Lula diz ser candidato com maior perspectiva de vencer em 2018
Em entrevista, o ex-presidente afirmou que "o PT não vai abrir mão de um candidato que tem perspectivas de ganhar para tentar criar um candidato novo"
EFE
Publicado em 24 de novembro de 2017 às 11h56.
São Paulo - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou sua vontade de ser candidato nas eleições de 2018 e denunciou uma "maioria fascista" no Congresso Nacional que tenta "se desfazer" do Brasil através de privatizações, em entrevista à Agência Efe.
Citado em vários escândalos de corrupção, o ex-governante, condenado a nove anos de prisão em primeira instância e com outros seis processos abertos, se vê como "o candidato com maior perspectiva de ganhar as eleições no Brasil", apesar de uma condenação em segunda instância poder deixá-lo inabilitado.
"O PT não vai abrir mão de um candidato que tem perspectivas de ganhar para tentar criar um candidato novo. Eu gostaria que a gente tivesse dezenas e dezenas de pessoas preparadas no PT para ser candidatas, mas o partido entende que nesse momento a minha candidatura é a melhor coisa que pode ajudar o Brasil, pode ajudar o PT e sobretudo pode ajudar o povo trabalhador brasileiro", comentou Lula em entrevista à Efe em São Paulo.
Presidente entre 2003 e 2010, o ex-sindicalista esclareceu que antes de ser candidato quer provar sua inocência, e ressaltou que "não é a primeira vez na história da humanidade que os setores mais reacionários, os setores de direita, perseguem alguém".
Além de uma possível vitória nas urnas, Lula reconheceu a necessidade do apoio do Congresso para governar no Brasil e não descartou repetir acordos "programáticos" com alguns partidos de centro e direita, muitos dos quais apoiaram o impeachment da sua sucessora, Dilma Rousseff.
"A aliança você faz de acordo com o resultado eleitoral. Você pode até ganhar uma eleição sem fazer nenhuma aliança com partidos políticos. Agora, para governar, você precisa construir a maioria", destacou.
"As pessoas que dizem que não vão fazer aliança nenhuma simplesmente não vão governar", acrescentou Lula, que ressaltou a necessidade de "convencer o povo que ele precisa melhorar a qualidade do Congresso para melhorar as conquistas que precisa".
Líder em todas as pesquisas de intenções de voto, Lula atacou o plano de privatizações proposto pelo governo do presidente Michel Temer, que assumiu as rédeas do país há um ano após a cassação de Dilma Rousseff, e condenou a especulação financeira no país.
"Aqui em vez de fazer investimentos e gerar emprego e gerar riqueza, eles vão vendendo as coisas que não são deles, e vão vendendo sem consultar o povo. Construíram uma maioria fascista no Congresso Nacional e acham que podem se desfazer do Brasil", lamentou.
Sobre o processo de impeachment, Lula esclareceu que não perdoou os políticos que respaldaram a cassação de Dilma, mas os cidadãos que se mostraram a favor da saída de sua afilhada política.
"O que eu estou perdoando é que os golpistas não fizeram o golpe apenas porque eles quiseram, eles tiveram o apoio de uma parcela da sociedade. Essa gente que foi para a rua, essa gente que bateu panelas", afirmou o ex-presidente.
"Essa gente são eleitores brasileiros que nós precisamos respeitar. Essas pessoas não são inimigas porque num determinado momento foram contra a gente (...). É possível lembrar que a gente pode conquistar de volta essa gente para um projeto para o Brasil", completou.
Lula admitiu que um dos seus erros políticos foi não ter conseguido aprovar a reforma tributária e reconheceu que seu governo "poderia ter evoluído mais nas questões sociais", embora tenha frisado que, se retornar ao poder, finalizará as tarefas pendentes.
Segundo indicou à Efe, tentará aprovar "um referendo revogatório para que a gente possa governar o Brasil" e, ao contrário de 2002, fará uma carta dirigida ao povo e não ao mercado financeiro.
Em nível internacional, Lula destacou um "conservadorismo no mundo todo", que ficou evidente, segundo disse, com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, mas considerou que os setores progressistas democráticos têm "muitas condições de voltar a ganhar as eleições na América Latina".
Com 72 anos e apesar de estar cercado pela Justiça, Lula garantiu sentir-se "muito feliz" com tudo o que conseguiu até o momento e salientou que "ninguém consegue sobreviver na política se não for um construtor de amizades, um construtor de boas relações".