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Mulher empurrada diz que cria coragem para voltar ao Metrô

"Quando vi, estava debaixo", diz a jovem, que foi jogada para o fosso da estação Conceição do Metrô na tarde de terça-feira

Metrô: ela diz ter visto e sentido passarem quatro vagões sobre o seu corpo antes do metrô parar (Sergio Berenovsky/Dedoc/Reprodução)

Metrô: ela diz ter visto e sentido passarem quatro vagões sobre o seu corpo antes do metrô parar (Sergio Berenovsky/Dedoc/Reprodução)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 10 de janeiro de 2018 às 22h09.

São Paulo - Como outras tantas pessoas a sua volta, Jussara Araújo de Souza, de 23 anos, mexia no celular ao aguardar a chegada do metrô. Enquanto conversava pelo WhatsApp com a cunhada e o marido, sentiu um forte empurrão vindo de trás. "Quando vi, estava debaixo", diz a jovem, que foi jogada para o fosso da estação Conceição do Metrô na tarde de terça-feira, 9, pelo faxineiro Sebastião José da Silva, de 55 anos.

Jussara caiu de bruços em direção aos trilhos, no qual conseguiu inclinar o rosto e vê-lo passar durante alguns segundos. "Morri", pensou. "Nem sabia quer era um homem ou uma mulher (o autor do crime), fiquei sabendo só depois, em casa, quando vi na televisão", comenta.

Pouco mais de 24 horas após o incidente, a atendente vai passar pela mesma plataforma do Metrô ainda nesta quarta-feira. "Ainda estou criando coragem", diz.

Por estar com muita dor, ela vai refazer a viagem nesta para se consultar no médico do local em que trabalha. "Preciso de repouso, mas só deram um dia de atestado. Não tenho condições de voltar", comenta.

No momento do empurrão, Jussara se encaminhava para o trabalho, próximo à estação Marechal Deodoro do Metrô. Há seis meses ela começou a realizar o percurso, de quase 20 quilômetros: partindo de ônibus de Americanópolis, na zona sul de São Paulo, até a estação Conceição da Linha 1-Azul do Metrô, da qual segue até o centro da cidade. O caminho é o mesmo que repetirá nesta quarta-feira, junto do marido. "Vai ter de ser o mesmo caminho. Não tem outro jeito de ir", lamenta ela.

Sobre o incidente, ela diz ter visto e sentido passarem quatro vagões sobre o seu corpo antes do metrô parar. Depois disso, quatro bombeiros desceram e a colocaram na margem do fosso, enquanto para que os demais vagões passassem. "Sentia muita dor na perna (esquerda) e no braço (direito)", lembra ela, que foi colocada em uma maca e encaminhada para o Hospital Municipal Doutor Arthur Ribeiro de Saboya, de Jabaquara, na região sul do País.

Devido às escoriações, Jussara levou 30 pontos na perna esquerda e teve alta apenas às 22 horas, quase 8 horas após ter sido empurrada. "Estou cheia de hematomas, na testa, nos braços, nas pernas", lembra ela, que tem três filhos, de 11 meses, de 4 e 6 anos.

Sobre o agressor, ela espera que continue preso. "Eu escapei, mas ele pode fazer outra vítima", aponta. "A gente nunca acha que vai acontecer com a gente."

Segundo o boletim de ocorrência, Sebastião José da Silva alegou ter empurrado a vítima após ter ouvido "vozes". Ele foi imobilizado por passageiros próximo à plataforma e, em seguida, foi preso. O crime foi registrado na Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), localizado no terminal Palmeiras-Barra Funda.

Proteção

Para Jussara, a instalação de portas de proteção na estação, como ocorre na Linha 4-Amarela, seria uma forma de evitar novos incidentes. "É perigoso", resume. Por meio de nota, o Metrô informou que deve concluir ainda em janeiro as tratativas para instalar portas de proteção em todas as estações "de maior demanda" da Linha 1-Azul e da Linha 3-Vermelha.

"Em setembro do ano passado, o Metrô iniciou um processo de negociação com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para abertura de uma linha de financiamento para implantação de portas de plataforma", informou, sem especificar quais seriam as estações.

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