Brasil

Lula muda discurso de campanha e fala em deixar orçamento secreto com STF

Em entrevista nesta sexta-feira, 9, o petista disse defender a distribuição de emendas parlamentares, desde que de maneira transparente e alinhada com projetos prioritários do governo

 (Horacio Villalobos/Getty Images)

(Horacio Villalobos/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 9 de dezembro de 2022 às 16h55.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mudou o tom de seu discurso de campanha, em que defendeu o fim do orçamento secreto, esquema de distribuição de recursos para redutos políticos de parlamentares sem qualquer transparência e revelado pelo Estadão. Lula passou a dizer, agora, que o tema está nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em entrevista nesta sexta-feira, 9, o petista disse defender a distribuição de emendas parlamentares, desde que de maneira transparente e alinhada com projetos prioritários do governo. Lula ainda afirmou que não tem ingerência sobre o STF, a quem caberá definir o julgamento das ações que contestam a legalidade do mecanismo de distribuição de recursos públicos.

Assine a EXAME por menos de R$ 0,37/dia e acesse as notícias mais importantes do Brasil em tempo real.

O novo discurso do petista ocorre em meio a tentativa de evitar atritos com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) para evitar dificuldades na aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que amplia o teto de gastos em até R$ 200 bilhões para custear o pagamento de R$ 600 reais aos beneficiários do Bolsa Família.

"Esse processo das emendas do orçamento secreto está na Suprema Corte (desde) antes das eleições, antes de eu ser presidente da República, e se está na Suprema Corte em algum momento eles (ministros) vão pautar. Eu sinceramente não tenho nenhuma interferência ou poder sobre a Suprema Corte para decidir como e quando eles vão votar", disse Lula.

Durante a campanha, o presidente eleito chamou as emendas de relator utilizadas no esquema do orçamento secreto de "excrescência" e acusou Lira de agir como "imperador do Japão" na distribuição sem transparência desses recursos aos parlamentares que votavam alinhados ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). Passada a eleição, Lula tem remodelado esse discurso. As criticas de Lula iam além da falta de publicidade do dispositivo. Ele se queixava que o esquema esvazia parte dos poderes do chefe do Executivo para transferi-los à cúpula do Congresso, no que chamou de "a maior bandidagem já feita em 200 anos de República".

"Eu fui deputado constituinte e eu sempre achei que a emenda parlamentar é uma coisa importante, o que não precisa é ser secreta. A emenda de deputado pode ser algo muito importante se estiver acoplada ao governo e às obras preferenciais do governo. Quem decide liberar a emenda é o Poder Executivo. Todo mundo sabe que eu penso isso. O presidente Lira sabe disso", afirmou nesta sexta-feira.

Como mostrou o Estadão, Lula conversou por telefone com Lira num movimento para evitar um revés na votação da PEC pela Câmara. O petista procurou deixar claro ao deputado que não fez nenhum movimento para o Supremo derrubar o orçamento secreto. Garantiu, ainda, que o novo governo não quer tirar emendas de deputados e senadores, mas apenas ajustar os procedimentos. Agiu assim por receio de que o Centrão faça tudo para dar o troco, diminuindo o prazo do aumento do teto de gastos, de dois anos para um.

Alguns interlocutores de Lula têm dito que o presidente quer uma saída política para o orçamento secreto em vez de uma decisão jurídica do Supremo. A manutenção do esquema é colocada como uma condição dos cardeais do Centrão para garantir a aprovação da PEC e não tornar difícil, já de início, a governabilidade de Lula a partir de janeiro do ano que vem. As emendas utilizadas no esquema também passam pelas negociações que vão definir as eleições para presidente da Câmara e do Senado.

LEIA TAMBÉM: 

Acompanhe tudo sobre:GovernoLuiz Inácio Lula da SilvaSupremo Tribunal Federal (STF)

Mais de Brasil

Governo Lula é aprovado por 35% e reprovado por 34%, diz pesquisa Datafolha

Ministro diz que enviou a Haddad pedido de movimentos sociais para ajuste em pacote fiscal

Prisão de Braga Netto não foi uma surpresa para ninguém, diz Múcio

YouTube remove vídeos com informações falsas sobre saúde de Lula após AGU questionar publicações