Luislinda Valois: a ministra demonstrou preocupação com a perícia do local da chacina (PSDB-MG/Fotos Públicas/Fotos Públicas)
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de maio de 2017 às 17h19.
Brasília - A ministra de Direitos Humanos, Luislinda Valois, defendeu nesta sexta-feira, 26, que a investigação do massacre de dez sem-terra, em Pau D'Arco, no sudeste paraense, seja controlada pelos órgãos públicos de Marabá, cidade a 426 quilômetros de distância que concentra delegacias especializadas em assassinatos no campo, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ela demonstrou preocupação com a perícia do local da chacina.
Os peritos de Marabá e Parauapebas só chegaram à área do crime depois que policiais do município de Pau D'Arco tinham retirado os corpos.
"Não podemos deixar que a coisa transcorra de qualquer maneira", afirmou a ministra. "A perícia tem de ser feita com muito empenho e dedicação."
O massacre dos sem-terra ocorreu na manhã da última quarta-feira durante uma reintegração de posse da Fazenda Santa Lúcia.
Entidades de direitos humanos reclamaram que a ação foi pedida pela Justiça à Polícia Militar lotada no município, sem experiência em despejos.
Famílias dos sem-terra mortos disseram que os agentes chegaram atirando, negando versão de que houve confronto.
Uma equipe do Ministério dos Direitos Humanos foi enviada ao Pará para acompanhar as primeiras informações e levantamentos sobre o massacre.
"A situação é vexatória, constrangedora e inadmissível. Em pleno século XXI, essa situação não pode ocorrer", disse Luislinda Valois.
"Como ministra, como cidadã e como ser humano não posso aceitar o que ocorreu. Ninguém pode aceitar", disse.
A ministra ressaltou que confia no trabalho de juízes e procuradores na elucidação e punição dos culpados pelo massacre.
A preocupação de Luislinda com a perícia e as investigações em Pau D'Arco, no entanto, é embasada com levantamentos apresentados por entidades da área de direitos humanos.
Raros casos de assassinatos de sem-terra, especialmente no sudeste paraense, se transformaram em denúncia do Ministério Público ou os autores dos crimes foram julgados e condenados pela Justiça.
Na região ocorreu, em abril de 1996, um dos casos mais emblemáticos da violência no campo.
A polícia militar executou de 19 sem-terra na Curva do S, em Eldorado do Carajás.
Ao comentar sobre a onda de violência no campo, Luislinda Valois disse que é preciso desencadear ações concretas em todos os níveis de governo.
Também avalia a necessidade e buscar entendimento com segmentos empresariais do setor rural. "Não podemos abrir mão de conversar com nenhum segmento da sociedade", afirmou.
Ainda nesta sexta, ela se encontrará com o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, para avaliar a situação das vítimas da chacina do Pará.