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Jean Wyllys diz que desistiu de mandato e vai deixar Brasil após ameaças

Eleito pela terceira vez deputado federal pelo PSOL, ele foi o primeiro parlamentar assumidamente gay a encampar agenda LGBT e vivia sob escolta policial

Wyllys: deputado disse que agora vai focar em sua vida acadêmica (foto/Agência Câmara)

Wyllys: deputado disse que agora vai focar em sua vida acadêmica (foto/Agência Câmara)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 24 de janeiro de 2019 às 15h47.

Última atualização em 24 de janeiro de 2019 às 18h20.

São Paulo — Jean Wyllys, eleito pela terceira vez consecutiva deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro, decidiu não assumir o mandato.

Ele está fora do Brasil em férias, em um local não revelado, e não pretende voltar. A decisão foi divulgada em entrevista exclusiva para o jornal Folha de São Paulo publicada nesta quinta-feira (24).

O parlamentar diz que decidiu deixar a vida pública e se dedicar a retomar sua carreira acadêmica devido a ameaças recebidas no país.

"Preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores. Fizemos muito pelo bem comum. E faremos muito mais quando chegar o novo tempo, não importa que façamos por outros meios! Obrigado a todas e todos vocês, de todo coração. Axé!", escreveu Wyllys em sua conta oficial no Facebook.

Eleito pela primeira vez em 2010, ele foi o primeiro parlamentar assumidamente homossexual a levantar pautas da comunidade LGBT no Legislativo.

Nas eleições do ano passado, Wyllys quase não foi reeleito: ele recebeu 24.295 votos e ficou na última posição das 46 vagas reservadas para o Rio de Janeiro.

O seu suplente, que deve assumir o mandato de deputado federal no seu lugar, é o vereador carioca David Miranda (PSOL-RJ), que também é homossexual.

Wyllys era alvo frequente de notícias falsas. Recentemente, a Justiça condenou Alexandre Frota, deputado federal eleito pelo PSL, a prestação de serviços e multa por ter atribuído a Wyllys uma defesa da pedofilia que ele jamais fez.

Desde o assassinato de Marielle Franco, sua companheira de partido, em março do ano passado, Wyllys vive sob escolta policial:

"Eu não quero ser mártir. Eu quero viver", disse ele para a Folha, apontando também o aumento nos relatos de violência homofóbica e política durante e após o período eleitoral.

Ele cita o caso da desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), Marília Castro Neves, que sugeriu em uma postagem que Jean fosse fuzilado.

Outro ponto que pesou, segundo ele, foram as revelações recentes de que familiares do ex-PM suspeito de chefiar milícia investigada pela morte de Marielle e que está foragido trabalharam no gabinete do senador eleito Flávio Bolsonaro quando ele era deputado estadual pelo Rio de Janeiro.

"Me apavora saber que o filho do presidente contratou no seu gabinete a esposa e a mãe do sicário", diz Wyllys.

"O presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim".

Jair Bolsonaro já disse em entrevistas que é “homofóbico, com muito orgulho” e que preferia ter um filho morto a um filho homossexual, entre outras declarações homofóbicas documentadas ao longo dos anos.

Wyllys, que tem 44 anos, era professor universitário e escritor e ganhou projeção nacional ao vencer a quinta edição do programa Big Brother, da TV Globo, em 2005.

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