Brasil

"Não esqueci da picanha": Lula fala sobre preço da carne e 'saidinhas' em conversa com jornalistas

Presidente também comentou sobre crise com o Congresso e afirmou que "não há divergências que não possam ser superadas"

Lula: em conversa com jornalistas, presidente fala sobre projeto das 'saidinhas' e preço da carne (Ricardo STUCKERT/AFP)

Lula: em conversa com jornalistas, presidente fala sobre projeto das 'saidinhas' e preço da carne (Ricardo STUCKERT/AFP)

Publicado em 23 de abril de 2024 às 12h42.

Última atualização em 23 de abril de 2024 às 12h44.

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se reuniu na manhã desta terça-feira, 23, para um café da manhã com jornalistas no Planalto, em Brasília (DF). Durante a conversa, Lula comentou sobre o preço da carne, o veto no projeto das 'saidinhas' e a relação com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP).

Preço da carne

Apesar de já ter caído após pouco mais de um ano de governo, Lula afirmou que o preço da carne "tem que baixar muito mais". A declaração foi dada em meio a uma resposta do presidente sobre promessas de campanha feitas em 2022.

"Eu não esqueci da cervejinha e da picanha. Eu ainda falo até hoje. O preço da carne já baixou, mas tem que baixar muito mais. Tudo isso está no nosso programa. Já fizemos a desoneração do Imposto de Renda até dois salários mínimos. Tenho compromisso de fazer até R$ 5 mil até o fim do meu mandato, e vou fazer", disse Lula.

O aumento na faixa de isenção do Imposto de Renda foi aprovado no Senado na semana passada e encaminhado à sanção presidencial.

'Saidinhas'

Sobre o projeto de lei das 'saidinhas', Lula defendeu seu veto em relação à parte que proibia as saídas temporárias de presos em regime semiaberto. Com isso, as 'saidinhas' estão mantidas para que detentos nesse regime possam visitar familiares.

"A família quer ver o cara que tá preso. Então, eu segui a orientação do Ministério da Justiça e vetei. Vamos ver o que que vai acontecer se o Senado derrubar, ou melhor, se o Congresso derrubar. É um problema do Congresso. Eu posso lamentar, mas eu tenho que acatar, tá?", afirmou.

Já o trecho que proíbe a saída temporária para condenados por crimes hediondos, caracterizados por violência ou grave ameaça, como estupro, homicídio, latrocínio e tráfico de drogas, foi sancionado. O projeto deve ir à votação às 19h nesta quarta-feira, 24. Uma ala do Congresso se movimenta para derrubar a decisão presidencial desde sua publicação.

"O que nós vetamos? A proibição de um cidadão ou cidadã que não tenha cometido crime hediondo, que não tenha cometido estupro, que não tenha cometido o crime de pedofilia e possa visitar os parentes. É uma coisa de família. A família é uma coisa sagrada. A família é a base principal de organização de uma sociedade", disse Lula.

A decisão de Lula de vetar o ponto principal do projeto de lei que restringe a 'saidinhas' de presos provocou insatisfação entre os líderes partidários do Poder Legislativo. O presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD), já sinalizou que o Congresso não concordaria com um veto, assim como líderes partidários.

A aprovação do projeto teve protagonismo de personagens ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro. No Senado, o texto foi relatado por Flávio Bolsonaro (PL), filho mais velho do ex-presidente, e na Câmara por Guilherme Derrite (PL), que é secretário estadual de Segurança Pública de São Paulo. Derrite é auxiliar do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Bolsonaro.

Mesmo sendo uma demanda da oposição, a bancada do PT no Senado votou em peso a favor do projeto, com exceção do senador Rogério Carvalho (PT). Apesar de a Câmara não ter registrado nominalmente os votos, deputados do PT também tinham se comprometido a votar a favor. Ao vetar, Lula faz um aceno à base de esquerda, historicamente contrária ao endurecimento penal, e um gesto de apoio ao ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.

Lula relata "conversa" pessoal com Lira

O presidente Lula ainda minimizou, durante o café da manhã com jornalistas, a crise com o Congresso e afirmou que "não há divergências que não possam ser superadas". Após conversa com Lira, no domingo, 21, o chefe do Executivo disse que os projetos que precisam ser aprovados vão avançar na Câmara e no Senado.

"Todas as coisas vão ser aprovadas e todas as coisas serão acordadas, na medida do possível, com a presença do líder do governo na Câmara, do líder do governo no Senado, no Congresso, com os ministros que são os ministros responsáveis pela matéria, com a participação obviamente da Casa Civil e do Ministro da Articulação Política. Isso vai acontecer, portanto, não tem nenhuma divergência que não possa ser superada."

O presidente acrescentou, como já fez em outros momentos, que é ele quem precisa dos parlamentares, e não o contrário: "Se não tivesse divergência, não haveria necessidade de a gente dizer que são três Poderes distintos e autônomos, cada um é dono do seu nariz."

Lula disse ainda que não é obrigado a dizer qual foi o conteúdo da sua conversa com Arthur Lira. Em encontro fora da agenda, Lula e Lira conversaram no domingo no Palácio do Alvorada em meio à crise entre governo e o Congresso, agravada pelo conflito entre Lira e o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT).

"Eu não tive uma reunião com Lira, eu tive uma conversa com Lira. É diferente de uma reunião. Se eu tivesse uma reunião, teria trazido meu líder da Câmara, meu líder do Congresso Nacional para poder fazer uma reunião sobre as coisas da Câmara. Foi uma conversa entre dois seres humanos, eu peço para vocês que não sou obrigado a falar sobre a conversa que tive com Lira", afirmou Lula.

Antes, Lula disse que se quisesse que o conteúdo das conversas com Lira saísse na imprensa, ele mesmo chamaria os jornalistas: "Com relação ao Lira, se eu fizesse uma reunião com Lira e quisesse que a imprensa soubesse, eu falaria para imprensa, não seria simples assim? Eu comunicaria a imprensa, quando eu fizer reunião com Lira, eu falo com vocês o resultado da nossa conversa."

O distanciamento da gestão Lula com o Legislativo se intensificou há dez dias, depois que Lira chamou Padilha de "incompetente” e “desafeto pessoal” e o acusou de tentar atuar sobre a decisão da Câmara da prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem-partido), suspeito de ser um dos mandantes da vereadora Marielle Franco.

Há expectativa que Lula se reúna agora com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD). A decisão de procurar Lira e Pacheco foi tomada por Lula na sexta-feira, 19, em uma reunião com ministros do núcleo político do Planalto e líderes do governo na Câmara, no Senado e no Congresso.

Lira já havia rompido o diálogo com Padilha, no fim do ano passado. Desde então, as conversas com o presidente da Câmara têm sido feitas pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), e com o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT).

*Com informações do Estadão Conteúdo e do O Globo

Acompanhe tudo sobre:Luiz Inácio Lula da Silva

Mais de Brasil

'Tentativa de qualquer atentado contra Estado de Direito já é crime consumado', diz Gilmar Mendes

Entenda o que é indiciamento, como o feito contra Bolsonaro e aliados

Moraes decide manter delação de Mauro Cid após depoimento no STF

Imprensa internacional repercute indiciamento de Bolsonaro e aliados por tentativa de golpe