Kim Kataguiri, líder do Movimento Brasil Livre (MBL) (Facebook Kim Kataguiri/Reprodução)
Estadão Conteúdo
Publicado em 12 de setembro de 2021 às 10h19.
Última atualização em 12 de setembro de 2021 às 10h24.
As manifestações pelo impeachment de Jair Bolsonaro marcadas para este domingo, 12, ocorrem em meio ao esforço dos organizadores para manter um caráter apartidário e sem palanques para 2022. Os protestos foram convocado por movimentos de centro-direita e depois reforçados pela adesão de centrais sindicais e do PDT de São Paulo, mas sem a participação de PT e PSOL e de setores da esquerda organizados numa campanha paralela, que também pede a saída do presidente.
Este é o primeiro ato de rua organizado pelo Movimento Brasil Livre (MBL), pelo Vem Pra Rua e pelo Livres na campanha pelo impeachment de Bolsonaro. Estão previstos atos em 15 capitais do país. Mesmo que tenham objetivo em comum com a esquerda, a aproximação é um tabu, uma vez que esses movimentos ganharam projeção nacional durante a campanha pelo impedimento da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.
O protesto de hoje é encarado pelas lideranças como uma oportunidade de resposta aos atos bolsonaristas de 7 de Setembro quando manifestantes pediram o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e uma intervenção militar no País, e o presidente afirmou que deixaria de cumprir ordens judiciais do ministro do Supremo Alexandre de Moraes. A carta na qual Bolsonaro sinalizou um recuo, publicada na quinta-feira, foi encarada com ceticismo pelos organizadores.
Até a semana passada, organizadores do ato deste domingo defendiam uma oposição tanto a Bolsonaro quanto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para 2022. Após conversas com centrais sindicais, porém, o MBL concordou em revogar o mote “nem Lula, nem Bolsonaro” e focar apenas no impeachment do presidente. Ainda assim, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT, não aderiu à manifestação.
Enquanto alguns líderes acreditam em uma aproximação entre as duas campanhas, ainda há hostilidade em relação ao PT entre integrantes do MBL e do Vem Pra Rua. “Entendo que essa manifestação não comporta uma pauta favorável a Lula”, disse a porta-voz Luciana Alberto, do Vem Pra Rua. “Tenho muitos amigos de esquerda que não votam no PT e que vão aparecer na manifestação. São todos bem-vindos, mas entendemos, por outro lado, que o PT não está interessado no impeachment de Bolsonaro.”
“Há um tabu e não é nem dos movimentos, é da própria população, das pessoas que vão lá se manifestar”, afirmou a porta-voz do MBL Adelaide Oliveira.
Os movimentos pretendem evitar o uso da manifestação como palanque político, mas os presidenciáveis Ciro Gomes (PDT), Luiz Henrique Mandetta (DEM), João Amoedo (Novo), além de senadores com pretensões eleitorais como Simone Tebet (MDB-MS) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE), e uma série de deputados estaduais e federais, são aguardados nos carros de som.
Para conter um eventual clima de pré-campanha, o MBL planeja uma “coreografia” que transmita a roupagem “suprapartidária”. Segundo Adelaide, no momento em que figuras políticas subirem ao carro de som para discursos, a partir de 15h30, eles devem retirar bandeiras e cores do movimento e cobrir o veículo com uma bandeira branca e a palavra “democracia”. O movimento também pediu a convidados que fossem ao ato vestidos de branco.
Para o presidente do PDT, Carlos Lupi, a discussão sobre o partido fazer ou não discursos no carro de som é secundária. “Nós não fazemos nem questão de falar, o importante agora não é campanha”, disse ele, que vê necessidade de resposta aos atos do dia 7. “Nós temos de demonstrar claramente que somos a maioria. Esse movimento que começa no dia 12, independentemente de quem convoque e das diferenças políticas, não é campanha eleitoral. É a democracia que está em jogo.”
O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, acredita que é possível uma aproximação maior entre as campanhas da esquerda e da direita nos próximos meses. Ele disse que há conversas em curso para viabilizar uma mobilização nos moldes da campanha “Diretas Já” - uma comparação frequente entre os organizadores dos atos pelo impeachment -, com líderes de amplo espectro político.
“Esse ato de hoje é um ‘aperitivo’ para uma manifestação maior, com um palanque da direita à esquerda, com todos os representantes da sociedade. Estamos caminhando para isso”, afirmou Torres.
Entre as 15 cidades com atos convocados, a capital federal é a que inspira preocupação aos organizadores. As forças de segurança do Distrito Federal tiveram dificuldade de retirar manifestantes que estavam na Esplanada dos Ministérios desde a véspera do dia 7. Os caminhoneiros concordaram em sair somente na sexta-feira, 10. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.