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Manuela d'Ávila e hacker conversaram por nove dias, diz PF

Em uma das conversas, hacker disse que se não tivesse tido iniciativa de vazar supostas conversas de Moro, o Brasil iria "quebrar"

Manuela d'Ávila: organização das mensagens foi feita pela própria defesa da ex-deputada (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Manuela d'Ávila: organização das mensagens foi feita pela própria defesa da ex-deputada (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de outubro de 2019 às 07h57.

Última atualização em 1 de outubro de 2019 às 08h06.

A Polícia Federal (PF) apontou que o contato do hacker Walter Delgatti Neto, preso em julho, com a ex-deputada Manuela D'Ávila (PCdoB-RS) durou nove dias. O inquérito sigiloso, ao qual o jornal O Estado de S. Paulo teve acesso, indica que os dois conversaram, via aplicativo de mensagens, entre os dias 12 e 20 de maio deste ano.

Ao inquérito da Operação Spoofing — que investiga a invasão de celulares de autoridades do País — foram incluídas 38 reproduções de tela de celular de conversas. A organização das mensagens foi feita pela própria defesa de Manuela.

"Quero Justiça, não quero dinheiro", diz o hacker em uma das conversas com a ex-deputada, acrescentando ter "oito teras (bytes) de coisa errada". Em outro trecho, Manuela afirma que o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, era a "melhor pessoa" para receber o conteúdo hackeado.

Delgatti Neto, por sua vez, diz que não havia pensado no nome do jornalista antes, mas depois afirmou que a indicação foi a "melhor saída". "Era tudo o que eu precisava. Mas acredito que não caiu sua ficha (de Greenwald) ainda", avaliou. Manuela, por sua vez, discorda: "Caiu, sim. Por isso pensei no jornalista mais capaz e com credibilidade mundial".

Manuela, que foi candidata a vice-presidente no ano passado, afirma que não conhecia a identidade do hacker. Delgatti Neto disse à PF ter pedido à ex-parlamentar o contato de Greenwald. Logo após receber o número do telefone, ele continuou a enviar mensagens para Manuela. Ao avaliar a reação de Greenwald ao receber o material, o hacker vibrou. "Ele ficou louco, lá. Foi comprar computadores novos para os arquivos. Já fizeram não sei quem ir de BSB (Brasília) até eles".

Com o avanço das conversas, o hacker passa a compartilhar com Manuela sua "visão de mundo". Diz, por exemplo, que, se não tivesse tido a iniciativa de vazar as conversas atribuídas ao então juiz Sérgio Moro e procuradores da Lava Jato, o Brasil iria "quebrar". "Dei sorte de chamar você. Eles iam privatizar tudo. O País ia falir. Tem todos os acordos prontos. Um golpe gigantesco ia ser concretizado", escreve o hacker, segundo reprodução que consta no inquérito sigiloso.

Manuela se mostrou preocupada com o fato de o celular do então deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) ter recebido uma ligação do seu Telegram sem que ela tivesse efetuado tal chamada. "Oi, você ligou para o Jean do meu Telegram?", questionou. Delgatti Neto respondeu: "Liguei no dia, hahahaha. Para tentar falar com ele. Aí quando falei com você, saí e não liguei mais. Diz que foi um equívoco".

Spoofing

Alvo da primeira fase da Operação Spoofing, Delgatti Neto está detido no Complexo da Papuda, em Brasília. Além dele, em julho a PF prendeu mais três pessoas. Na segunda etapa da operação, dia 19, mais dois suspeitos foram presos.

Procurada, a defesa de Manuela não se manifestou até a publicação desta matéria. O advogado de Delgatti Neto informou que aguarda a conclusão das investigações.

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