Lewandowski diz que fugitivos de Mossoró estavam se dirigindo para o exterior
A busca por Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça foi iniciada em 14 de fevereiro
Agência de notícias
Publicado em 4 de abril de 2024 às 16h22.
Última atualização em 4 de abril de 2024 às 16h34.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski , afirmou que os dois fugitivos que escaparam da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, estavam se dirigindo ao exterior. Após 51 dias de fuga, eles foram recapturados nesta quinta-feira em Marabá, no Pará.
A caçada por Deibson Cabral Nascimento, de 33 anos, e Rogério da Silva Mendonça, de 36, ambos do Acre, começou na manhã da Quarta-feira de Cinzas, 14 de fevereiro, e seguiu até esta quinta-feira. O Ministério da Justiça informou que eles foram detidos em uma ação conjunta das polícias Federal e Rodoviária Federal.
"Eles foram presos a cerca 1,6 mil quilômetros do local da fuga, o que demonstra que obviamente foram ajudados por criminosos externos, e tiveram portanto auxílio de seus comparsas das organizações criminosas as quais eles pertenciam", afirmou Lewandowski.
Lewandowski afirmou que a prisão foi possível a partir de um trabalho de inteligência das forças de segurança, que descobriram a movimentação dos dois fugitivos por uma rodovia do Pará.
"Essa mudança de estratégia foi bem-sucedida, porque a partir do momento que a PF soube que os dois fugitivos não estavam mais no local, eles o monitoram permanentemente até que pudessem ser localizados neste local, na proximidade de Marabá, onde foram presos em uma ponte", afirmou o ministro. "Nessa abordagem, constatou-se que os dois fugitivos estavam num verdadeiro comboio do crime. Três carros apreendidos, com vários celulares e fuzil."
De acordo com o ministro, outras quatro pessoas que estavam ajudando os foragidos no momento da prisão também foram detidas.
"Nessa operação foram presos, não só os fugitivos, mas também quatro comparsas que se encontravam nos demais veículos. Importante dizer que desde o início da operação, 14 pessoas, contando os detidos de hoje, foram presas, envolvidos justamente nesta fuga."
Diretor-geral da Polícia Federal , o delegado Andrei Rodrigues disse que ao serem abordados pelas equipes, os criminosos chegaram a apontar um fuzil. Todos foram levados para a Superintendência da corporação no Pará e devem responder pelo auxílio que prestaram aos fugitivos e também pelo porte da arma.
O ministro da Justiça explicou que os fugitivos irão retornar a Penitenciária Federal de Mossoró, que teve a direção trocada e passou por uma reformulação de protocolos e por uma melhoria na infraestrutura.
"Podemos garantir que o sistema penitenciário federal não é mais o mesmo depois do evento que ocorreu em Mossoró. Fizemos revistas e fiscalizações em todas as unidades. Mais 10 mil câmeras foram adquiridas, sendo parte delas instaladas. Os procedimentos foram reforçados, com revistas diárias, e os problemas estruturais foram consertados", disse André Garcia, secretário nacional de Políticas Penitenciárias.
Onde os fugitivos de Mossoró foram recapturados?
A dupla foi encontrada na cidade de Marabá (PA), que fica a 1,6 mil quilômetros de Mossoró (RN). Inquérito da Polícia Federal apontou que os dois receberam ajuda de uma rede de apoio mobilizada pelo Comando Vermelho, facção criminosa a qual eles eram integrantes no Acre. Os dois atravessaram três estados — Ceará, Piauí e Maranhão — para chegar ao Pará.
Esta foi a primeira fuga registrada na história do sistema penitenciário federal.
Como os fugitivos de Mossoró escaparam?
Em fevereiro, os dois deixaram o presídio de segurança máxima por volta das 3h da madrugada, quando teriam escalado até o teto através de um buraco aberto na luminária e, em seguida, cortado uma cerca. Durante os mais de 50 dias, a operação de buscas mobilizou equipes com cães, drones, helicópteros, reforços de policiamento nas fronteiras do estado e o acionamento da Interpol (Polícia Internacional).
Nos dias seguintes à fuga, foram encontrados pegadas e objetos que pertenceriam à dupla e foram usados para traçar o caminho que eles teriam percorrido. De acordo com o 2º Batalhão da Polícia Militar (2º BPM) foram localizadas duas camisas, uma rede e rastros de sapatilhas semelhantes às usadas pelos internos no presídio federal.
Como foram as buscas pelos fugitivos de Mossoró?
Desde que o caso veio a público, uma operação integrada envolvendo as forças de segurança federais, estaduais e até de estados vizinhos foi montada em Mossoró, com o objetivo de recuperar os foragidos. As tropas fizeram buscas na região, inclusive com uso dos helicópteros da Polícia Rodoviária Federal e do Potiguar 02, da Secretaria de Segurança Pública do estado.
A Polícia Federal investiga se houve facilitação na fuga. Já se sabe, por exemplo, que uma obra que vinha sendo realizada no presídio pode ter contribuído para a empreitada da dupla.
Fugitivos de Mossoró teriam rede de apoio
Durante o período em que estiveram foragidos, Deibson e Rogério teriam contado com uma rede de apoio do lado de fora do presídio. Pelo menos oito pessoas foram presas até hoje. Um dos detidos foi o mecânico Ronaildo Fernandes, que teria recebido R$ 5 mil em sua conta para repassar aos fugitivos.
Fernandes é dono de uma imóvel em Baraúna, na divisa entre Rio Grande do Norte e Ceará, onde a dupla ficou escondida por oito dias. No local, Nascimento e Mendonça se refugiaram em uma cabana montada no meio da roça e cavaram buracos para escapar da vista de drones e helicópteros. Ele alegou inocência, dizendo que foi coagido a prestar o auxílio.
Além das prisões, os agentes cumpriram mandados de busca e apreensão nas cidades de Mossoró (RN), Quixeré (CE) e Aquiraz (CE). Os investigadores desconfiam que os foragidos tenham recebido apoio de integrantes do Comando Vermelho, que atuam na região. Um carro e armamento chegaram a ser apreendidos na residência de um dos alvos.
Lewandowski voltou para verificar como estavam as buscas pelos fugitivos de Mossoró
Lewandowski voltou ao Rio Grande do Norte no dia que antecedia um mês de buscas (13 de março) para verificar como seguem as investigações do caso e declarou que há evidências de que os detentos continuam na região.
— Temos hoje convicção de que eles se encontram na região ainda. No dia 2 de março foram avistados. E no dia 12 de março (ontem) houve rastreamento positivo, que foi feito a partir da constatação de que cães de determinada casa ficaram bastante agitados — afirmou Lewandoswki.
No dia 1 de março eles invadiram um galpão e agrediram o dono da propriedade que fica em uma comunidade rural de Baraúna (RN), na divisa entre o Rio Grande do Norte e o Ceará.
A Inteligência da PF divulgou simulações de possíveis disfarces dos criminosos. As simulações foram elaboradas por papiloscopistas do setor de Representação Facial Humana do Instituto Nacional de Identificação (INI) da PF, em Brasília.