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Militar da reserva detalha "plano para matar Jango"

O plano dos golpistas era abater o avião em que Goulart faria a viagem de Porto Alegre a Brasília


	Goulart era visto por setores da direita militar como herdeiro político do ex-presidente Getúlio Vargas
 (Dick DeMarsico/Wikimedia Commons)

Goulart era visto por setores da direita militar como herdeiro político do ex-presidente Getúlio Vargas (Dick DeMarsico/Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 30 de março de 2014 às 21h40.

Rio de Janeiro - Em depoimento neste sábado, 5, à Comissão Nacional da Verdade (CNV), no Rio de Janeiro, o coronel-aviador da reserva Roberto Baere, 80 anos, revelou detalhes da chamada Operação Mosquito, conspiração montada em 1961 por oficiais da Aeronáutica para matar o então vice-presidente, João Goulart, que estava prestes a assumir a Presidência no lugar de Jânio Quadros, que havia renunciado. Segundo seu depoimento, ele recusou participar da ação e ela foi abandonada.

A denúncia de Baere ocorre três dias depois de a própria comissão ter decidido pela exumação do corpo de Goulart - que está sepultado em São Borja (RS) e sobre cuja morte, em 1976, pairam até hoje suspeitas de envenenamento.

Apoiado em 1961 pela esquerda e pelos sindicatos, Goulart era visto por setores da direita militar como herdeiro político de outro velho inimigo dela, o presidente Getúlio Vargas, que havia se suicidado em 1954. Passados dez anos, esses grupos eram radicalmente contra sua posse no lugar de Jânio.

Quando este renunciou, a 21 de agosto de 1961, Goulart estava na China. Ciente da oposição da direita, ele demorou para voltar e foi desembarcar dia 31 de agosto em Porto Alegre, onde as tropas eram leais ao governador Leonel Brizola (PTB), seu cunhado. Ele só chegou a Brasília em 5 de setembro, já com o parlamentarismo imposto pelos militares. O plano dos golpistas era abater o avião em que Goulart faria essa viagem.


Baere, então tenente do 1.º Grupamento de Aviação de Caça da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio, contou neste sábado ter recebido ordens do comandante da base, o tenente-coronel Paulo Costa (que já morreu), para preparar os caças que seriam usados no ataque. Segundo Baere, ele e três colegas se recusaram a cumprir a missão.

"Pedimos que ele não nos escalasse porque entramos nas Forças Armadas para defender a Constituição e não agredi-la", afirmou ele ontem diante da comissão.

O plano acabou sendo abandonado, mas Baere foi punido três anos depois, já no governo militar de 1964. "Fui sumariamente expulso, após 50 dias incomunicável na prisão, policiado na porta por um oficial de metralhadora, como um marginal de alta periculosidade".

A CNV ouviu também, neste sábado, outros militares punidos por se oporem ao golpe. Um deles, o fuzileiro naval Paulo Novais Coutinho, tinha sido mandado em 25 de março de 1964, sete dias antes do golpe, ao Sindicato dos Metalúrgicos do Rio para dispersar uma reunião. A frente de 39 homens, recusou-se reprimi-la. Ficou preso nove meses e foi expulso por indisciplina. Só conseguiu voltar à Marinha em 1989. 

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