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Há espaço para uma multinacional brasileira?

Aumenta a discussão a respeito de uma possível fusão entre a Oi e a Brasil Telecom para fazer frente às operadoras estrangeiras

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h30.

No mercado latino-americano de telecomunicações reinam hoje dois titãs: a mexicana Telmex/América Móvel e a espanhola Telefónica. Juntas, elas possuem mais de 70% dos telefones fixos e celulares da região. No Brasil, o grupo mexicano controla a Claro e a Embratel e tem participação na operadora de TV a cabo Net. De seu lado, a Telefônica possui uma base de 12,4 milhões de linhas fixas e, em sociedade com a Portugal Telecom, administra a Vivo, que detém 28% do mercado de celulares do país. Nos últimos tempos, começou a circular a idéia de que o Brasil precisa ter uma empresa para enfrentar as duas multinacionais. A saída seria consolidar duas grandes companhias que atuam em territórios complementares -- a Brasil Telecom e a Oi (ex-Telemar). A eventual fusão tem recebido manifestações de apoio de nomes-chave do governo, entre eles os ministros das Comunicações, Hélio Costa, e da Casa Civil, Dilma Rousseff. Para que a união se concretize, seria preciso, antes de mais nada, um decreto presidencial alterando o Plano Geral de Outorgas (PGO), que impõe barreiras à fusão das concessionárias.

Os presidentes das duas operadoras, Luiz Eduardo Falco (Oi) e Ricardo Knoepfelmacher (Brasil Telecom), têm evitado manifestar-se sobre a possível fusão. Afirmam que essa é uma questão que depende dos acionistas. Mas ambos os executivos já se referiram publicamente ao assunto com simpatia. "Se o Brasil quiser fazer parte do cenário internacional, só terá chance se tiver escala", afirma Falco. "A Oi e a Brasil Telecom são grandes regionalmente, mas não globalmente. Se não houver massa crítica, poderão ser absorvidas no futuro."

Para as duas operadoras, a eventual fusão faz todo o sentido. Enquanto a Brasil Telecom atua hoje nas regiões Sul e Centro-Oeste e nos estados de Tocantins, Acre e Rondônia, a Oi detém a concessão nos demais estados da Região Norte, de todo o Nordeste e do Sudeste. Juntas, as duas empresas cobririam o Brasil. Não somente isso: ganhariam escala para negociar com fornecedores, oferecer pacotes de serviços convergentes e realizar promoções mais agressivas. E criariam  musculatura para competir por mercados fora do Brasil.

Briga de gigantes
Como seria a disputa pelo mercado latino-americano se a Oi e a Brasil Telecom se fundissem em uma única empresa
 Telefônica(1)Telmex/ América Móvel(1)OI + Brasil Telecom(1)
Número de assinantes de telefonia fixa23,9 milhões21,4 milhões22,4 milhões
Número de assinantes de telefonia móvel90,6 milhões128,6 milhões17,3 milhões
Principais mercadosBrasil, Argentina, ChileMéxico, Colômbia, BrasilBrasil
Receita líquida na América Latina (em dólares)(2)12,8 bilhões26 bilhões8,6(3) bilhões
(1) Mercado da América Latina
(2) No primeiro semestre de 2007
(3) Valor convertido pela taxa cambial de 29/6/2007
(1 dólar = 1 ,92 real)

E o consumidor, o que teria a ganhar com isso? Na opinião do consultor Verner Dittmer, ex-diretor da Siemens, para os clientes é indiferente se as duas empresas atuam juntas ou separadas. "O que interessa são serviços, qualidade e custo", diz. Como o poder de barganha da multinacional brasileira continuaria muito aquém das duas empresas dominantes (veja quadro), há quem minimize o impacto da eventual fusão no mercado. "Faltará à nova empresa capacidade gerencial e financeira para uma disputa real", diz um executivo do setor, que pediu para não ser identificado. "Além disso, num contexto em que já existem duas grandes competidoras e o perfil de renda é perverso na América Latina, o que poderia fazer uma terceira empresa sem um diferencial de mercado?"

Se o governo brasileiro decidir alterar a lei que rege as telecomunicações, os defensores da idéia de uma multinacional brasileira esperam a inclusão de uma cláusula para impedir a formação de monopólio ou duopólio. Caso contrário, uma vez derrubadas as barreiras à fusão de empresas, a tendência é que Telmex e Telefônica também procurem ampliar suas atuações. Qualquer uma delas, ou ambas, seria candidata à compra da Brasil Telecom ou da Oi -- levando por água abaixo o plano de uma multinacional brasileira.

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