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Pantanal enfrenta incêndios históricos: 'Respiro fumaça o dia todo', relata moradora da região

Especialistas e autoridades concordam que os incêndios atuais estão ligados às mudanças climáticas

(Joédson Alves/Agência Brasil)
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 4 de julho de 2024 às 06h55.

Medo de perder tudo ou de adoecer.Os habitantes da região brasileira do Pantanal enfrentam incêndios históricos alimentados por uma seca severa que ameaça o maior humedal do mundo. "É caótico", explica Erica Cristina à AFP, no porto da cidade de Corumbá (centro-oeste), onde o fogo tingiu o céu de vermelho intenso.

"Respiro fumaça o dia todo", afirma ela, proprietária de um bar à beira do rio que ficou coberto de fuligem devido a um grande foco de incêndio declarado na semana passada do outro lado do rio Paraguai.

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Especialistas e autoridades concordam que os incêndios atuais no Pantanal, Patrimônio Natural da Humanidade conhecido por sua rica biodiversidade, estão ligados às mudanças climáticas que causaram uma seca intensa nos últimos meses.

Entre 1º de janeiro e 25 de junho, foram detectados 3.372 focos na região, superando o recorde de 2.523 registrados no mesmo período de 2020, segundo dados oficiais.

"Este ano os incêndios e a seca chegaram mais cedo. Geralmente começam em agosto, mas na região não chove há 50 dias", explica Bruno Bellan, de 25 anos, um criador de gado local.

Bruno administra a fazenda da família na zona rural de Corumbá, no estado de Mato Grosso do Sul, que está em estado de emergência desde segunda-feira devido aos incêndios.

A fazenda, onde ele cria 900 cabeças de gado, fica a quase dois quilômetros de um grande foco de incêndio, para o qual bombeiros e militares tentavam acessar esta semana de forma coordenada.

"Estamos preocupados que o fogo entre na fazenda e cause destruição. O gado está assustado e pode se perder no meio das chamas. Vamos trazer os animais mais perto da fazenda", diz Bruno.

Seca e crimes agravam incêndio no Pantanal

Fora da curva

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, alertou na segunda-feira que o Pantanal enfrenta "uma das piores situações já vistas".

"Toda a bacia do Paraguai está sofrendo uma escassez hídrica severa. Não tivemos as inundações habituais nem a transição entre El Niño e La Niña ", dois fenômenos climáticos que influenciam as chuvas, disse ela.

No ano passado, o Pantanal foi o bioma brasileiro mais afetado pela seca, com uma redução de 61% na superfície úmida em relação à média histórica, conforme um estudo da rede MapBiomas publicado nesta quarta-feira.

A seca "fez com que uma grande quantidade de matéria orgânica em ponto de combustão causasse esses incêndios que estão fora de todos os padrões", disse Silva, que visitará a região na sexta-feira.

Os incêndios estão se espalhando principalmente devido à ação humana, para renovar pastagens ou expandir terras agrícolas.

As autoridades proibiram o uso do fogo até o final do ano e prometeram punir os responsáveis por incêndios criminosos.

Um futuro incerto

Para Erica Cristina, que é do Rio de Janeiro e mora na região há 15 anos, asituação para os habitantes do Pantanal "está piorando com o passar dos anos".

"Muitas pessoas perderam suas casas" nos incêndios desde 2020, lamenta ela, descrevendo também "os problemas respiratórios" que sobrecarregam os centros médicos.

Mas ela se recusa a desistir e fechar seu bar. "Como vamos viver?", pergunta essa mãe de três filhos adultos, pedindo mais recursos às autoridades, mas também "empatia com as pessoas".

Naldinei Ivan Ojeda, de 53 anos, nascido em Corumbá, admite que está considerando deixar a cidade devido aos problemas respiratórios que ele e seu filho de 15 anos enfrentam.

Ao mesmo tempo, este militar aposentado culpa os responsáveis pela propagação do fogo. "Não há incêndios acidentais no Pantanal. Nunca vi um fogo começar do nada aqui. Todo ano é a mesma coisa."

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