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Múcio ligou apavorado após dizer que licitação do Exército travou por questões ideológicas, diz Lula

Presidente relatou episódio envolvendo a compra feita pelo Ministério da Defesa de 36 veículos blindados feitos por Israel

Agência o Globo
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Publicado em 11 de outubro de 2024 às 10h19.

Última atualização em 11 de outubro de 2024 às 11h28.

Após o ministro da Defesa, José Múcio, afirmar que “questões ideológicas” impediram a conclusão de uma licitação feita pelo Exército brasileiro para a compra de 36 veículos blindados obuseiros 155 mm de uma empresa israelense, Lula afirmou que a declaração não afeta sua relação com o ministro e garantiu sua permanência no governo.

Lula deu a declaração durante entrevista nesta sexta-feira à rádio O Povo/CBN. Lula está em Fortaleza para eventos do governo, como a entrega de unidades do Minha Casa Minha Vida e ônibus escolares, e também para agendas de campanha. No fim da tarde, ele vai participar de um comício do candidato do PT na capital cearense, Evandro Leitão.

"O ministro José Múcio me ligou apavorado porque achava que falou alguma coisa que não deveria ter falado. Eu falei 'José Múcio não se preocupe, aquilo que a gente falou já está falado, já foi explorado, esqueça, toca o barco para frente' [...] 'Você não vai perder um centímetro de importância comigo por causa disso'. Sou muito amigo dele. Não abalou em nada a permanência dele no Ministério da Defesa".

Na terça-feira, durante um evento na Confederação Nacional da Indústria (CNI), Múcio afirmou:

"Houve agora uma concorrência, uma licitação, venceram os judeus, o povo de Israel. Mas por questões da guerra, do Hamas, os grupos políticos, não estamos com essa licitação pronta, mas por questões ideológicas, nós não podemos aprovar. O TCU não permitiu dar ao segundo colocado e nós estamos aguardando que essas questões passem, para que a gente possa se defender".

O assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, tentava convencer Lula a não assinar contrato com a Elbit Systems, que venceu a licitação de R$ 1 bilhão em abril para a compra de veículos equipados com obuses capazes de disparos de grande alcance e precisão com munição calibre 155mm, sob o argumento de o governo israelense ter ofendido o presidente brasileiro. Desde então, o processo está parado.

O atraso na assinatura do contrato com a Elbit incomodou o Ministério da Defesa. A compra previa a entrega de dois blindados como amostras até 2025 e outros 34 em lotes anuais até 2034. A aquisição faz parte do projeto para ampliar a capacidade da infantaria, dentro de um programa que recebe investimentos do Exército desde 2017.

Em outro momento no evento, Múcio falou sobre um “embaraço diplomático” envolvendo a guerra na Ucrânia.

"Temos uma munição aqui no Exército que não usamos. A Alemanha quis comprar. Está lá, custa caro para manter essa munição. Fizemos o negócio, um grande negócio. Não faz porque senão o alemão vai mandar para a Ucrânia, a Ucrânia vai usar contra a Rússia e a Rússia vai mexer nos nossos acordos de fertilizantes", declarou.

Compra de avião

Lula também afirmou nesta quinta-feira que após a pane técnica em seu avião no retorno do México, o governo federal vai comprar novos aviões para a presidência e para os ministros. Lula afirmou que não pode o presidente da República "correr riscos". Lula deu detalhes sobre o voo e afirmou que "é uma vergonha o Brasil não se respeitar", ressaltando a importância da segurança das autoridades institucionais.

"Desse problema tiramos uma lição. Vamos comprar não apenas um avião, mas é preciso comprar alguns aviões, porque o Brasil, um país grande, a gente ser pego de surpresa? Então vamos preparar. Eu pedi para o ministro da Defesa que me fizesse uma proposta, vamos comprar um avião para o presidente da República entendendo que a ignorância não pode prevalecer. O avião para o presidente da República, não é para o Lula, Bolsonaro, FHC, é para instituição, quem quer que seja eleito".

A aeronave presidencial de Lula sofreu um problema técnico logo após a decolagem do México em direção ao Brasil. A aeronave declarou emergência e precisou ficar andando em círculos durante 4 horas para queimar combustível e pousar em segurança.

"Foi a primeira vez que eu passei a situação essa [...] Mas o que aconteceu é que quando a gente estava na pista, o barulho já estava diferente e quando levantou voo aconteceu alguma coisa porque o avião estava com um ronco diferente, uma tremedeira, e eu logo levantei para ir saber com o piloto o que estava acontecendo. Disseram que íamos ficar circulando por duas horas até esvaziar um pouco o tanque. Depois das duas horas eu voltei para perguntar "e agora?". "Vamos ficar mais duas horas e meia".

Lula contou ainda que fez uma "brincadeira estúpida" com a comitiva no momento de tensão:

"Obviamente que o pessoal fica preocupado. Eu pedi para servir o almoço para o pessoal comer. Até fiz uma brincadeira estúpida dizendo que era preciso comer porque a gente não sabia se ia ter comida no céu, então vamos comer enquanto tem aqui, mas graças a Deus o avião pousou normal".

O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Damasceno, afirmou que não houve desligamento do motor ou da turbina e que a investigação sobre o ocorrido ainda está em curso. Uma das hipóteses iniciais era que o problema teria sido causado por um pássaro, mas Damasceno afirmou que não houve indício na perícia inicial que confirmasse essa teoria.

"Não houve (nenhum momento de desligamento de turbina e motor). Nada, nada. Como qualquer incidente, fazemos a investigação, está previsto isso. Não temos indicação de ingestão de pássaros. Mas pode ser. Sempre que a vibração no motor da trepidação na estrutura é indicação de desprendimento de peça, ingestão de pássaro. Quero o mais rápido possível ter um relatório preliminar para saber".

Dezesseis pessoas estavam a bordo do avião, uma versão adaptada do A-319 da Airbus. Entre eles, a primeira-dama Janja da Silva, os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Cida Gonçalves (Mulheres), o indicado para a presidência do Banco Central, Gabriel Galípolo, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Neto e assessores.

De acordo com o Datafolha, o segundo turno em Fortaleza começou acirrado: André Fernandes (PL) tem 47% das intenções de voto, em empate técnico com Leitão, que aparece com 45%. Fernandes é apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, enquanto o petista conta com o apoio de Lula e do ministro da Educação, Camilo Santana, que tirou férias para se engajar na campanha.

Roteiro no segundo turno

Auxiliares de Lula montaram um roteiro para a participação do presidente no segundo turno das eleições municipais deste ano. A expectativa é que o petista tenha, pelo menos, um dia de sua agenda para atividades de campanha nas cidades de São Paulo, Porto Alegre, Fortaleza e Cuiabá. Natal, onde o PT também disputa o segundo turno, deve ficar fora.

No primeiro turno, a ausência de Lula na campanha frustrou aliados, que contavam com o presidente para alavancar suas candidaturas. Lula ainda não definiu se irá a todas as cidades da agenda apresentada.

Na tarde de quarta-feira, foi definido que Lula fará um comício em Fortaleza no começo da noite desta sexta. Por causa disso, o presidente cancelou um compromisso de governo que teria em Belém no mesmo dia. Ele faria uma visita às obras do Parque da Cidade voltadas para a COP-30, que ocorrerá no ano que vem.

Na capital cearense, o candidato do PT, Evandro Leitão, vai enfrentar no segundo turno o representante do PL, André Fernandes, que é apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Para a próxima semana, os auxiliares de Lula programam uma atividade de campanha com o candidato petista em Cuiabá, Lúdio Cabral, que enfrenta o também bolsonarista Abilio Brunini (PL). Na mesma viagem, o presidente deve participar de um evento de governo na Universidade Federal do Mato Grosso.

Em seguida, está prevista a ida de Lula a Porto Alegre para reinauguração do Aeroporto Salgado Filho, que está fechado desde as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, em maio. Na ocasião, deve ser marcado um ato de campanha com a candidata petista na capital gaúcha, Maria do Rosário, que enfrenta o atual prefeito, Sebastião Melo (MDB), no segundo turno.

O ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta, tenta convencer Lula a também realizar atividades de campanha em Santa Maria e Pelotas, cidades gaúchas onde o PT disputa o segundo turno com Valdeci Oliveira e Fernando Marroni, respectivamente. Pimenta é natural de Santa Maria.

No dia 19, sábado, estão programadas duas atividades de Lula com o candidato do PSOL em São Paulo, Guilherme Boulos, que tem como adversário no segundo turno o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB).

A campanha de Boulos ainda tem expectativa de mais uma agenda na véspera do segundo turno, no dia 26, mas o presidente só deve chegar da Rússia, onde participará da cúpula dos Brics na véspera, o que pode inviabilizar a sua presença.

Divergências na estratégia de Boulos

O PT ainda diverge sobre a melhor estratégia para levar Boulos à vitória. Uma ala vê necessidade de o candidato adotar um perfil mais combativo e que converse com parte dos eleitores de Pablo Marçal, eu ficou em terceiro lugar. Outra acredita na necessidade de focar no eleitor que votou em Lula em 2022 na cidade de São Paulo, mas que optou por Ricardo Nunes no último domingo. Pesquisas internas da campanha apontam que o deputado não atinge toda parcela de eleitores de Lula e entendem que é nessa margem que a estratégia do candidato deve focar. Para chegar nesse eleitor, petistas entendem que Boulos precisa falar nos programas sociais criados por Lula somados às iniciativas que ele mesmo pretende criar, se for eleito.

Outro aspecto apontado como importante é a necessidade de reproduzir a imagem de frente ampla feita em 2022, com o engajamento direto do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Márcio França em eventos ao lado de Boulos.

Pelo roteiro traçado por seus auxiliares, a única capital em que o PT disputa o segundo turno que não deve receber a visita de Lula é Natal. Na campanha da candidata do partido, Natalia Bonavides, porém, ainda há expectativa de que o presidente vá à capital potiguar em algum momento. A deputada esteve com Lula nesta quarta-feira e reforçou o pedido.

No primeiro turno, Lula gravou dois vídeos para a campanha de Bonavides. Integrante de uma corrente minoritária no PT, a articulação de esquerda, Bonavides teve um desempenho que surpreendeu a legenda. Pesquisas indicavam que a petista ficaria em terceiro lugar, atrás de Paulinho Freire (União Brasil) e Carlos Eduardo (PSD), que foi superado pela deputada nas urnas. Bonavides é a única mulher do PT a disputar capitais no segundo turno e em 2022 foi a deputada federal eleita com mais votos no Rio Grande do Norte.

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