Manuela d'Ávila: deputada suspendeu sua campanha em abril para defender a liberdade do ex-presidente Lula (Ricardo Moraes/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 4 de junho de 2018 às 16h15.
São Paulo - A deputada estadual Manuela d'Ávila (PCdoB-RS) admitiu abrir mão de sua pré-candidatura à Presidência da República por uma união de partidos de esquerda já no primeiro turno das eleições presidenciais.
Ela condiciona o posicionamento, no entanto, a um gesto do PT, que mantém a pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva mesmo com o petista preso e condenado na Lava Jato, do PDT, que lançou o ex-ministro Ciro Gomes na corrida, e do PSOL, cujo pré-candidato é Guilherme Boulos.
Para Manuela, o PCdoB não é um obstáculo à união das esquerdas, mas o partido não abriria mão de seu nome se as outras legendas do campo não fizessem o mesmo em torno de um único projeto. "Nós já fizemos o gesto. Se eu não for candidata, os outros três se entendem para nós estarmos unidos? A unidade da esquerda representa isto: nós estaremos todos unidos em uma única candidatura? Os outros três têm essa disposição? Eu não sou óbice", disse a deputada gaúcha, em conversa com o Estadão/Broadcast.
Na semana passada, o líder do PCdoB na Câmara, deputado Orlando Silva (PCdoB), defendeu que os partidos de esquerda se juntem em torno de um único nome se houver o risco de nenhuma das candidaturas do campo chegar ao segundo turno das eleições presidenciais. O partido avalia apoiar outro nome, como o de Ciro Gomes, e lançar Manuela ao governo do Rio Grande do Sul.
Nesta segunda-feira, 4, Manuela participou de um fórum sobre reforma tributária promovido por entidades de agentes da Receita Federal e de auditores fiscais estaduais. Após sua participação no evento, a parlamentar foi abordada por um participante que sugeriu que ela aceitasse ser candidata a vice-presidente em uma chapa encabeçada por Ciro Gomes. "Eu estou convidando ele para ser meu vice. Você acha bonito isso?", respondeu, em tom de brincadeira.
Manuela disse que conversa com Ciro assim como conversa com outros presidenciáveis de esquerda. Ela afirmou que o diálogo vai continuar e que é inadequada a "troca de farpas" entre os pré-candidatos desse campo. "Os problemas do País são infinitamente maiores do que as nossas diferenças." A deputada afirmou, porém, acreditar que, "provavelmente", PCdoB, PT, PDT e PSOL continuarão sendo oponentes no processo eleitoral.
Tendo suspendido, em abril, sua pré-campanha para defender a liberdade do ex-presidente Lula, Manuela diz agora que essa não será sua única bandeira no pleito. "Não é o único tema porque essa não é a única manifestação da crise aguda que o País vive, essa é uma manifestação", justificou, destacando que continuará pedindo a liberdade do petista toda vez que o assunto surgir nas eleições.
Outra bandeira a ser relativizada a partir de agora é a defesa da saída do presidente Michel Temer do poder. Para Manuela, a bandeira do "Fora, Temer" vai ser levantada por meio do combate às candidaturas que representem continuidade do governo, já que não haveria mais tempo de defender uma saída do emedebista antes do término do mandato.
Em sua participação no fórum, Manuela disse que o governo Temer já virou "pó", mas ainda será um "fantasma" na campanha eleitoral. "Embora ele tenha virado pó e seja um governo morto, o seu fantasma ronda um conjunto de outras candidaturas", falou.
Manuela defendeu uma reforma tributária de "caráter progressivo", com impostos sobre a renda dos mais riscos e a tributação de lucros e dividendos. Em um discurso de 15 minutos, a presidenciável do PCdoB reconheceu que o próximo governo fará reformas, mas que é preciso escolher entre projetos que atendam ao "rentismo" e propostas que defendam os trabalhadores.