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EXAME/IDEIA: nove em cada dez jovens até 18 anos pretendem tirar título

Pesquisa inédita feita por EXAME/IDEIA mostra o que pensa a geração Z brasileira, da economia ao meio-ambiente — e como isso pode impactar as eleições

Jovens no Lollapalooza: amplo desejo de participação política da "geração Z" brasileira, mas sem ideologia definida (Mauricio Santana/Getty Images)
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Carolina Riveira

Publicado em 18 de abril de 2022 às 06h00.

Última atualização em 18 de abril de 2022 às 16h47.

O apelo para que jovens participem das eleições tomou conta da internet nas últimas semanas: o tema está nos memes, nas dancinhas no TikTok, em postagens de times de futebol e artistas e no radar dos marqueteiros da direita à esquerda.

Nova pesquisa EXAME/IDEIA mostra que o debate tem surtido efeito. Dos jovens com 16 e 17 anos ouvidos, nove em cada dez dos que ainda não possuem título de eleitor afirmaram que pretendem tirá-lo.

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As respostas fazem parte de uma sondagem feita pela EXAME em parceria com o instituto especializado em opinião pública IDEIA, somente com jovens entre 16 e 24 anos, os membros brasileiros da chamada “geração Z”. Foram ouvidas 1.000 pessoas de todo o Brasil nesta faixa etária, entre os dias 4 e 13 de abril ( veja aqui o relatório completo ).

Na prática, o desejo por participar da eleição pode não se materializar a tempo. O prazo para tirar o título de eleitor vai até 4 de maio (veja como tirar o título no fim da página). Os últimos números do TSE no começo de abril apontavam que só um em cada cinco jovens habilitados havia se registrado.

“Mas existe um grande senso de que é preciso participar do processo, tirar o título para votar, e os números mostram que o debate está muito presente”, diz Maurício Moura, fundador do IDEIA.

Ao todo, o grupo entre 16 e 24 anos chega a 29 milhões de pessoas no Brasil, ou 17% da população, um eleitorado que pode ser crucial a qualquer candidato. Só os jovens de 16 e 17 anos, para quem o voto é facultativo, somam 6 milhões.

A pesquisa também perguntou sobre a posição política dos jovens eleitores. Um total de 40% dos brasileiros entre 16 e 24 anos disseram não ter ideologia definida, mas votar “na pessoa”, segundo o EXAME/IDEIA.

Outros 27% disseram ser “mais de esquerda”, 22% “mais de direita” e 12% de centro.

“Chama atenção o alto grau de ‘não ideologia’ da juventude, com quase metade sem definir uma posição”, diz Moura.

Pesquisas anteriores já mostravam o quanto o brasileiro de todas as idades se define pouco politicamente. Mas para Sereno Moreno, diretor de estratégia da consultoria Box 1824, especializada em análise de tendências jovens, o número reflete em partes um traço clássico da geração Z: a rejeição a rótulos.

"É uma geração em que um dos comportamentos emergentes é 'individualizar' muito”, explica. “Então, na política, há uma questão identitária, uma busca por representação: se essa pessoa transmite alguns dos meus valores, se me sinto representada, então independe do partido."

Jovens: quase metade dos brasileiros de 16 a 24 anos se diz muito ou médio ativo em sua igreja (Marcello Casal Jr/Agência Brasil/Agência Brasil)

Dos que já votaram na eleição passada, a maioria (51%) escolheu na ocasião o presidente Jair Bolsonaro (PL). Outros 29% votaram em Fernando Haddad (PT) e 20% não lembram ou não quiseram responder.

Sobre como avaliam o trabalho do governo federal hoje, 47% responderam ruim ou péssimo, 27% regular e 25% ótimo ou bom. A fatia é similar à das pesquisas feitas com eleitores de todas as idades.

Preocupação com a economia e o meio-ambiente

Assim como nas pesquisas com adultos, a sondagem com os jovens brasileiros mostra o alto grau de preocupação com temas econômicos, à medida em que a nova geração chega a um mercado de trabalho desafiador.

Perguntados sobre qual é “o principal problema do Brasil hoje”, os jovens escolheram sobretudo pontos relacionados à crise econômica e ao custo de vida.

“Somando ‘crise’, ‘fome/miséria’, ‘desemprego’ e ‘inflação’, chega-se a 40% que veem isso como principal problema do Brasil, o que mostra uma preocupação muito alta dos jovens com a economia", aponta Moura.

Entre os principais temas estão ainda corrupção (27% acham que este é o principal problema do Brasil) e educação (20%).

-(Arte/Exame)

As preocupações variam entre as faixas etárias: o grupo de 16 e 17 anos, que ainda está na escola, se preocupa mais com educação (31% apontaram que esse é o principal problema) e menos com corrupção (20%).

Enquanto isso, a temática ambiental, um traço da geração Z no mundo — que vira adulta enquanto a crise climática se agrava —, se mostra quase unanimidade.

Perguntados se consideram a crise climática “uma ameaça” para seu futuro, 89% concordaram total ou parcialmente. O número seguiu alto entre todas as faixas etárias e classes sociais na pesquisa.

Manifestantes durante "Greve Global Pelo Clima", em São Paulo: pauta ambiental une jovens em todo o mundo (Victor Moriyama/Bloomberg/Getty Images)

“A grande preocupação dos mais jovens com a questão climática é um tema global, e vemos que isso não é diferente para os jovens brasileiros", diz Moura.

Embora o meio ambiente seja uma unanimidade, outros temas não são: a geração Z brasileira tem visões heterogêneas entre si, que podem ser diferentes em relação ao mesmo grupo em grandes centros urbanos ou em países desenvolvidos.

Nos temas comportamentais, os jovens brasileiros responderam que:

Moura afirma que os jovens refletem "uma sociedade conservadora", apesar de maior abertura dos mais novos a alguns temas polêmicos. "No geral, tudo aponta que o Brasil possivelmente seguirá tendo esse perfil conservador entre as próximas gerações", diz.

O pragmatismo da geração Z

E como essas visões se refletirão na hora de escolher um candidato? Há uma divisão clara entre os jovens, assim como acontece em outras faixas etárias. Para 43%, a ação “mais essencial no programa de um candidato” é combater a desigualdade social, enquanto 41% acreditam que é combater a corrupção.

A dicotomia entre corrupção e costumes versus economia é apontada como crucial na disputa presidencial deste ano, em que o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula (PT) são os favoritos para ir ao segundo turno.

"Os que hoje são jovens cresceram com a corrupção sendo um grande tema no noticiário, e isso ficou no imaginário deles", aponta Moreno, da Box 1824.

"Ao mesmo tempo, os temas econômicos mostram muito da visão pragmática dessa geração, é um grupo em que a busca pela segurança impera”, diz. “Esses jovens viram os pais perdendo renda na pandemia e muitos já estão pressionados a serem eles próprios fonte de renda da casa."

O pragmatismo é um dos traços que opõem a geração Z aos “millennials” ou “geração Y” (dos que nasceram a partir da década de 1980 e até meados dos anos 1990). Enquanto os millennials eram descritos, grosso modo, como buscando propósito e felicidade no trabalho, preferindo experiências a bens e não se importando tanto com dinheiro, os Z, que viram a geração anterior sofrer com recursos insuficientes, são muito antenados a temas comportamentais e ambientais, mas sempre com o pé no chão e urgência por resolver os problemas.

A busca dos jovens por estabilidade no mercado de trabalho é um exemplo: perguntados sobre qual trabalho prefeririam se pudessem escolher, quase 60% disseram que gostaria de trabalhar com carteira assinada ou fazer um concurso público.

“Se somar as pessoas que querem ter carteira assinada e concurso público, é um número bastante alto”, diz Moura.

“E há alguma diferença de renda: jovens de classe média e alta têm um maior percentual almejando ser empreendedores, embora o número esteja perto de um terço em todas as classes.”

Mesmo o desejo por ter a própria empresa traz consigo algumas dificuldades brasileiras, com muitos adolescentes já trabalhando por conta própria ou fazendo "bicos", diz Moreno. Na base da pesquisa EXAME/IDEIA, só 44% dos jovens de 16 e 17 anos disseram que apenas estudam.

"Muitos são jovens que vão para a 'correria', trabalhos informais, coisas que eles fazem ou vendem até em suas próprias redes. Então, ter sua própria empresa é o expoente disso", diz o especialista, que realiza uma série de pesquisas, entrevistas e grupos focais constantes com jovens brasileiros. "Mas, sobretudo entre os jovens de menor renda, eu diria que é mais uma busca por ser ‘empreendedor de mim mesmo’ do que o desejo de criar a próxima startup do futuro", explica.

A geração Z do Brasil é um reflexo da mistura complexa entre o conservadorismo da população e a inevitável maior abertura ao diálogo e identidades diversas — em uma geração que nasceu na internet e cresceu na crise. Entender o jovem brasileiro, assim como entender a população adulta, exige olhar para as nuances.


SERVIÇO: Como tirar o título de eleitor online

O título de eleitor pode ser solicitado de forma gratuita e em dez minutos, segundo o TSE, e o processo pode ser feito pela internet. Desde o fim do ano passado, as buscas por “tirar título de eleitor” no Google dispararam quase 400%.

O prazo para tirar o título de eleitor ou regularizar a situação eleitoral é até 4 de maio. Do contrário, não será possível votar nas eleições de novembro.

Veja abaixo o passo a passo para tirar o título de eleitor:

Para tirar o título online, o eleitor precisará fotografar os seguintes documentos:

O voto no Brasil é autorizado para jovens a partir de 16 anos, mas é facultativo nesta faixa etária, e tirar o título não obriga o cidadão a votar. O voto só passa a ser obrigatório aos 18 anos.

Mais informações sobre como tirar o título de eleitor podem ser encontradas no site do TSE.

 

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