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Há (de fato) alguma chance de Dilma voltar ao poder?

Indecisão de senadores e desgaste do governo Temer serão suficientes para que Dilma Rousseff retome seu posto no Planalto? Três consultorias dão seu parecer


	Dilma Rousseff minutos após receber intimação para se afastar do cargo: para analistas, são baixas as chances da petista voltar ao Planalto
 (Paulo Whitaker / Reuters)

Dilma Rousseff minutos após receber intimação para se afastar do cargo: para analistas, são baixas as chances da petista voltar ao Planalto (Paulo Whitaker / Reuters)

Talita Abrantes

Talita Abrantes

Publicado em 13 de junho de 2016 às 10h52.

São Paulo – “Não esmoreço. Olho para trás e vejo tudo o que fizemos. Olho para frente e vejo tudo o que precisamos e podemos fazer”. Foi com essas palavras que, há um mês, a presidente afastada Dilma Rousseff (PT) se despediu do exercício de seu mandato.

Nos últimos 30 dias, a petista cumpriu o papel (ao menos diante das câmeras) de quem não desiste fácil: povoou as redes sociais com críticas à atual gestão, viajou pelo país para engrossar o coro dos que gritam “fora, Temer” e declarou apoio até à convocação de um plebiscito para consultar a população sobre a possibilidade de novas eleições ainda neste ano.

No entanto, segundo especialistas sondados por EXAME.com, essa estratégia não será suficiente para reverter o placar hoje desfavorável a ela no Senado Federal.

Há um mês, 55 senadores votaram pela abertura do julgamento de impeachment contra a petista e seu consequente afastamento.

Em outros termos, se nenhum senador mudar seu voto, a Casa já teria o necessário para impedir o mandato da presidente afastada. Vale lembrar: para que o processo seja levado a cabo, é necessário que 2/3 (54 votos) dos senadores o aprovem. 

O Senado que irá votar o impeachment, provavelmente, no início de agosto será sutilmente diferente daquele que afastou Dilma em maio.

Ao menos cinco parlamentares que não estavam presentes há um mês devem acompanhar a votação: dois deles são suplentes de hoje ministros de Michel Temer (PMDB), um substitui o senador cassado Delcídio do Amaral e os outros dois faltaram na primeira votação, garantindo por tabela mais dois votos favoráveis à presidente. Desse grupo, a projeção da Prospectiva é de que apenas um vote contra o fim do mandato da petista. 

Há ainda cinco senadores que apoiaram a abertura do processo, mas que ainda se declaram indecisos sobre seu voto final. Se todos os membros desse grupo realmente mudarem seu voto, Dilma Rousseff ganha uma chance de virar o jogo. Mas, para os analistas consultados por EXAME.com, essa possibilidade é baixa. 

Na balança 

A razão para isso está centrada em um dos principais fatores que colocou o mandato de Dilma Rousseff em xeque. Mais do que o clamor das ruas ou o avanço da operação Lava Jato, o que reduziu as chances da petista de se manter no poder foi sua inabilidade política para costurar acordos e manter a própria base.

“A explosão do governo foram os fatores externos, mas a implosão foi a falta de diálogo”, afirma Thiago Aragão, diretor de estratégia da Arko Advice. “Foi um governo inábil sem a menor noção de como se faz política dentro de um ambiente econômico deteriorado”.

Dito de maneira mais clara, o placar do impeachment só se altera no Senado se os parlamentares concluírem que era melhor negociar com a gestão anterior do que com a atual, nas palavras de Aragão. Cenário que até agora o governo Temer fez questão de combater.

Uma prova disso é a maneira como o peemedebista costurou sua equipe ministerial e consequente base de apoio. 

Estudo da Pulso Público revela que, ao lado da equipe do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a equipe do peemedebista é a mais equilibrada em termos partidários e a mais coerente com o Congresso desde a redemocratização.

A consultoria chegou a essa conclusão após calcular a taxa de coalescência do gabinete de Temer. Tal indicador mede a proporção entre a importância dos partidos da base aliada no Congresso e a quantidade de ministérios recebidos por cada legenda. Ele vai de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, mais proporcional é a repartição do poder entre as siglas da coalizão.

No caso do governo Temer, a taxa de coalescência está em 0,805. Durante o segundo mandato da presidente afastada Dilma Rousseff (PT), não passou de 0,714 – o pior desempenho nesse quesito desde o governo Collor.

“Para estar a favor do impeachment não precisa amar o governo Temer. Os senadores não comparam apenas Dilma com Temer. Eles comparam [Eliseu] Padilha com [Aloizio] Mercadante, [Henrique] Meirelles com [Nelson] Barbosa”, diz Aragão. “Eles falam: por mais insatisfeitos que a gente possa estar, pelo menos ligamos o telefone e falamos direto com o Padilha. Antigamente, falávamos com as paredes”.

Uma questão de tempo 

Apesar de amargar uma avaliação positiva tão baixa quanto a de Dilma frente a opinião pública, segundo pesquisa CNT/MDA divulgada na última semana, o governo Temer experimenta ainda de uma margem de manobra diante de uma parcela significativa da população.

De cada 10 entrevistados, três preferiram não opinar sobre a gestão do peemedebista durante a sondagem da CNT/MDA. Para Marcelo Issa, sócio-diretor da Pulso Público, esse grupo estaria aguardando um pouco mais para avaliar a atuação do chefe provisório do Executivo.

É por essa razão que, em certa medida, o tempo corre contra o presidente em exercício – tanto por andar rápido demais quanto por demorar para passar.

Explica-se: os 150 dias máximos que restam para o Senado dar um desfecho para o impeachment não são suficientes para que Temer colha resultados vibrantes na economia, mas são longos o bastante para que novas revelações e imprevistos desgastem a imagem do governo diante da opinião pública – entre elas, uma possível prisão de Eduardo Cunha (PMDB) que ainda mantém um certo poder de influência nos corredores do Palácio do Planalto e Congresso.

Não por acaso, aliados do PMDB na comissão de impeachment fizeram de tudo para apressar o ritmo do julgamento. Mas a manobra acabou derrotada no colegiado, para alegria dos petistas. A votação final deve acontecer só no início de agosto.

A última cartada

A julgar pelo teor da entrevista que Dilma Rousseff concedeu à rede EBC, a expectativa é de que o governo afastado esteja disposto a dar sua última cartada para voltar ao poder.

“O pacto que vinha desde a Constituição de 1988 foi rompido e não acredito que se recomponha esse pacto dentro de gabinete. Acredito que a população seja consultada”, disse a presidente afastada em referência à convocação de um plebiscito propondo novas eleições.

Para Marcelo Issa, da Pulso Público, a repercussão dessa proposta pode complicar a situação do peemedebista. “A vida de Temer não está nada fácil. Serão pelo menos dois meses de sangria no governo com a possibilidade de ver uma boa parcela da opinião pública engajada nesse compromisso de consulta popular para novas eleições”, diz.

Mas há um problema na estratégia da petista. Para que saia do campo das ideias, tal proposta demanda empenho do Congresso. Sugerir isso sem ter um acordo com os parlamentares pode ser mais um tiro no pé na biografia política de Dilma Rousseff.

“Ela repete um erro na medida em que joga para o Congresso Nacional uma pauta onerosa sem negociar. Ela não pode simplesmente contornar o Congresso, como se ele não existisse ou não importasse”, afirma Thiago Vidal, coordenador de análise política da Prospectiva.

Dada a coleção de reviravoltas que marcaram todo o processo que levou ao afastamento da presidente Dilma Rousseff, os 50 dias que provavelmente restam para o fim do julgamento do impeachment podem ser o bastante para que o provável e o improvável aconteça. Até lá, como diz Aragão, da Arko Advice, é insustentável esboçar qualquer previsão com 0% ou 100% de certeza. Aguardemos. 

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