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Intervenção divide especialistas e representantes das polícias

O acordo veio após onda de violência que começou ainda em 2016, quando o RJ decretou calamidade financeira e atingiu o ponto máximo durante o Carnaval

Intervenção no RJ: "A violência se alastrou muito, e só com intervenção e integração vamos conseguir vencer essa quantidade absurda de armas no Rio", disse o governador Pezão (Tânia Rêgo/Reuters)
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Reuters

Publicado em 16 de fevereiro de 2018 às 17h47.

Rio de Janeiro - A inédita decisão de intervenção federal na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro está dividindo opiniões de especialistas, representantes das polícias e da própria população local.

O decreto para a intervenção federal foi assinado nessa sexta-feira após intensas negociações nas últimas horas entre os governos federal e estadual. O acordo veio após uma onda de violência no Estado que começou ainda em 2016, quando o Rio de Janeiro decretou calamidade financeira, se agravou em 2017, ano em que os casos de roubos de cargas, balas perdidas e mortes de policiais avançaram e atingiu o ponto máximo durante o Carnaval deste ano.

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Nos dias de folia, quando mais de 6 milhões de pessoas, sendo um quarto de fora do Rio, brincavam nos quase 500 blocos autorizados, cenas de arrastões, brigas, assaltos, tumultos no metrô, invasão a aeroporto, mortes e balas perdidas colocaram o problema da criminalidade no Rio de Janeiro ainda mais sob os holofotes.

Para o presidente da Associação dos Policiais Militares do Rio de Janeiro, Fernando Belo, a situação da violência no Estado exige uma atuação mais dura.

"É triste a situação em que o Rio chegou, mas a intervenção é esperança de que as coisas possam se resolver mesmo que tardiamente", disse ele à Reuters.

Para Belo, é preciso estancar a morte de inocentes no Rio de Janeiro por bem ou por mal.

"Pode haver um banho de sangue (com a intervenção), acredito que sim, mas às vezes para se ter paz é preciso derramar sangue, não de inocentes, mas dos bandidos que assolam o Estado de forma impiedosa", acrescentou.

Já Fernando Bandeira, presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Rio de Janeiro, é totalmente contra a intervenção e considera que a medida remete ao período da ditadura militar.

"Isso é uma imposição, parece que voltamos aos tempos da ditadura. A solução não está aí", avaliou.

Os dois representante de classe concordam em um ponto: que para melhorar a segurança no Estado é preciso retomar investimentos, capacitação e diminuir a defasagem de policiais nos quadros da Polícia Militar e da Polícia Civil.

O especialista em segurança, Paulo Storani, ex-subcomandante do Bope, tropa de elite da PM do Rio de Janeiro, discorda da intervenção na segurança do Estado e defende um esvaziamento das Unidades de Polícia Pacificadora (são quase 40 ), para aumentar o efetivo nas ruas do Rio de Janeiro

"Por que achar que uma intervenção vai dar certo se o governo federal não consegue fazer o seu próprio dever de casa? Eles não controlam fronteiras secas e molhadas do país, não têm acordos diplomáticos com os países vizinhos para evitar entrada de armas e drogas", disse ele à Reuters

"Não se deve esperar grandes prisões e apreensões até porque vão atuar em áreas desconhecidas e não tem a capacitação para essas ações... o ideal seria liberar homens hoje destacados para UPPs para atuar nas ruas. Já passou da hora de admitir a ineficiência das unidades e desmobilizá-las", acrescentou.

Nas ruas, as opiniões estão dividas.

"Acho temerário e pode ser uma jogada política, parece mais um paliativo", disse o servidor público Alan Souza.

Já o advogado Luiz Fernando Almeida está mais otimista coma intervenção. "O Rio de Janeiro quebrou, acabou, tem que tentar algo mesmo. As pessoas estão com medo de sair de casa e isso não pode continuar", disse.

O governador do Estado, Luiz Fernando Pezão (MDB), disse à Reuters que aceitou a intervenção porque esse lhe parece ser o único caminho para o Rio vencer a criminalidade.

"A violência se alastrou muito, e só com intervenção e integração vamos conseguir vencer essa quantidade absurda de armas no Rio", disse. "Estou pensando na população e preocupado com ela."

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