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Morre Jorge Picciani, ex-presidente da Alerj

Ex-deputado tinha 66 anos e lutava contra um câncer na bexiga

JORGE PICCIANI: presidente da Alerj é acusado de se beneficiar do esquema de propinas no transporte público do Rio / Divulgação (Alerj/Divulgação)

JORGE PICCIANI: presidente da Alerj é acusado de se beneficiar do esquema de propinas no transporte público do Rio / Divulgação (Alerj/Divulgação)

AO

Agência O Globo

Publicado em 14 de maio de 2021 às 07h50.

Última atualização em 14 de maio de 2021 às 07h52.

Morreu na madrugada de desta sexta-feira, por volta das 2h, o ex-presidente de Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e pecuarista Jorge Picciani. Ele estava internado em São Paulo, onde se tratava de um câncer na bexiga. Nas últimas semanas Picciani foi intubado e já não estava mais consciente. A informação foi confirmada pelo atual presidente da Alerj, André Ceciliano, que afirmou que o velório deve ser realizado no Palácio Tiradentes - já colocado à disposição da família.

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Ele lutava desde 2017 contra um tumor na bexiga, o que o levou a se licenciar da presidência da Alerj para realizar sessões de quimioterapia e um cirurgia para a retirada da próstata e da bexiga. No mesmo ano ele foi preso durante a Opearação Cadeia Velha. Picciani já havia sido diagnosticado com a doença no mesmo órgão, em 2010. Na ocasião, ele ficou internado no Hospital Samaritano, em Botafogo, onde retirou um divertículo na bexiga (diverticulitectomia vesical), que estava causando sangramento e infecção urinária.

Filho de um casal de confeiteiros, Picciani foi criado em Mariópolis, bairro de classe média-baixa da Zona Norte do Rio, vizinho do campo de Gericinó, nos limites da cidade com Nilópolis. Em 1985, na primeira experiência política, atuou na região como cabo-eleitoral da candidatura do advogado Marcelo Cerqueira a prefeito pelo PSB. O pleito seria vencido por Saturnino Braga, do PDT de Leonel Brizola.

Na época, Picciani acabava de sair de uma malsucedida experiência como fiscal de ICMS do Mato Grosso. Naquele ano, teve o nome implicado num escândalo em Rondonópolis (cidade a 214 quilômetros de Cuiabá). Empresários foram acusados de manter uma caixinha para corromper agentes fiscais. Com base em inquérito policial, a Secretaria Estadual de Fazenda montou uma comissão de sindicância para apurar as denúncias e afastou os fiscais supostamente envolvidos, entre os quais o futuro presidente da Alerj.

Na volta ao Rio, mergulhou no mundo político. Migrou do PSB para o PDT, na onda brizolista, e elegeu-se deputado estadual em 1991, tomando posse no ano seguinte. Sua formação em contabilidade o credenciou a assumir a presidência da Comissão de Orçamento e Finanças da Alerj. Em 1992, o então deputado estadual Wagner Siqueira (PMDB) acusou o PDT de fraudar o texto final da proposta orçamentária do governo para aquele ano. Siqueira alegou que, na redação final, houve a inclusão de seis artigos não submetidos aos deputados.

A maioria dos artigos inseridos, "jabutis" no jargão parlamentar, garantia mais verbas para os Cieps, carro-chefe do projeto político do governador Leonel Brizola. Em abril de 1993, Picciani foi nomeado por Brizola para o cargo de secretário estadual de Esporte e Lazer, que acumulou com a presidência da Superintendência de Desportos do Estado do Rio (Suderj). Um ano depois, deixou os cargos e virou líder da bancada do PDT, mas dias de Picciani no brizolismo estavam contados.

Depois da vitória do dissidente Marcello Alencar (PSDB), que derrotou o pedetista Anthony Garotinho na eleição para governador em 1994, Picciani deixou o PDT e entrou para o PMDB, passando a integrar a base do novo governo. O partido, então presidido por Moreira Franco, hoje ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência do governo Temer, tinha apenas sete deputados e era visto como uma legenda decadente.

Para reerguer o partido, Picciani ganhou em 1995 um aliado que marcaria a sua carreira. Eleito deputado estadual pelo PSDB com votação recorde, Sergio Cabral tornou-se presidente da Alerj e chamou Picciani para ser seu primeiro-secretário. Na função, ele passou a administrar os recursos e os cargos da Casa. Os dois, em parceria, montaram as bases para uma hegemonia do PMDB que dura até hoje.

O primeiro sinal de ligação de Picciani com o setor de transporte ocorreu em dezembro de 1996. Sob a sua liderança, um grupo de deputados conseguiu incluir em projeto do governador Marcello Alencar emenda que determinava a não incidência do ICMS sobre o transporte intermunicipal de passageiros. Marcello teve de recorrer à Justiça e a emenda foi julgada inconstitucional pelo Supremo.

Os deputados ainda acabaram com a possibilidade de multas e fiscalização sobre o setor, assim como a cobrança de débitos fiscais. Com este formato, o projeto foi aprovado numa velocidade recorde. Nos dois casos, as emendas tinham as digitais de Picciani, que anteriormente, ainda no PDT sempre discursava a favor da cobrança de ICMS.

Em abril de 1999, o então governador Anthony Garotinho revelou em conversas com interlocutores ter sido pressionado pelos deputados Sérgio Cabral Filho e Picciani, que teriam pleiteado a Secretaria de Transportes para atender à bancada do partido na Assembleia e ao esquema de influência da Fetranspor na Casa. Ele também denunciou ter sofrido uma tentativa de suborno logo depois de determinar a redução de 15% nos preços das passagens de 588 linhas intermunicipais de ônibus.

No campo pessoal, os anos 1990 também foram férteis para Picciani. No período, ele adquiriu cinco fazendas, casas em condomínios da Barra da Tijuca e de Búzios e carros importados. Desde então, sempre que cobrado sobre o salto patrimonial, sustentou que os bens acumulados eram fruto do trabalho como produtor rural, atividade que passou a se dedicar a partir de 1984.

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