Militares evitam criticar decisão sobre Pazuello, mas temem indisciplina
Ex-ministro do GSI diz que não pode 'defender o indefensável', enquanto outro general afirma que 'política está entrando nas Forças Armadas'
Agência O Globo
Publicado em 4 de junho de 2021 às 07h25.
Militares da reserva evitaram criticar diretamente o comandante do Exército , general Paulo Sérgio Nogueira, pela decisão de não punir o ex-ministro Eduardo Pazuello pela participação em um ato político ao lado do presidente Jair Bolsonaro , mas apontaram para os riscos de incentivo à indisciplina dentro das Forças Armadas. O Exército anunciou nesta quinta-feira que não viu transgressão disciplinar de Pazuello e que o procedimento que havia sido aberto foi arquivado.
— Eu não posso atacar o comandante do Exército. Seria uma indisciplina. A única coisa que eu posso dizer é isso: eu sou disciplinado, acredito na disciplina, fiz isso minha vida inteira. Não vou criticar uma atitude do Comandante do Exército. Mas não vou aviltar os meus valores morais para defender o indefensável — afirma o general da reserva Sérgio Etchegoyen, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo de Michel Temer.
Paulo Chagas, também general da reserva, afirma que apenas Nogueira teve acesso a todas as informações do procedimento administrativo, mas ressalta que, pelos dados ao seu alcance, considera que Pazuello deveria ter sido punido e que a decisão criou um precedente
— Não tenho dúvida de que isso vai causar indisciplina dentro do Exército. Abre um precedente, real ou fictício, que vai ser explorado por aqueles que querem aparecer — avalia Chagas, que foi candidato ao governo do Distrito Federal em 2018 pelo PRP. — A política está entrando no portão das Forças Armadas, a disciplina vai sair pela porta dos fundos.
Outro oficial da reserva, ouvido de forma reservada, considera que há um enfraquecimento da hierarquia e da disciplina e que existe uma tentativa de politizar as Forças Armadas, o que criaria uma instabilidade.
Alguns militares, por outro lado, minimizaram a questão e e disseram que a decisão cabe ao comandante do Exército. Um general da reserva aponta que havia um grau de interpretação — se o ato foi ou não político — e que, por isso, qualquer decisão teria argumentos favoráveis. Esse mesmo oficial considera que não há risco do episódio causar problemas de disciplina. Outro general apontou que não poderia fazer um julgamento, sem todas as informações, e que Paulo Sérgio deve ter pensado muito antes de tomar a decisão.
Leia a nota do Exército na íntegra:
"Acerca da participação do General de Divisão Eduardo Pazuello em evento realizado na Cidade do Rio de Janeiro, no dia 23 de maio de 2021, o Centro de Comunicação Social do Exército informa que o Comandante do Exército analisou e acolheu os argumentos apresentados por escrito e sustentados oralmente pelo referido oficial-general.
Desta forma, não restou caracterizada a prática de transgressão disciplinar por parte do General Pazuello.
Em consequência, arquivou-se o procedimento administrativo que havia sido instaurado".
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