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MPF quer apuração de supostos crimes financeiros de Eike

Pedido foi embasado nas conclusões do relatório de acusação elaborado pela CVM de que Eike sabia sobre inviabilidade de poços meses antes do anúncio oficial

Eike, no IPO da OGX, em 2008: área técnica da CVM concluiu que Eike deve ser responsabilizado por negociar ações com uso de informação privilegiada (FERNANDO CAVALCANTI)
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Da Redação

Publicado em 14 de abril de 2014 às 22h15.

Rio - O Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro solicitou que a Polícia Federal instaure um inquérito para apurar a suposta prática de crimes financeiros pelo empresário Eike Batista, enquanto controlador da petroleira OGX . O pedido foi embasado nas conclusões do relatório de acusação elaborado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), encaminhado ao MPF em 19 de março.

A Superintendência de Relações com Empresas da CVM sugeria em seu relatório que "tendo em vista os indícios de crime de ação penal pública" o resultado das investigações fosse comunicado ao MPF.

O caso seguiu para a Superintendência da Polícia Federal no Rio no último dia 7, após a curadoria criminal do MPF concluir que é preciso aprofundar as investigações. Só depois o processo voltará a um procurador federal, a quem caberá arquivar o caso ou fazer a denúncia. Assim, o episódio pode extrapolar a esfera administrativa da CVM e trazer consequências penais ao empresário.

Após analisar documentos da OGX e a venda de papéis da companhia por seu controlador, a área técnica da CVM concluiu que Eike deve ser responsabilizado por negociar ações com uso de informação privilegiada, manipulação de preços e prática não equitativa. Os dois primeiros são crimes contra o mercado de capitais e preveem pena de prisão de um até oito anos, além do pagamento de multa de até três vezes o valor da vantagem ilícita.

O grupo EBX afirma que "em nenhum momento houve má fé ou uso de informação privilegiada pelo controlador da OGX". O caso ainda não foi julgado pelo colegiado da CVM, onde Eike tem até 14 de maio para encaminhar sua defesa.

São Paulo – Expectativas frustradas, crise de confiança, derrocada das ações, processos de acionistas, recuperação judicial, dentre outros. A lista de problemas é grande – e as perdas também. Nos últimos dois anos, o Grupo EBX colecionou más notícias e Eike Batista viu suas empresas perderem em torno de 57 bilhões de reais em valor de mercado. Colocando na conta as perdas da CCX, que estreou apenas em maio de 2012 na Bovespa, a desvalorização de seu império aumenta para 58 bilhões de reais. O que era para funcionar como uma grande engrenagem devido àinterdependência das companhias, acabou se transformando em colapso. Confira a seguir o desempenho de cada empresa X, segundo dados da Economatica.
  • 2. OGX (OGXP3)

    2 /8(RUI PORTO FILHO)

  • Veja também

    Valor de mercado em de novembro de 2011: R$ 46,6 bilhões
    Valor de mercado em de novembro de 2013: R$ 485 milhões
    A OGX precisa de 150 milhões de dólares até janeiro de 2014 para quitar seus compromissos, segundo reportagem do Valor Econômico. A petrolífera de Eike Batista pediu recuperação judicial em 30 de outubro.
  • 3. OSX (OSXB3)

    3 /8(Divulgação)

  • Valor de mercado em de novembro de 2011: R$ 3,8 bilhões
    Valor de mercado em de novembro de 2013: R$ 159 milhões
    Depois da OGX, a OSX também se encontrou na iminência de um pedido de recuperação judicial. Além disso, o Conselho da OSX demitiu Marcelo Gomes do cargo de diretor-presidente e elegeu Ivo Dworschak Filho para a posição. Ele acumulará a nova atribuição com a de diretor de Construção Naval. O pedido era amplamente esperado e foi aprovado pelo Conselho de Administração em caráter de urgência.
  • 4. MMX (MMXM3)

    4 /8(Douglas Engle/Bloomberg News.)

    Valor de mercado em de novembro de 2011: R$ 4,44 bilhões
    Valor de mercado em de novembro de 2013: R$ 672 milhões
    A companhia de mineração fundada por Eike Batista anunciou recentemente a venda da MMX Chile, sua subsidiária naquele país. O negócio agora pertence a Cooper Mining, que pode pagar até 40 milhões de dólares pela aquisição da empresa.
  • 5. Eneva (Ex-MPX) (ENEV3)

    5 /8(Divulgação)

    Valor de mercado em de novembro de 2011: R$ 5,3 bilhões
    Valor de mercado em de novembro de 2013: R$ 2,5 bilhões A Eneva , ex-MPX, assinou um contrato juntamente com a Cambuhy Investimentos e com a E.ON, para investimento na OGX Maranhão, unidade da OGX Petróleo e Gás, que permitirá à companhia dar prosseguimento às operações e projetos de exploração. Pelo acordo, o investimento será realizado via aumento de capital na OGX Maranhão, no qual a Cambuhy subscreverá ações equivalentes a 200 milhões de reais e a E.ON participará com 50 milhões de reais. A Cambuhy tem entre os sócios a família Moreira Salles.
  • 6. LLX (LLXL3)

    6 /8(Divulgação)

    Valor de mercado em de novembro de 2011: R$ 2,6 bilhões
    Valor de mercado em de novembro de 2013: R$ 2,1 bilhões A LLX informou recentemente que o executivo Marcus Berto renunciou aos cargos de diretor presidente e diretor de Relações com Investidores, que acumulava desde novembro de 2012. Berto foi decisivo na negociação com o fundo EIG Global Energy Partners, que no início do mês, concluiu o processo de aquisição da empresa de logística de Eike Batista, iniciado em agosto.
  • 7. CCX (CCXC3)

    7 /8(Lilian Sobral / Exame.com)

    Valor de mercado em de maio de 2012: R$ 1,4 bilhão
    Valor de mercado em de novembro de 2013: R$ 172 milhões A CCX Carvão da Colômbia anunciou que sua controlada indireta CCX Colombia celebrou um memorando de entendimentos com a companhia turca Yildirim Holding A.S. para a venda de ativos. Foram estabelecidos os termos e condições para a venda dos projetos de mineração a céu aberto Cañaverales e Papayal pelo valor aproximado de US$ 50 milhões e do projeto de mineração subterrânea de San Juan, incluindo o projeto de infraestrutura logística (ferrovia e porto), por cerca de US$ 400 milhões.
  • 8. Veja agora 10 bons filmes sobre bolsa de valores

    8 /8(Divulgação/FOX Filmes)


  • Os crimes contra o mercado de capitais estão previstos na Lei 6.385/76, que dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e criou a CVM. A prática de "insider trading" passou a ser crime em 2002, após uma reforma da lei. Ela pode levar à reclusão por um período de um a cinco anos. Já a manipulação de preços de mercado tem punição mais rígida: prisão de um a oito anos.

    A primeira e única condenação penal no Brasil por "insider" aconteceu em 2011, contra dois ex-executivos da Sadia. O ex-diretor de Finanças e Relações com Investidores Luiz Gonzaga Murat Júnior e o ex-conselheiro de administração Romano Ancelmo Santana Filho foram condenados a mais de dois anos de reclusão.

    Nos dois casos, porém, as penas foram substituídas por prestação de serviços à comunidade e proibição do exercício do cargo de administrador de companhia aberta até o fim da pena, além do pagamento total de R$ 724,6 mil em multas.

    Documentos obtidos pela área técnica da CVM indicam que o controlador do grupo X sabia da inviabilidade econômica de campos de petróleo de Tubarão Tigre, Tubarão Areia e Tubarão Gato, na Bacia de Campos, ao menos nove meses antes do fato ser comunicado ao mercado, em 1º de julho de 2013. Relatório da área de reservatórios da OGX de 2011 já apontava que os campos "sinalizavam volumes e compartimentação muito diferentes da interpretação inicial" divulgada.

    A empresa decidiu então contratar a consultoria Schlumberger, que confirmou um volume de petróleo menor nos campos e a redução do fator de recuperação de óleo de 20% para 7,3% no pior cenário. O estudo mostrou ainda que o projeto exigia aporte de US$ 4 bilhões que, combinado à baixa curva de produção, resultava num Valor Presente Líquido negativo de mais de US$ 1 bilhão.

    As análises da Schlumberger foram apresentadas à diretoria da OGX em 24 de setembro de 2012. A avaliação da CVM foi que como controlador, ex-presidente da petroleira e depois líder de seu conselho de administração Eike conhecia os dados não divulgados aos demais investidores e se beneficiou disso.

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