Em 2018, alta nos preços do diesel levou caminhoneiros a fazer paralisação (Ricardo Moraes/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 16 de abril de 2019 às 14h31.
Última atualização em 16 de abril de 2019 às 14h35.
São Paulo — Na avaliação do líder dos caminhoneiros, Wallace Costa Landim, conhecido como Chorão, o anúncio de uma linha de crédito específica para os profissionais autônomos de até R$ 30 mil agrada a categoria e pode evitar uma nova greve no setor, prestes a estourar a qualquer momento, sob as lideranças que surgem nas redes sociais.
Para bater o martelo sobre a questão, no entanto, a categoria espera ainda pela manifestação do presidente da República, Jair Bolsonaro. "Inicialmente, claro que o pacote agrada (a categoria). Mas preferimos aguardar o que o presidente vai falar para comunicar oficialmente o posicionamento dos caminhoneiros", diz o líder.
Segundo Chorão, Bolsonaro deve se pronunciar sobre o pacote de medidas anunciado pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, ainda nesta terça-feira, 16.
O presidente tem reunião às 16h30 com a equipe econômica, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, e o diretor-Geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Décio Oddone. Na pauta, estão as discussões sobre o preço do óleo diesel.
Nesta terça-feira, Onyx Lorenzoni detalhou uma linha de crédito específica para o caminhoneiro autônomo de até R$ 30 mil, para compra de pneu e manutenção de veículos. A linha de crédito, que está sendo desenhada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), terá R$ 500 milhões disponíveis na primeira liberação.
Segundo Onyx, os financiamentos começarão a ser disponibilizados pelo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. "Depois para os demais brancos e cooperativas de crédito pelo Brasil", afirmou o ministro, sem dar data de quando a linha será efetivamente liberada. O crédito será centrado em caminhoneiros autônomos, que tenham até dois caminhões por CPF.
Depois de anunciar as medidas para aplacar as demandas dos caminhoneiros, o governo negou que tenha se tornado "refém" da categoria. "Não é se entregar à chantagem de caminhoneiro, é ter consciência da importância", afirmou o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.
Em sua fala, Heleno reclamou que o governo está sendo cobrado como se estivesse "no terceiro mandato" e afirmou que o modal rodoviário não é o ideal para o País, mas foi o escolhido há muitos anos. "Está errado o modal rodoviário, mas fizeram essa besteira há muito tempo. Até conseguirmos instalar modal ferroviário e fluvial leva tempo", afirmou.
Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada neste ano, aponta que 34,1% dos caminhoneiros têm pelo menos uma dívida vencida ou a vencer, no valor médio de R$ 32 mil. Para a categoria, o gasto com combustível lidera como maior custo dos caminhoneiros (92,7%), seguido dos custos com pneu (35,3%) e manutenção (32,9%)
Em média, um caminhoneiro autônomo tem vencimentos mensais de R$ 5.011,39, contra R$ 3.720,56 dos empregados de frota.
Levantamento recente da Repom, marca da Edenred Brasil que atua com foco em soluções de gestão e meios de pagamento de despesas de transporte rodoviário de cargas, indica que 30% dos motoristas já tiveram que recorrer ao empréstimo para a manutenção do veículo no Brasil.
No mercado financeiro, os investidores reagiram ao pacote do governo para o setor de transporte de cargas. A Bolsa abriu a tarde em alta firme, com avanço de 1,54% às 13h15, também na expectativa de uma solução para o impasse na questão do reajuste dos preços do óleo diesel.
O tom positivo da Bolsa reflete a leitura de que as medidas, incluindo linha de crédito de até R$ 30 mil para caminhoneiros autônomos e um cartão caminhoneiro para dar estabilidade ao valor do combustível, afastam a possibilidade de uma nova paralisação da categoria, que representa ameaça ao já fraco crescimento doméstico.
Quanto ao diesel, após o pacote, há aposta num entendimento que mantenha alguma autonomia da Petrobras na prática de sua política de preços, sem prejudicá-la, o que ajuda a sustentar as ações da estatal.
O dólar está em alta de 0,73%. Isso porque o efeito da questão do diesel é negativo no câmbio, até pelo lado da percepção de que não há espaço fiscal para subsidiar preços, o que se soma aos principais fatores de alta do dólar no dia: exterior e algum desconforto com o adiamento da votação da admissibilidade da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara para a semana que vem.