MEC divulga resultado do Enem em momento de teste para o ensino superior
Instituições veem números de matrículas presenciais perder espaço para o EaD, mas guerra de preços pode trazer resultados perigosos no futuro
André Jankavski
Publicado em 17 de janeiro de 2020 às 06h25.
Última atualização em 17 de janeiro de 2020 às 11h35.
São Paulo — A manhã desta sexta-feira (17) será de apreensão e, depois, de comemoração ou lamentação para cerca de 4 milhões de estudantes. Em um horário ainda não definido, o Ministério da Educação irá divulgar os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio ( ENEM ) de 2019. Para saber as notas, os alunos poderão acessar o site do ENEM com o seu número de CPF e a senha cadastrada no momento da matrícula.
Quem também estará de olho nesses resultados serão as empresas de educação. Muitas deles já adotaram a nota do ENEM como requisito para que o ingresso de estudantes. Além disso, oito em cada dez instituições estão dando descontos de 10% a 100%, dependendo da avaliação do aluno, segundo dados da consultoria Hoper Educação. A meta é aumentar a lista de matriculados a todo custo.
Apesar da guerra na seara da publicidade que virá com a divulgação dos resultados, o número de matrículas não deve ser superior ao apresentado em 2019. Essa é a opinião de William Klein, presidente da Hoper. Para ele, como não houve a esperada retomada da economia e muito menos a queda da taxa de desemprego, não devemos observar uma busca maior dos jovens pela graduação.
Ao menos na graduação presencial. O número de alunos matriculados nessa modalidade nas instituições privadas caiu em 2016 (-1,2%) e em 2017 (-0,4%), os últimos anos com dados disponíveis. Segundo estimativas da Hoper, a redução deve se repetir em 2018 e 2019.
Um dos fatores é a redução do Programa de Financiamento Estudantil (FIES), muito procurado por ter juros abaixo da inflação e prazo de quitação maior. Até 2021, devem ser oferecidos 100.000 contratos ao ano (bem distante dos 733.000 de 2014). Depois disso, o MEC já anunciou que deve reduzir o número de vagas para 54.000.
Ao mesmo tempo, as matrículas de ensino à distância (EaD) seguem em ritmo acelerado. De 2007 a 2017, a participação do EaD no número de alunos saltou de 7% para 21% do total. Nos próximos dois anos, deve aumentar para 30%, segundo a Hoper.
A entrada de muitas instituições novatas pode fazer com que algumas instituições e polos não consigam ter sustentação financeira no longo prazo. Ou seja, no fim das contas, quem poderá sofrer serão os próprios alunos. “Também existe uma evasão alta no EAD, o que afeta bastante as empresas”, diz Klein.
Mesmo assim, parte do mercado está animado com as empresas de educação. A corretora Mirae Asset colocou as ações das empresas Cogna e Yduqs, ex-Kroton e ex-Estácio, respectivamente, como opção de compra. “A recuperação da economia deve acontecer em 2020 e as pessoas vão procurar se preparar para o mercado de trabalho”, diz Pedro Galdi, analista da Mirae.
Para Klein, a conta não é tão simples assim. “Os jovens tiveram diversos exemplos que os desanimaram, como amigos formados que estão desempregados e endividados com financiamentos”, diz Klein. “Enquanto isso, outros estão ganhando dinheiro dirigindo carros para aplicativos.”
O desafio das empresas, portanto, será convencer os jovens de que uma faculdade dará mais futuro do que ser motorista da Uber ou do 99.