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Ninguém imaginava a amplitude dos desvios, diz presidente da Alerj

O petista André Ceciliano chegou à presidência da Assembleia em fevereiro de 2018, após a prisão do então presidente da Casa, Jorge Picciani

Assembleia Legislativa do Rio (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Assembleia Legislativa do Rio (Fernando Frazão/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 25 de maio de 2019 às 11h27.

Rio - Os recentes escândalos de corrupção que abalaram o País atingiram a Assembleia Legislativa do Rio como nenhuma outra no Brasil. O desmonte do esquema comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral levou à prisão os três políticos do MDB que comandaram a Casa de 1995 a 2017 - o próprio Cabral, Jorge Picciani e Paulo Melo.

Outros cinco deputados, eleitos em 2018, tomaram posse na cadeia e foram mantidos presos nesta semana pela Justiça Federal no Rio, que aceitou contra eles denúncia de recebimento de propina, compra de apoio político e loteamento de cargos.

Já outros 28 parlamentares são investigados por peculato e lavagem de dinheiro no esquema conhecido como "rachadinha", quando assessores devolvem parte do salário ao político. Entre os suspeitos, está o presidente da Assembleia, André Ceciliano (PT), cujos sigilos fiscal e bancário foram quebrados pela Justiça a pedido do Ministério Público. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) detectou movimentações atípicas de R$ 49 milhões nas contas de quatro pessoas vinculadas a seu gabinete.

Ceciliano se defende afirmando que confia no Ministério Público e no Tribunal de Justiça. "Já fui investigado, tenho ações, mas nunca foi condenado em nenhuma", disse ele em entrevista.

"No meu gabinete diziam que eram quatro assessores que teriam movimentado R$ 49 milhões. A gente se inteirou e, na verdade, são duas assessoras: uma que tinha uma empresa de material de construção e conta com o esposo, que era diretor financeiro de um grande hospital em Paracambi, e que, passada a eleição, convidei para trabalhar conosco. Ele entrou em fevereiro de 2011 e saiu em fevereiro de 2012, quando a esposa e sócia dele entrou."

O petista chegou à presidência da Assembleia em fevereiro de 2018, após a prisão do então presidente da Casa, Jorge Picciani, e do afastamento do sucessor Wagner Montes (PDT) por motivos de saúde - ele morreu em janeiro. Reelegeu-se para o cargo em fevereiro deste ano, com discurso moderado.

Ao falar, porém, do caso envolvendo Fabrício Queiroz, ex-assessor de hoje senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e acusado de movimentar de forma atípica mais de R$ 1,2 milhão, Ceciliano disse que "não há base legal" na versão apresentada por ele para justificar as transações.

Queiroz afirmou ao Ministério Público do Estado que fazia o "gerenciamento financeiro" de valores recebidos pelos demais servidores do gabinete. Em defesa apresentada por escrito, ele negou que tenha se apropriado desses valores, que, pela sua versão, eram usados posteriormente para ampliar a rede de "colaboradores" que atuavam na base eleitoral do parlamentar fluminense.

Ele afirmou ainda que, como acreditava estar agindo de forma lícita e dispunha da confiança de Flávio, "nunca reputou necessário expor" ao chefe "a arquitetura interna do mecanismo que criou".

"Não tem base legal aquilo (recolher parte do salário de assessores para pagar "assessores externos" por fora, sem vínculo com a Alerj)", disse Ceciliano.

Para o presidente da Assembleia, "algumas práticas a gente escutava, por exemplo, caixinha da Fetranspor" na Casa. "Acontecem depois as delações da Lava Jato, mas ninguém imaginou a amplitude, o tamanho desse negócio. Sou a favor da Lava Jato, só que tem de dar o direito à ampla defesa. Cada um que fez, sabe o que fez e tem de responder pelos seus atos."

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