Líder do MST promete resistir a eventual prisão de Lula
Para o ativista, a detenção de Lula empurraria o Brasil para um limbo constitucional, provocando protestos em todo o país
Da Redação
Publicado em 25 de julho de 2017 às 16h49.
Última atualização em 25 de julho de 2017 às 16h50.
Brasília - A possível prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva provocaria protestos em todo o Brasil e ajudaria a abrir caminho para a sua reeleição, segundo o líder do MST , João Pedro Stédile.
"Não aceitaremos esse tipo de perseguição", disse Stédile em entrevista à Bloomberg por email. A detenção de Lula empurraria o Brasil para um limbo constitucional, provocando protestos em todo o país, disse o ativista, cujos amigos incluíram pessoas como o ex-ditador cubano Fidel Castro e o ex-líder palestino Yasser Arafat, e que foi recebido pelo papa Francisco em 2014.
O MST anunciou na manhã desta terça-feira ter ocupado propriedades do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, de um amigo do presidente Michel Temer e do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira.
O grupo Amaggi, fundado pela família Maggi, confirmou a ocupação. O Palácio do Planalto e Ricardo Teixeira não tinham comentado as ocupações até a conclusão desta reportagem. Stédile disse que as ocupações são parte de uma "jornada de lutas em todo o país."
Um dos movimentos sociais mais conhecidos no Brasil, o MST integra uma rede de organizações de esquerda que prometeu defender Lula, recentemente condenado a nove anos e meio de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá.
Desde a sua fundação no início da década de 1980, o MST ficou conhecido por invadir propriedades de políticos e grandes empresas, destruir plantações e máquinas, e ocasionalmente entrar em confronto com a polícia.
Sob pressão de grupos como o MST, a reforma agrária reassentou 1,3 milhão de famílias em uma área quase do tamanho do estado de Mato Grosso.
Lula permanecerá em liberdade enquanto aguarda recurso. Pesquisas de opinião publicadas antes da sentença colocam o ex-presidente como candidato favorito na disputa para a eleição presidencial de 2018.
Pressão em Temer
O MST também exerce pressão sobre os deputados federais para que o presidente Temer seja julgado por corrupção passiva, disse Stédile, um economista de 63 anos e filho de agricultores imigrantes italianos. A denúncia será submetida ao plenário da Câmara no dia 2 de agosto.
Dois terços do plenário, ou 342 deputados, devem votar em favor da acusação para que o caso migre para o STF e resulte, possivelmente, na destituição do presidente.
Stédile defende a antecipação da eleição de 2018 e afirma que "as forças populares lutarão em todos os espaços possíveis para garantir ao presidente Lula o direito de disputar as eleições".
Uma tempestade política estourou no ano passado quando a polícia invadiu o apartamento de Lula e o deteve para interrogatório. O caso gerou pancadaria entre simpatizantes e detratores do ex-presidente.
Em maio, o primeiro encontro cara a cara de Lula com Sergio Moro, o juiz que acabaria por declará-lo culpado, provocou protestos de dezenas de milhares de seguidores do ex-presidente.
Na semana passada, porém, uma manifestação convocada em defesa de Lula atraiu pouca gente, o que gerou dúvida sobre a consistência de sua base de apoio.
Por pregar um discurso radical e fazer apologia da política como um combate, o MST tem dificuldade de ampliar sua base de apoio tradicional, segundo Claudio Gonçalves Couto, cientista político da FGV em São Paulo.
"Manifestações recentes não têm levado tanta gente para a rua, foram pequenas. A eventual prisão de Lula tem capacidade de alterar isso", disse o professor. "Mas para o MST capitalizar em cima disso, ele precisa expandir seu apoio, algo difícil de acontecer".
Stédile admite que manifestações em favor de Lula e contra as reformas pró-mercado do governo Temer não encontraram a amplitude esperada. "Ainda não se criaram as condições para as grandes mobilizações de massa", diz o líder do MST.
Mas os cerca de 14 milhões de brasileiros desempregados e a recente aprovação da reforma trabalhista criam condições para o amadurecimento de grandes manifestações. "Estou certo de que elas virão. É apenas uma questão de tempo".