Medidas do BC e alta dos juros esfriam expectativas dos banqueiros
Projeções dos bancos para oferta de crédito em 2011 encolheram nas principais modalidades
Da Redação
Publicado em 15 de março de 2011 às 15h18.
São Paulo - Uma pesquisa feita pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostra que as medidas macroprudenciais anunciadas em dezembro pelo Banco Central e as duas doses de aperto monetário esfriaram as projeções para o crescimento do crédito em 2011.
Em novembro, antes das restrições, os banqueiros apostavam em um avanço de 18,5% nas operações de crédito da carteira total, que inclui todas as modalidades. Agora, no levantamento de março, a previsão recuou para 17,4%.
A pesquisa da entidade mostra que as menores expansões acontecerão nas modalidades de crédito voltadas para as pessoas físicas (16,5%) e para a aquisição de veículos (16,2%). Por outro lado, a estimativa para o crédito direcionado, que inclui o BNDES, tem o maior número: 18,9%.
O economista-chefe da Febraban, Rubens Sardenberg, diz que o crescimento menor da economia, provocado pelas medidas restritivas do governo e do Banco Central, levou a esse cenário. "O crédito, que cresceu 20% no ano passado, terá um ritmo menor de expansão em 2011. Há uma grande concentração (recuo) no segmento de veículos, que foi o mais afetado pelas medidas."
O ponto positivo é a expectativa estável em torno da inadimplência (4,5%). "Embora a pesquisa não constate isso, é razoável esperar algum aumento da inadimplência por causa da alta dos juros, mas nada muito significativo", afirma Sardenberg.
Veja a evolução das previsões dos bancos para 2011 nas quatro últimas pesquisas:
Previsão do crédito em 2011 | Pesquisa de novembro | Pesquisa de dezembro | Pesquisa de fevereiro | Pesquisa de março (atual) |
---|---|---|---|---|
Carteira Total | 18,5% | 17,8% | 18,0% | 17,4% |
Direcionado | 19,9% | 18,7% | 19,1% | 18,9% |
Livres | 18,1% | 17,1% | 17,3% | 16,6% |
Pessoas Físicas (total) | 17,6% | 16,7% | 17,0% | 16,5% |
Crédito Pessoal (inclui consignado) | 19,4% | 19,6% | 18,3% | 18,3% |
Aquisição de veículos (inclui leasing) | 17,5% | 16,9% | 17,0% | 16,2% |
Pessoas Jurídicas (total) | 18,8% | 17,6% | 17,9% | 16,6% |
Inadimplência (acima de 90 dias) | 4,6% | 4,6% | 4,5% | 4,5% |
O levantamento constata ainda que 62% dos bancos acreditam que os cortes de gastos do governo são importantes, mas ainda há sérias dúvidas sobre o cumprimento da meta de superávit primário. "Continua sendo muito importante o ajuste fiscal e o mercado vai acompanhar de perto a sua execução", diz o economista.
A pesquisa da Febraban, feita com as 31 maiores instituições financeiras no Brasil, mostra que o cenário internacional voltou a ganhar importância nas últimas semanas. Para 52% dos pesquisados, a alta do petróleo é fator adicional de pressão sobre o quadro de inflação no Brasil. Rubens Sardenberg salienta que "o impacto do cenário internacional na inflação é visto como um risco maior do que eventuais efeitos mais fortes na atividade econômica."
Sobre o Japão, o economista disse que ainda é muito cedo para fazer uma avaliação mais precisa. "De qualquer forma, não acredito que o problema no Japão seja suficiente para jogar a economia mundial numa recessão. No caso do Brasil, o Japão representa 5% dos investimentos diretos e 40% dos títulos de médio e longo prazo."
O novo aporte de recursos no BNDES e a nova fase do Programa de Estímulo ao Investimento (PSI) também foram abordados no questionário. Metade dos entrevistados acredita que esses dois itens são contrários às medidas fiscais e macroprudenciais, e demandarão ações adicionais no cumprimento da meta de inflação.
Com relação aos principais indicadores macroeconômicos, houve piora no cenário de inflação. Nem mesmo no ano que vem, a projeção para o IPCA fica no centro da meta (4,5%). Para os juros básicos, a expectativa dos banqueiros é de apenas mais uma alta de meio ponto percentual. Segundo Rubens Sardenberg, o Banco Central deve adotar uma nova rodada de medidas macroprudenciais parecidas com as que estão em vigor.
As instituições trabalham com dólar abaixo de R$ 1,70 neste ano. "O fluxo de recursos para o Brasil continuará intenso. O próprio resultado positivo da balança comercial, por conta da alta nos preços de commodities, explica esse comportamento no câmbio", diz Sardenberg.
As reservas internacionais do Brasil continuarão crescendo e o investimento estrangeiro direto deve financiar dois terços do déficit em transações correntes.
Veja as projeções atualizadas dos bancos para 2011 e 2012:
Indicadores/Brasil | 2011 | 2012 |
---|---|---|
PIB Total | 4,2% | 4,4% |
PIB Agropecuário | 4,0% | 4,5% |
PIB Industrial | 4,3% | 4,5% |
PIB Serviços | 4,3% | 4,3% |
Produção Industrial | 4,1% | 4,5% |
IPCA | 5,8% | 4,8% |
IGP-M | 6,5% | 4,9% |
Meta Taxa Selic - fim de período | 12,25% | 11,50% |
Câmbio - fim de período (R$/US$) | 1,69 | 1,75 |
Balança comercial (US$ bilhões) | 13,3 | 7,8 |
Transações correntes (US$ bi) | -66,6 | -72,9 |
Investimento Estrangeiro Direto (US$ bi) | 41,8 | 43,4 |
Reservas Internacionais (US$ bi) | 316,4 | 335,0 |
Risco Brasil - EMBI (pontos) | 174,8 | 159,1 |
Resultado Primário (% do PIB) | 2,8 | 2,8 |
Dívida Líquida do Setor Público (% do PIB) | 39,3% | 37,9% |