"Não é reforma, estamos construindo um novo sistema tributário", diz Appy
Em evento da Confederação Nacional da Indústria e Esfera Brasil, secretário extraordinário da Reforma Tributária afirma que União irá aportar recursos para Fundo de Desenvolvimento Regional
Repórter de Agro
Publicado em 21 de junho de 2023 às 11h52.
Última atualização em 21 de junho de 2023 às 12h01.
É consenso entre os setores do Brasil que o modelo de tributação atual está ultrapassado. É por isso que o debate da Reforma Tributária, discutido há mais de 30 anos, precisa avançar para termos práticos. É o que defendem autoridades durante evento da Confederação Nacional da Indústria e Esfera Brasil, realizado nesta quarta-feira, 21, em Brasília, e transmitido pelaEXAME.
Bernard Appy, secretário extraordinário da Reforma Tributária, afirma que as diretrizes foram baseadas nas características dos melhores sistemas de tributação do mundo. A proposta coloca uma separação dos tributos entre o nível federal e estados e municípios, com modelo simplificado a nível nacional.
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Reginaldo Lopes (PT-MG), deputado e Coordenador do GT de Reforma Tributária na Câmara, diz que o Brasil arrecada impostos no mesmo nível de outros países da OCDE, mas ainda não destina os recursos para eliminar desigualdades.
“Vamos fazer uma reforma da simplificação, corrigir distorções e empoderar o povo brasileiro para exigir do estado brasileiro políticas públicas competentes e eficiência nos gastos públicos”.
A proposta, segundo Appy, é resumida em três pilares principais. “Base ampla de incidência sobre bens materiais, imateriais e serviços, que seja compatível com a nova economia do mundo; não acumular atividade plena de tributos, acabando com a distorção de tributos que são pagos ao longo da cadeia e não recuperados por falhas e o IVA cobrado no destino”, diz.
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Os termos colocados visam acabar com a guerra fiscal entre estados, pois da forma que acontece atualmente, a tributação na origem incide sobre a produção e não sobre o consumo, gerando uma série de distorções.
Fundo de Desenvolvimento Regional
Relator da reforma tributária na Câmara dos Deputados, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) aponta que seu relatório propõe uma fórmula de transição para que os benefícios tributários concedidos por Estados e municípios possam ser cumpridos até 2032, respeitando os contratos já assinados.
"Vamos cumprir a lei que garante os incentivos fiscais dos entes até 2032. Estamos conversando para que tenhamos essa transição. O principal problema do País é a falta de segurança jurídica, então mudar a regra agora seria um contrassenso. Por isso, precisamos calibrar uma transição que mitigue os efeitos da tributária", diz.
A expectativa é de que o relatório da Reforma Tributária seja divulgado na quinta-feira, 22, quando a cúpula da Câmara dos Deputados terá reunião com os governadores.
De acordo com Robson Braga de Andrade, presidente da CNI, há décadas o país não consegue crescer mais de 1%, em média, ao ano, resultado travado devido ao sistema tributário atual, que coloca as regiões em disputa.
“O Brasil precisa incentivar o desenvolvimento através de novos investimentos. Não só no Sul e Sudeste, mas precisamos fazer isso em todos os estados. Centro-oeste tem crescido com agroindústria, agricultura e pecuária. Precisamos fazer a mesma coisa no Norte e Nordeste”, afirma Robson Braga de Andrade.
É neste sentido, de incentivo regional, que a União deverá se responsabilizar pelo Fundo de Desenvolvimento Regional. De acordo com Bernard Appy, os recursos serão distribuídos até 2032 para estimular atividades produtivas, mas a destinação será feita “aos poucos”, pois demanda um período de transição.
“A União vai aportar os recursos do Fundo de Desenvolvimento Regional. Quem paga a conta é o povo brasileiro, mas ele paga para ele mesmo”, diz Appy.
Tributação setorizada
Ainda que o objetivo seja simplificar a tributação no território nacional, Aguinaldo Ribeiro, relator da Reforma Tributária, afirma que serviços de Saúde e Educação terão tratamento diferenciado em seu relatório, assim como a produção rural e o transporte coletivo.
"Vamos fazer o que o mundo faz. Alguns setores precisam de tratamentos específicos, porque não se pode aplicar o IVA diretamente, como bens imóveis. Esses temas estão endereçados nas diretrizes do grupo de trabalho e vamos contemplar no texto", diz Ribeiro.
Segundo ele, não haverá múltiplas alíquotas em seu parecer e o sistema deverá ter o mínimo de setores privilegiados para que a alíquota geral fique bem calibrada. "Não vamos abrir, como alguns defendem, muitas alíquotas. Isso faria com que nós aumentemos a carga tributária. Quando a gente sai isentando todo mundo, todo mundo paga a conta", afirma.