que está insatisfeito ou muito insatisfeito com o sistema hoje no Brasil. 39%, por outro lado, declarou satisfação com a democracia brasileira atual e 29% afirmou ser indiferente ao assunto.

Para 64% dos ouvidos pela Ideia Big Data, a biografia dos candidatos a algum cargo público é mais importante do que as ideias que ele apresenta. Só 4% considera o partido relevante na hora de escolher em quem votar — mais um sinal do personalismo na política brasileira.

Por outro lado, a pesquisa mostra um paradoxo no posicionamento dos entrevistados. Apesar de 52% abrirem mão da independência de instituições fortes, apenas 21% concordam que a imprensa deveria ser regulada de alguma forma. Veja os dados:


Esta é a primeira de uma série de reportagens sobre a ascensão do populismo.

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