O real é a 2ª moeda com maior alta em relação ao dólar desde 2009 (Beatriz Albuquerque/Cláudia)
Da Redação
Publicado em 16 de novembro de 2010 às 07h19.
Brasília - A redução na taxa básica de juros no ano que vem ajudaria a aliviar a apreciação do real frente o dólar, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
“Eu acho que o Banco Central já pode baixar em 2011”, disse Mantega sobre a taxa Selic em entrevista no dia 13 de novembro em Seul, antes de embarcar de volta ao Brasil. “Quanto vai cair, eu não sei. Mas posso garantir que vai cair. Isso ajuda o câmbio.”
Desde o início de 2009 até a última sexta feira, o real acumula alta de 34,6 por cento frente o dólar, o segundo maior ganho entre as 16 principais moedas acompanhadas pela Bloomberg. A taxa Selic, por sua vez, foi elevada três vezes neste ano, passando do nível mais baixo de sua história, 8,75 por cento ao ano, para o patamar atual de 10,75 por cento.
A crise levou países desenvolvidos a reduzir seus juros para tentar alimentar a recuperação de suas economias. Buscando melhores retornos, investidores têm trocado ativos considerados seguros por outros com melhores taxas, especialmente em países emergentes. O fluxo de dólares para esses mercados tem fortalecido as moedas locais, prejudicando as exportações.
“É por isso que o câmbio é importante para nós. Ele barateia artificialmente o produto manufaturado de fora que vem competir com os manufaturados brasileiros,” disse Mantega. “Isso é um problema que será atacado pelo próximo governo.”
Na reunião do Grupo dos 20 em Seul, da qual voltava Mantega, foram discutidas formas de diminuir as distorções causadas pela política monetária adotada por países desenvolvidos e as medidas de resposta dos emergentes.
Visão do mercado
Operadores de mercado discordam da previsão do ministro de que os juros devem cair no ano que vem. Os contratos de futuros de juros mostram que o mercado aposta que os diretores do BC vão subir a Selic no início do próximo ano para conter a inflação, que superou a meta anual de 4,5 por cento nos dois últimos meses.
O BC estima que a inflação vai se desacelerar para 4,6 por cento no próximo ano sem a necessidade de novos aumentos de juros, de acordo com o relatório de inflação publicado em 30 de setembro. Os preços aos consumidores subiram 0,75 por centro em outubro, surpreendendo 40 de 41 analisas consultados pela Bloomberg, que esperavam uma alta menor. A inflação anual se acelerou para 5,2 por cento.
Mantega disse que a presidente eleita Dilma Rousseff, que assume o cargo em 1 de janeiro, tem o compromisso de eliminar o déficit público até o final de 2014 e de reduzir a dívida pública líquida para cerca de 30 por cento do produto interno bruto. A dívida está hoje em 41 por cento.
Segundo Mantega, o próximo governo poderá reduzir gastos e diminuir os subsídios concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, uma vez que o crescimento econômico já não depende tanto de um “papel mais ativo” do Estado.
Desde 2009, o governo injetou no BNDES, com sede no Rio de Janeiro, R$ 205 bilhões com o intuito de aumentar a oferta de crédito subsidiado para investimentos no Brasil.
“Os subsídios vão ser reduzidos,” disse Mantega. “Nós vamos criar as condições para que o setor privado conceda empréstimos de longo prazo.”