O resultado é 1% menor que o registrado no Censo 2010, apesar do aumento de quase 5 milhões em números absolutos (Buena Vista Images/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 21 de março de 2024 às 11h23.
Última atualização em 21 de março de 2024 às 11h25.
Mais da metade da população brasileira mora na faixa litorânea do país, revela o Censo 2022, do IBGE. Apesar de ser uma extensão territorial menor em comparação com o interior, o litoral manteve a concentração maior de moradores: 111 milhões de pessoas, ou 54,8% da população. O resultado é 1% menor que o registrado no Censo 2010, apesar do aumento de quase 5 milhões em números absolutos.
Nesse recorte, a população foi dividida entre residentes da faixa litorânea - num raio de até 150 quilômetros da costa, o que acaba incluindo a maioria das capitais do Sul, Sudeste e Nordeste -; da faixa de fronteira com outros países, ou seja, o extremo oeste do país, também num raio de 150 quilômetros; e o interior, que é a maior área territorial, excetuando apenas essas bordas. A maior proporção de residentes no litoral fica em Santa Catarina — 75% da população.
A menor quantidade de residentes fica na faixa de fronteira: 9.416.714 (4,6% da população). No interior, vivem 83.157.078 de pessoas (41% do total). Já a maior população e a região mais adensada fica no litoral: 111.277.361 de pessoas (54,8%). No norte do Amapá e no sul do Rio Grande do Sul há sobreposição de moradores que vivem, ao mesmo tempo, na faixa litorânea e de fronteira. Por isso a soma de porcentagem supera os 100%.
Os dados foram filtrados pelo próprio IBGE junto com o lançamento das informações preliminares da malha de setores censitários do Censo. O setor censitário é a unidade territorial de coleta dos censos demográficos, considerando as estruturas territoriais das cidades. Cada setor é identificado por um geocódigo único e normalmente representa fragmentos de um ou mais bairros de uma cidade. É a menor unidade delimitada pelo IBGE. No Censo 2022 foram identificados 452.338 setores censitários entre todos os 5.568 municípios brasileiros. No segundo semestre, o IBGE vai divulgar novas variáveis sobre os setores, como dados de gênero, idade e raça, além de informações segregadas por bairros.
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Entre 2010 e 2022, o IBGE identificou 135.764 novos setores, uma variação de 43%. A maioria está nos estados da Amazônia Legal, onde houve melhorias no mapeamento. Somente no Acre, por exemplo, a variação foi de 120%. Em 1940, o número de setores era 32 mil. Além disso, houve alterações de limites territoriais ou divisões internas em mais de 3 mil municípios.
A concentração populacional na faixa litorânea tem origem na forma de ocupação europeia do país, explica Marcia Maria Oliveira, doutora em Geografia e coordenadora de pós-graduação do Centro Universitário UniDomBosco.
— Com as caravelas portuguesas chegando por via marítima ao Nordeste, a primeira zona de povoamento criada pelos conquistadores portugueses se iniciou partir do litoral nordestino. Aqui já viviam os indígenas, mas o sistema produtivo se localizou historicamente próximo ao litoral. E até meados do século 20, a exportação de produtos era somente por meio de navios. Quando olhamos os estados, a maioria tem suas capitais próximas ao litoral, muito pela importância dos — explica Oliveira.
Além dos fatores econômicos, a especialista enxerga um outro fator de preferência pela vida no litoral: o bem-estar. Além dos benefícios à saúde, morar perto da praia é um atrativo para muitas pessoas, inclusive aposentados ou idosos, o que se torna relevante considerando a tendência atual de envelhecimento da população.
— Às vezes tem o sonho de morar perto do mar após aposentadoria. Além disso, a questão da tecnologia e as novas formas de trabalho, como o teletrabalho, possibilitaram que as pessoas possam trabalhar em cidades próximas ao litoral — afirma a professora.
Apesar de ainda concentrar menos da metade da população, a interiorização da população brasileira é um processo constante desde a formação do Brasil. Em 2010, a proporção de moradores no litoral era 1% maior, por exemplo. Marcia Oliveira cita alguns marcos históricos que impulsionaram as cidades de interior: a construção de Brasília e a exploração da agropecuária.
- Os militares também provocaram um movimento de interiorização ao ocupar parte da Amazônia e do Centro-Oeste para combater guerrilhas do campo. Também construíram grandes rotas de circulação rodoviária, como a Transamazônica, a Belém - Brasília e a Cuiabá – Santarém