Marta Suplicy: "(Ele) Não ficou satisfeito com os R$ 500 mil e o tempo todo até o final da campanha reclamou muito do valor", disse Paschoal em depoimento (Pedro França/Agência Senado)
Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de abril de 2017 às 13h32.
O empresário Márcio Toledo, marido da senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), não ficou satisfeito com o repasse de R$ 500 mil não contabilizados que a Odebrecht destinou para a campanha da mulher em 2010, disse em delação premiada o ex-executivo da empreiteira Carlos Armando Guedes Paschoal.
O pagamento teria sido realizado por meio do setor de operações estruturadas da Odebrecht, considerado o departamento da propina da empresa.
"Ele (Márcio Toledo) me chamou pra conversar pessoalmente. E manifestou um grande descontentamento, que era uma desconsideração, porque, afinal, ela (Marta) tinha sido prefeita de São Paulo, era uma pessoa importante, sabe... (Ele) Não ficou satisfeito com os R$ 500 mil e o tempo todo até o final da campanha reclamou muito do valor", disse Paschoal em depoimento.
Na época, Marta disputava uma vaga ao Senado Federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
Indagado sobre os motivos de o marido de Marta enfatizar a experiência da mulher à frente da Prefeitura de São Paulo na conversa, Paschoal respondeu: "Eu tenho a impressão que ele quis se referir (à experiência de Marta como prefeita) pra dar um maior empoderamento a ela. Engrandecer."
O ex-executivo da Odebrecht afirmou que tratava diretamente com Márcio Toledo sobre os pagamentos feitos à campanha da ex-prefeita, hoje no PMDB.
"Eu só falava com o Márcio Toledo e ele indicava o hotel, eu passava pro Luizinho (o executivo Luiz Eduardo Soares, um dos funcionários que atuava no departamento da propina). Todas as doações, à exceção de uma ou duas, eram realizadas em hotéis. Questão de segurança, de logística", detalhou Paschoal.
"Nunca falei com a senadora. Nem pessoalmente nem por telefone. Era como se blindava, né", disse Paschoal.
Em outro depoimento, o ex-presidente da Construtora Norberto Odebrecht Benedicto Júnior confirmou que os pagamentos foram feitos via caixa 2.
"Esses pagamentos foram feitos via caixa 2 pelo setor de operações estruturadas da Odebrecht. A senadora foi eleita na época e o sistema traz a comprovação desses pagamentos sob o codinome 'Belo Horizonte' no ano de 2010. Havia uma perspectiva de que ela seria eleita, mas ela é uma pessoa totalmente avessa à relação com a Odebrecht", afirmou BJ.
Relator dos processos da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Edson Fachin decidiu aguardar manifestação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sobre uma possível prescrição do crime, antes de decidir se abre ou não inquérito contra Marta e o marido.
Em nota enviada por meio da assessoria de imprensa, a senadora afirmou que os "fatos mencionados na delação são inteiramente falsos" e que a sua conduta "sempre foi baseada nos princípios éticos que marcam toda sua vida pública".