Mulher faz greve de fome para receber pílula anticâncer
O composto, desenvolvido pesquisadores da USP, vinha sendo distribuído há 20 anos, mas a demanda se tornou mais intensa por conta de relatos de supostas curas
Da Redação
Publicado em 20 de outubro de 2015 às 13h30.
São Carlos - A técnica de enfermagem Ana Rosa Natale, de 54 anos, iniciou uma greve de fome em frente ao Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) , câmpus de São Carlos, na tentativa de receber as cápsulas de fosfoetanolamina sintética para o filho com câncer.
Moradora de Botucatu, também no interior paulista, ela estava desde as 7 horas da manhã de segunda-feira, 19, sem comer. "Se não levar o remédio para meu filho, prefiro morrer com ele", disse. Uma irmã e outro filho davam apoio à mulher.
O paciente, o músico Bruno Cauã Ramos, foi diagnosticado com câncer de pele em 2011 e se tratou, mas a doença voltou de forma agressiva em janeiro deste ano, segundo Ana relatou.
"Fizemos quimioterapia em Jaú, mas não adiantou, os exames apontaram treze tumores na cabeça. Acharam melhor parar o tratamento e mandaram ele para morrer em casa", disse.
Ela exibia a liminar, dada pela Justiça de São Carlos, e leu um trecho do despacho em que o juiz decide: "Ainda que a possibilidade de cura seja remota, esta não pode ser negada à autora." Segundo a sentença, embora a substância não tenha sido aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), há vários relatos de que ela promoveu melhoria no estado de saúde dos doentes.
O empresário Christian da Gama também estava na entrada do instituto com uma liminar datada de 15 de setembro. Ele viajou de Manaus na tentativa de antecipar o acesso às cápsulas. "Minha mãe está doente, desenganada. Não posso ficar em casa esperando", disse.
Judicialização
Somente na segunda-feira, até a tarde, 25 novas liminares foram entregues ao instituto da USP. Em todos os despachos, a Justiça mandou fornecer as cápsulas da fostoetanolamina sintética aos pacientes.
O composto, desenvolvido pesquisadores da USP, vinha sendo distribuído há 20 anos, mas a demanda se tornou mais intensa por conta de relatos de supostas curas. Sem condições de manter as entregas, a USP suspendeu a distribuição, mas os doentes recorreram à Justiça.
A instituição mantinha nesta segunda-feira a decisão de enviar as cápsulas pelos Correios, de acordo com a ordem de chegada. Estão sendo entregues pedidos protocolados antes de 15 de setembro.
A administradora, que pediu para não ter seu nome divulgado, pois já foi ameaçada de morte, disse que está sendo impossível atender com rapidez à "enxurrada" de liminares. "Nossa produção é suficiente para atender 100 pessoas por semana com 60 cápsulas cada, mas estamos recebendo de 40 a 50 liminares por dia", disse.
Em nota, a USP informou que as decisões judiciais são cumpridas de acordo com a chegada das liminares e a capacidade de produção.