Brasil

Impeachment não tem menor cabimento, diz ministro Cardozo

No EXAME Fórum, ministro diz que "ainda existe da parte de alguns agentes políticos a ideia de que somos uma republica de bananas"

O ministro da Justiça, José Roberto Cardozo, durante o EXAME Fórum (Flávio Santana, Biofoto)

O ministro da Justiça, José Roberto Cardozo, durante o EXAME Fórum (Flávio Santana, Biofoto)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 31 de agosto de 2015 às 17h31.

São Paulo - José Roberto Cardozo, ministro da Justiça do governo Dilma, disse hoje que o impeachment "não tem o menor cabimento jurídico".

Segundo ele, não há fato atribuído diretamente a presidente e um afastamento venderia uma imagem do Brasil que não condiz com sua realidade institucional, além de arrastar um processo de crise política:

"É como se eu quisesse dizer: sob um manto jurídico que não existe, eu quero tirar alguém do poder. Ainda existe da parte de alguns agentes políticos a ideia de que somos uma república de bananas. O Brasl é hoje uma democracia e é isso que nos faz respeitados no mundo".

As declarações foram dadas no EXAME Fórum nesta segunda-feira em conversa com André Lahoz, diretor de redação da revista EXAME.

Programado para encerrar o evento, Cardozo acabou falando no lugar do ministro Joaquim Levy no evento, que também contou com o juiz Sérgio Moro e Augusto Nardes, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).

Cardozo lembrou que recebe críticas de todos os lados do espectro político por supostamente controlar (ou não) a Operação Lava Jato, mas que essa não é sua prerrogativa constitucional e não é a orientação que recebe da presidente.

Ele disse que a Lava Jato "traz um grande ganho pro país", mas que isso não exclui a possibilidade de arbítrios e de vazamentos ilegais, que devem ser investigados e punidos.

O episódio de ontem, quando o ministro foi hostilizado por manifestantes anti-governo, também foi comentado:

"As vezes vivemos momentos de intolerância à esquerda e à direita que são inaceitáveis e precisamos combater isso. Devem conviver na divergência e duelar, mas se respeitando."

Política no Brasil

A dificuldade de construir convergências foi o tema mais citado pelo ministro. Ele disse que nosso sistema atualmente não dá a estabilidade necessária para enfrentar conjunturas econômicas difíceis ou buscar pactuar saídas:

"Nós nunca podemos imaginar a economia dissociada da política ou a politica dissociada da economia. Às vezes a crise de uma gera da outra e as vezes elas se retroalimentam. (...) É mais do que a hora das forças sociais buscarem pactuar saídas dentro das instituições e da legalidade."

Cardozo disse que o nosso sistema político valoriza o individualismo e alimenta a divergência. Sua reforma política ideal teria financiamento público de campanha e voto distrital misto.

Mas ele não acredita que seja possível disparar uma reforma política de dentro: "ela só sairá se a sociedade desvelar as mazelas do nosso sistema. Se depender estruturalmente de quem foi eleito por certas regras, elas não mudarão".

Cardozo criticou o "senso de desapego ao resultado" de quem vota contra a própria consciência do que é certo só para prejudicar o governo ou forçar um veto desgastante.

"A politica brasileira ainda tem uma certa dimensão pueril e as pessoas não se colocam acima dos interesses partidários. Temos muito bons políticos e poucos estadistas. As pessoas tem que ter a grandiosidade de sentar e conversar."

Isso não significa que uma figura possa unir o país: "Esperar que há salvadores da pátria: esqueçam. A democracia brasileira exige atores conscientes e não super-homens. Não há monólogo na sociedade democrática".

Dilma e PT

A plateia aplaudiu quando foi lida uma pergunta sobre como unir o país com uma presidente "de personalidade desagregadora". Cardozo discordou e disse que essa visão era baseada em uma boa dose de machismo (e teve alguns aplausos).

"Muitas vezes, mulheres que agem com energia são mal vistas quando um homem na mesma posição não seria. Porque se espera da mulher um gesto mais frágil, mais doce. A presidenta tem sim uma personalidade forte e ela comanda - isso traz a algumas pessoas surpresa. Mas não vejo gestos desagregadores."

Ele notou que essa visão também é conjuntural: a dureza de Dilma era ressaltada no início do seu primeiro mandato e isso não a impediu (ou ajudou) de conseguir uma popularidade alta: "Ela tem condições sim de aglutinar, mas não experem dela fragilidade".

Cardozo disse que pretende participar intensamente das discussões internas do PT quando sair do governo e que o partido precisa ser "intransigente na questão ética".

Acompanhe tudo sobre:Dilma Rousseffeventos-exameEXAME FórumGoverno DilmaImpeachmentMinistério da Justiça e Segurança PúblicaPersonalidadesPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos Trabalhadores

Mais de Brasil

Convenção para oficializar chapa Boulos-Marta em SP terá Lula e 7 ministros do governo

Convenção do PRTB e disputas judiciais podem barrar Pablo Marçal na disputa em SP; entenda

TSE divulga perfil do eleitor que vai às urnas em outubro; veja qual é

Brasil terá mais de 155 milhões de eleitores nas eleições municipais de 2024

Mais na Exame