Nanicos se preparam para "ajuste fiscal"
Pelas novas regras, os repasses serão ínfimos para um punhado de legendas
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de outubro de 2017 às 11h17.
Última atualização em 7 de fevereiro de 2018 às 18h22.
São Paulo - A reforma política aprovada pelo Congresso obrigará os partidos nanicos a passar por um "ajuste fiscal". Pelas novas regras, os repasses serão ínfimos para um punhado de legendas. "Essa cláusula quase obriga o partido a atuar fora das instituições", protesta o presidente do PSTU , Zé Maria.
A cláusula a qual ele critica é a de desempenho. A partir das eleições de 2018, haverá uma barreira (um mínimo de votos necessários) para que um partido receba o recursos públicos do Fundo Partidário, aporte financeiro que as legendas registradas no TSE recebem anualmente.
O fundo já existia antes da reforma política, que criou um novo fundo, o chamado fundo eleitoral para financiar campanhas.
Pelo texto aprovado na reforma, para ter acesso ao fundo os partidos terão de obter 1,5% dos votos válidos em, no mínimo, um terço das unidades da federação. Em 2030, este porcentual subirá para 3%. Ou seja: os partidos que não conseguirem 1,5% dos votos válidos em 2018 ficam sem acesso ao Fundo Partidário, bem como ao tempo de rádio e TV no horário eleitoral.
"Vamos nos manter com a contribuição dos trabalhadores e com a militância do partido", disse Zé Maria. O PSTU recebeu R$ 2,4 milhões ao longo do ano de 2016, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O valor era proporcional ao número de votos obtidos pelo partido na eleição de 2014: 188.473 ou 0,19% do total dos votos válidos.
"Nós existimos há 23 anos na clandestinidade, mesmo sem o fundo o partido não vai acabar. Nós vamos continuar atuando politicamente", afirmou Edmilson Costa, secretário-geral do PCB, outro partido que deve ser atingido pela mudança eleitoral.
Aluguel de sedes
Segundo ele, o PCB, que tem 22 sedes espalhadas pelo Brasil, ainda não tem um projeto concreto de como gerar mais receitas caso a legenda perca, de fato, recursos do fundo. De acordo como secretário-geral do partido, o dinheiro do fundo é usado para custear viagens, aluguel de sedes pelo País e salários de funcionários.
"O que recebemos não é grande coisa", disse. Em 2016, o PCB recebeu cerca de R$ 1,5 milhão. Só o PCO, outro "nanico", recebeu R$ 1,1 milhão no mesmo ano. Nenhum deles atingiria 1,5% dos votos válidos em 2018 caso repitam o desempenho de 2014 nas urnas.
O corte de recursos deve ser maior aos chamados partidos médios, como o Avante (ex-PT do B). Graças aos votos (808 mil) nesta legislatura, o partido recebeu R$ 7 milhões. Esse número de votos, porém, não seria suficiente para superar a cláusula de desempenho em 2018.
Em nota, o Avante afirma sua meta para 2018 é obter votos necessários para ultrapassar a nova nota de corte. "O projeto contempla forte bancada de forma a superar a cláusula de barreira recém criada, mantendo assim todos os direitos, inclusive acesso ao Fundo Partidário."