Brasil

Preço do combustível é uma decisão da Petrobras, não do governo, diz ministro

Adolfo Sachsida diz, no entanto, que 'não é possível interferir no preço dos combustíveis' e que há 'marcos legais que impedem intervenção'

Adolfo Sachsida: O ministro também pediu que a Petrobras se atente à agenda ESG (Anderson Riedel/PR/Flickr)

Adolfo Sachsida: O ministro também pediu que a Petrobras se atente à agenda ESG (Anderson Riedel/PR/Flickr)

AO

Agência O Globo

Publicado em 21 de junho de 2022 às 11h11.

Última atualização em 21 de junho de 2022 às 14h36.

Após dizer que não é possível interferir no preço dos combustíveis, o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, pediu nesta terça-feira para a Petrobras dar sua parcela de "sacrifício". Questionado em audiência pública na Câmara dos Deputados se tem "orgulho" do lucro da empresa, ele disse que "não".

— Os estados estão fazendo sacrifícios, o Congresso está fazendo sacrifícios, o governo federal está fazendo sacrifícios. Ora, é natural que a Petrobras também o faça. E porque é natural… Mas, de novo, essa decisão não é minha. Essa decisão é do presidente da Petrobras, do seu conselho e dos seus diretores — disse Sachida, listando os projetos aprovados para reduzir os impostos federais e estaduais sobre os produtos.

O ministro citou empresas internacionais de petróleo que saíram da Rússia por conta da guerra contra a Ucrânia para dizer que é preciso pensar na reputação da marca.

— Será que a British Petroleum não tem minoritários? Claro que tem. Será que eles estão felizes com o prejuízo que a BP está levando por abandonar a Rússia? E a Shell, será que os minoritários estão felizes? Eu acho que sim. Porque a empresa com poder de mercado tem que preservar a marca, não é só lucrar ao máximo no curto prazo e destruir a marca da companhia. A reputação de uma empresa é fundamental — afirmou.

A declaração foi dada após o presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, ter pedido demissão nesta segunda-feira por conta de pressões políticas. O presidente Jair Bolsonaro já havia decidido tirá-lo do comando da empresa e já havia escolhido o sucessor, Caio Paes de Andrade. Só que, em razão dos trâmites internos da Petrobras, a troca só seria efetivada após algumas semanas.

O ministro também pediu que a Petrobras se atente à agenda ESG (ambiental, social e governança, em português).

— Se eu puder dar uma sugestão, é uma sugestão, nós temos no mundo hoje uma agenda ESG, a agenda de governança, social e ambiental. Os países do mundo ocidental dão mundo valor à agenda ESG. Acho que cabe à Petrobras valorizar essa agenda porque é uma empresa que está listada em Bolsa.

'Todos nós aqui temos responsabilidade social'

O próprio ministro deu como exemplo as atitudes tomadas pelo Banco do Brasil durante a pandemia. O BB é uma estatal listada em Bolsa, assim como a Petrobras. Sachsida foi questionado pelo deputado Hildo Rocha (MDB-BA) se teria orgulho dos lucros da empresa. O ministro, citando a pergunta do deputado, disse que não.

— A pergunta foi: “o lucro excessivo punindo a população, se eu tenho orgulho disso”. Não, não tenho, claro que não. Todos nós aqui temos responsabilidade social. Mas, veja, eu falo como alguém que não está na companhia. A Petrobras é uma companhia listada em Bolsa e as decisões da Petrobras são tomadas pelo seu presidente, pelos seus diretores e pelo seu Conselho de Administração. Não há influência do governo nessas decisões. O que o governo faz é escolher o seu presidente e indicar alguns membros do Conselho de Administração para dar alguns nortes para a companhia — disse o ministro.

O lucro de R$ 44,5 bilhões da Petrobras no primeiro trimestre é criticado por políticos, sem lembrar que o governo federal é o principal destinatário dessas receitas. Só na segunda-feira, mesmo dia em que o presidente da estatal renunciou ao cargo, a Petrobras depositou quase R$ 9 bilhões nas contas do governo a título de dividendos.

Sachsida disse ainda que os preços são uma decisão da empresa, mesmo o governo tentado segurar os reajustes feitos pela Petrobras.

— Eu entendo que muitos dos senhores são cobrados pela população, porque é difícil para a população entender por que o governo não interfere no preço dos combustíveis. E aqui eu preciso ser claro: não é possível interferir no preço dos combustíveis — disse Sachsida, se dirigindo aos deputados.

'Preço é uma decisão da empresa'

Ele afirmou que os preços não estão sob controle do governo.

— Não está no controle do governo. E, honestamente, preço é uma decisão da empresa, não do governo. Além disso, nós temos marcos legais que impedem a intervenção do governo numa empresa, mesmo o governo sendo acionista majoritário — disse.

Alvo de pressão do presidente da República e do Congresso, José Mauro Ferreira Coelho renunciou ao comando da Petrobras após 67 dias no cargo na segunda-feira. Para o seu lugar, foi indicado Caio Paes de Andrade.

— Eu quero frisar que eu respeito o presidente José Mauro, ex-presidente da Petrobras. Tão logo eu assumir como ministro, eu achei por bem promover uma troca na empresa porque acredito que é hora de promover a competição. Não há como ajudar o consumidor brasileiro com a estrutura atual. Que a empresa tem enorme poder de mercado e que a empresa ora é estatal e ora é privada. De posse dessas informações, achei que era o momento que era necessário preparar a empresa para um cenário de mais competição. É por isso que indiquei o senhor Caio Paes de Andrade, para levar a Petrobras essa experiência de competição — afirmou o ministro.

Sachsida também citou durante a apresentação o lucro da Petrobras e comparou esse resultado aos das demais petroleiras. Em dólar, disse que a empresa teve o maior lucro do primeiro trimestre entre as petroleiras, que o retorno sobre o patrimônio líquido é o maior entre as companhias do tipo. Afirmou ainda que o retorno do dividendo em relação ao preço da ação (yeld) é de 19,9%, enquanto a média é de 4,7%.

O lucro de R$ 44,5 bilhões da Petrobras no primeiro trimestre é criticado por políticos, sem lembrar que o governo federal é o principal destinatário dessas receitas. Só na segunda-feira, mesmo dia em que o presidente da estatal renunciou ao cargo, a Petrobras depositou quase R$ 9 bilhões nas contas do governo a título de dividendos.

Sachida afirmou, ainda, que a empresa chegou a ter uma dívida de US$ 100 bilhões e que se obras de refinaria tivesse ficado prontas (como o Comperj), o país seria autossuficiente no refino. Hoje, é preciso importar 30% do diesel, por exemplo.

O reajuste de 14,26% no diesel e de 5,18% na gasolina na refinaria, anunciado na última sexta-feira, fez com que as declarações contra o executivo escalassem, com um telefonema do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) ao executivo, ameaças de criação de uma CPI da Petrobras, de investigação sobre gastos e patrimônio da diretoria e de seus parentes e acusações de que era uma liderança “ilegítima”.

Faltando menos de quatro meses para as eleições, a saída de Coelho abre caminho para uma corrida contra o tempo no governo para emplacar o sucessor. E, a partir, daí promover mudanças no Conselho de Administração e na diretoria da empresa. O aumento dos preços dos combustíveis se tornou a principal dor de cabeça da campanha de reeleição de Jair Bolsonaro.

'Via expressa' para troca de comando

A renúncia de Coelho — que já tinha sido demitido em maio, mas aguardava a aprovação do nome indicado pelo governo — permite uma espécie de “via expressa” para a troca no comando, sem a necessidade de convocar uma assembleia de acionistas, o que poderia significar mais de um mês com a empresa sem um titular.

Hoje, o Comitê de Elegibilidade da Petrobras recebe a documentação para analisar o nome do indicado pelo governo, Caio Paes de Andrade, secretário de Desburocratização do Ministério da Economia. Ele é considerado homem de confiança de Paulo Guedes e tem bom relacionamento com o ministro de Minas e Energia.

Veja também
Musk põe compra do Twitter em xeque e confirma redução do quadro de funcionários da Tesla

Oi (OIBR3) adia balanço mas apresenta dados preliminares; Ebitda sobe 8%

Acompanhe tudo sobre:CombustíveisGoverno BolsonaroPetrobras

Mais de Brasil

Gramado suspende desfile de "Natal Luz" após acidente aéreo

Lula se solidariza com familiares de vítimas de acidente aéreo em Gramado

Quem foi Luiz Galeazzi, empresário morto em queda de avião em Gramado

Em SP, 65.000 seguem sem luz e previsão é de chuva para a tarde deste domingo