A ministra da Cultura, Marta Suplicy, participa da cerimônia de premiação de iniciativas de preservação do patrimônio cultural brasileiro (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Talita Abrantes
Publicado em 28 de abril de 2015 às 13h40.
São Paulo – Depois de cinco meses de alfinetadas contra o governo federal, a senadora Marta Suplicy irá formalizar ainda hoje a sua saída do Partido dos Trabalhadores (PT), do qual é filiada há 33 anos. As informações são da assessoria de imprensa da ex-petista a partir de hoje.
Um documento de quatro páginas que justifica a desfiliação será entregue aos diretórios municipal, estadual e nacional do PT e protocolado na Justiça Federal.
Cortejada por diversas siglas desde que começou a sinalizar uma insatisfação com o PT, Marta deve migrar para o PSB – partido de Márcio França, vice-governador do estado de São Paulo.
A expectativa é que ela seja candidata à prefeitura de São Paulo em 2016 – quando Fernando Haddad, seu agora antigo colega de partido, deve tentar a reeleição.
Relação desgastada
O descontentamento da senadora com o partido não é recente. Desde 2004, quando não conseguiu se reeleger para a prefeitura de São Paulo, Marta foi sistematicamente preterida pelo PT para outros cargos no Executivo. A exceção foi em 2008, quando ela perdeu a disputa pela prefeitura paulistana para Gilberto Kassab, então do PSD.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo publicada em janeiro, Marta admitiu que a presidência da República era um de seus objetivos e que quando Lula expôs que uma mulher iria sucedê-lo no cargo, ela imaginou que estaria entre as cotadas.
Dois anos depois da eleição que levou Dilma ao Planalto, a já senadora tentou disputar a prefeitura de São Paulo. O partido, no entanto, preferiu Haddad.
A posse no Ministério da Cultura no mesmo ano veio com uma espécie de prêmio de consolação – no entanto, a vitória de Haddad nas urnas paulistanas enterrou as chances de Marta tentar voltar à prefeitura de São Paulo em 2016 como candidata do PT.
No ano passado, veio a gota d´água. Marta se empenhou na campanha para a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para as eleições presidenciais. Na prática, ela não foi a única dentro da sigla a endossar a ideia. O problema é que, naquele momento, ela fazia parte da equipe ministerial de Dilma e o apoio ao “Volta, Lula” não caiu bem.
O movimento encabeçado pela senadora acabou não surtindo efeito e Dilma entrou na disputa pela reeleição. Marta, por sua vez, não se empenhou pela vitória da presidente – ao contrário da maior parte dos ministros. Com a apertada vitória de Dilma nas urnas, sua presença no governo se tornou insustentável.
Alfinetadas em série
Semanas após a vitória de Dilma, ela fez questão de deixar claro o seu descontentamento. Quando pediu demissão da equipe ministerial, a senadora afirmou que a presidente deveria escolher uma equipe econômica capaz de resgatar a credibilidade do governo.
Ela também não escondeu seu descontentamento com a nomeação de Juca Ferreira para sucedê-la na Cultura e chegou a enviar documentos à Controladoria-Geral da União (CGU) que denunciariam supostas irregularidades da gestão do petista na pasta entre 2008 e 2010.
As alfinetadas não pararam por aí. Em janeiro, ela criticou a tudo e a todos em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo e afirmou que "ou o PT muda, ou acaba".
Dias depois, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, a ex-ministra da Cultura afirmou que se o governo tivesse adotado uma política de transparência na condução da área econômica, o país não estaria vivendo "esta situação de descalabro" que faz a "vaca engasgar de tanto tossir" - em uma clara referência ao jargão de Dilma durante a campanha eleitoral de que não mexeria nos direitos trabalhistas "nem que a vaca tussa".
Em entrevista publicada na Revista Veja desta semana, a senadora foi enfática ao explicar sua desfiliação. “Eu sou mais uma entre outras pessoas que se decepcionaram com o PT e não enxergam a possibilidade do partido retomar sua essência”, disse.