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Irã pede explicações a representante do Brasil após nota do Itamaraty

Convocação da diplomata aconteceu após Itamaraty manifestar "apoio à luta contra o flagelo do terrorismo"

Irã: segundo o Itamaraty, a conversa foi reservada e "transcorreu com cordialidade, dentro da usual prática diplomática" (Sir Francis Canker Photography/Getty Images)

Irã: segundo o Itamaraty, a conversa foi reservada e "transcorreu com cordialidade, dentro da usual prática diplomática" (Sir Francis Canker Photography/Getty Images)

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Clara Cerioni

Publicado em 7 de janeiro de 2020 às 08h47.

Última atualização em 13 de janeiro de 2020 às 13h45.

São Paulo — O Ministério das Relações Exteriores afirmou, nesta terça-feira (07), que a encarregada de negócios do Brasil em Teerã foi convocada pela chancelaria iraniana para uma conversa após manifestação do governo brasileiro a respeito da morte do general iraniano Qassem Suleimani em um ataque de drone norte-americano em Bagdá.

Segundo o Itamaraty, a conversa foi reservada e "transcorreu com cordialidade, dentro da usual prática diplomática". O MRE acrescentou que não irá comentar o conteúdo da reunião.

"Informamos que a Encarregada de Negócios do Brasil em Teerã, assim como representantes de países que se manifestaram sobre os acontecimentos em Bagdá, foram convocados pela chancelaria iraniana. A conversa, cujo teor é reservado e não será comentado pelo Itamaraty, transcorreu com cordialidade, dentro da usual prática diplomática", disse o Itamaraty.

Como o embaixador do Brasil naquele país, Rodrigo Azeredo, está de férias, a encarregada de negócios da embaixada, Maria Cristina Lopes, representou o governo brasileiro na reunião no Ministério das Relações Exteriores iraniano. 

O assunto, pela hashtag #IranBrazil, está entre os mais comentados do Twitter brasileiro nesta manhã.

A convocação da diplomata brasileira em Teerã ocorreu após o Itamaraty emitir uma nota na sexta-feira (03) sobre a morte de Soleimani manifestando "apoio à luta contra o flagelo do terrorismo".

O órgão brasileiro condenou várias vezes o terrorismo e, sem citar nomes, usou uma linguagem diplomática para demonstrar que, para o governo brasileiro, o general iraniano e a própria Guarda Revolucionária poderiam ser classificados como terroristas.

"Ao tomar conhecimento das ações conduzidas pelos EUA nos últimos dias no Iraque, o governo brasileiro manifesta seu apoio à luta contra o flagelo do terrorismo e reitera que essa luta requer a cooperação de toda a comunidade internacional sem que se busque qualquer justificativa ou relativização para o terrorismo", diz um trecho do comunicado, intitulado "Acontecimentos no Iraque e luta contra o terrorismo".

Na nota, o governo diz que "o Brasil está igualmente pronto a participar de esforços internacionais que contribuam para evitar uma escalada de conflitos neste momento".

Destaca, ainda, que o terrorismo não pode ser considerado um problema restrito ao Oriente Médio e aos países desenvolvidos, "e o Brasil não pode permanecer indiferente a essa ameaça, que afeta inclusive a América do Sul".

Para Carolina Pedroso, coordenadora de Relações Internacionais da Universidade de Ribeirão Preto e pesquisadora da Universidade Estadual de São Paulo, é improvável que o Brasil vire foco de alguma ação por parte do Irã, mas avalia que as relações diplomáticas entre os dois países foram abaladas.

"Se olharmos para as lentes da tradição da diplomacia brasileira, a nota do Itamaraty teria algo um pouco mais comedido no sentido de que iria condenar também o ataque americano e a violação da soberania do Iraque. Mas, da forma com que a nota foi divulgada, o Irã exige explicações", diz.

A especialista relembra que o Irã é um dos atores de combate ao Estado Islâmico na guerra da Síria: "Como o Brasil, que sempre manteve boas relações diplomáticas com Irã agora se posiciona como se o país terrorista ou financiasse o terrorismo?". Ela acrescenta que, apesar de ter mexido nas relações diplomáticas, o Brasil não deve se preocupar com uma possível retaliação.

Ataque

No último dia 02, o general e herói para o governo iraniano Qasem Soleimani e o líder paramilitar iraquiano Abu Mehdi al-Muhandis morreram em um ataque dos EUA contra o Aeroporto de Bagdá, três dias após manifestantes pró-Irã tentarem invadir a embaixada americana na capital do Iraque, confirmou o Pentágono.

Segundo o departamento americano de Defesa, a ordem para liquidar Soleimani partiu diretamente de Donald Trump.

“Sob as ordens do presidente, o Exército americano adotou medidas defensivas decisivas para proteger o pessoal americano e estrangeiro e matou Qasem Soleimani”, informou o Pentágono.

Nos últimos dias, uma escalada de tensão fez Trump afirmar que tem 52 alvos iranianos na mira, em caso de o país reagir à morte de seu general. 

Nesta segunda-feira (06), uma enorme multidão se reuniu para a cerimônia fúnebre de Soleimani em Teerã. Pedidos de uma vingança dura contra os autores do seu assassinato, vindos da filha do militar, de altas autoridades e também de manifestações espontâneas da população iraniana, foram a tônica da despedida da capital ao general

(Com informações da Reuters e da Agência O Globo)

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