Prefeito Fernando Haddad: "Eu não vou ceder um milímetro por causa de ganhos políticos" (Marcelo Camargo/ABr)
Da Redação
Publicado em 22 de dezembro de 2013 às 08h25.
São Paulo - "Quando assumi o desafio de vencer as eleições em São Paulo, todos diziam que seria impossível ganhar. Eu tinha certeza de que ganharia", diz Fernando Haddad (PT), em entrevista concedida ao Estado nesta semana. O problema é que, neste momento, ele está perdendo no dia a dia e nos bastidores. É hoje o prefeito mais pressionado do País. Pressionado pelos tribunais, por grupos da sociedade (sem-teto e taxistas), pelo Ministério Público, pela baixa popularidade e até pelo PT.
A popularidade da presidente Dilma Rousseff aumenta, mas a de Haddad não. Desde junho, os protestos de rua diminuíram - mas ele continua a enfrentar manifestações, de taxistas a sem-teto. Até onde deveria ter aliados, em Brasília, só se ouvem críticas e lamentações. O prefeito é o alvo número das críticas quando a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, planejam a campanha petista de 2014 na praça mais importante do País. Em Brasília, o comentário é que Haddad precisa mudar o estilo e ir para a rua defender o seu governo, se não quiser pôr tudo a perder.
Nesta semana, um deputado do PT com trânsito no Palácio do Planalto chegou a comparar Haddad a Luiza Erundina (PSB). Eleita prefeita de São Paulo pelo PT, em 1988, Erundina comprou briga feia com o partido durante a gestão. As divergências iam desde o custo da passagem de ônibus ao "IPTU progressivo". Resultado: o PT perdeu a eleição seguinte, em 1992, para Paulo Maluf. Erundina deixou o partido em 1998.
O governo Dilma, a cúpula do PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva temem que a história de 1988 se repita. Sob o argumento da "vacina", pregam agora uma espécie de intervenção na Prefeitura, com a escolha de um secretário de Governo indicado pelo partido para "cuidar da política".
Em conversas reservadas, ministros, parlamentares e dirigentes petistas afirmam que Haddad "não colabora" e, se não recuperar a popularidade, pode prejudicar não apenas Padilha, candidato do PT ao governo paulista, como a campanha de reeleição de Dilma.
Como Marta
Haddad não esconde a irritação com as cobranças. "Eu não vou ceder um milímetro por causa de ganhos políticos", diz ele. Em entrevista ao Estado, preferiu comparar sua gestão com a da atual ministra da Cultura, Marta Suplicy. "(Foi) Mais difícil (que o primeiro ano do governo Marta, do qual foi secretário adjunto de Finanças). Mas nós conseguimos equacionar bem o ano." Na época, Marta teve altos índices de rejeição após aumentar a tarifa de ônibus e criar o IPTU progressivo. No ano seguinte, ainda criou a polêmica Taxa do Lixo, que lhe rendeu o apelido de "Martaxa".
Os termos de comparação são parecidos quando fala de reeleição. "Eu não funciono pensando em reeleição. Já vi a Marta fazer um belíssimo papel, atingir quase 50% de "ótimo e bom" e não se reeleger. Minha obsessão primeira é recuperar a capacidade de a cidade investir no desenvolvimento."
"Pensei que iam tratar você com carinho, mas me enganei", afirmou Lula ao prefeito, na abertura do 5.º Congresso do PT, no último dia 12. "Ninguém quer saber se você é lindo ou o que está fazendo. O problema é uma coisinha chamada PT."
A portas fechadas, Haddad avalia ter sido abandonado pelo governo Dilma, que deixou a Prefeitura em apuros, sem dinheiro para nada. Além disso, sofreu um revés atrás do outro neste primeiro ano de governo.
O último foi na sexta-feira, quando o Supremo Tribunal Federal barrou o aumento do IPTU em 2014. Inconformado, Haddad atacou o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que vai disputar o Palácio dos Bandeirantes pelo PMDB, um partido aliado de Dilma. Skaf fez campanha contra o aumento do IPTU.
O futuro da senzala
"A Casa Grande não deixa a desigualdade ser reduzida na cidade", provocou o prefeito. Para ele, Skaf representa a "Casa Grande" e a Prefeitura virou a "senzala".
A declaração provocou mal-estar no Planalto. Para ministros do PT, Haddad peca por não fazer política e virar as costas para possíveis aliados em 2014. Ele também se indispôs com Gilberto Kassab (PSD) ao dizer que a investigação da máfia dos fiscais era uma resposta à situação de "descalabro"encontrada na Prefeitura. A reação de Kassab foi no mesmo tom. Depois de uma articulação na linha "deixa disso", Dilma, Lula, Padilha e o PT se preocupam agora com o futuro da "senzala".
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.