Guerra ou paz? Como fica a campanha após o ataque a Bolsonaro
Marqueteiros e candidatos estão em compasso de espera, mas admitem que a facada pode ajudar o candidato nas pesquisas
André Jankavski
Publicado em 6 de setembro de 2018 às 19h21.
Última atualização em 6 de setembro de 2018 às 19h50.
São Paulo — Os comitês de campanha de todos os candidatos paralisaram com a notícia de que o candidato Jair Bolsonaro (PSL) tinha sido esfaqueado. A ordem agora é esperar e diminuir os ataques contra o candidato de extrema-direita. O atentado ocorreu na tarde desta quinta-feira 6 durante um ato de campanha de Bolsonaro na cidade de Juiz de Fora (MG).
Mas alguns marqueteiros dos candidatos opositores já admitem que o atentado pode ajudar Bolsonaro a subir nas pesquisas. “Ele está ainda mais perto do segundo turno”, diz um deles sob a condição de anonimato. “O atentado ocorreu em um dos momentos mais complicados da campanha dele e pode beneficiá-lo.”
Na última pesquisa Ibope, divulgada na quarta-feira 5, Jair Bolsonaro se consolidou na liderança do primeiro turno com 22% das intenções de voto. Ao mesmo tempo, perdia para todos os candidatos no segundo turno, com exceção de Fernando Haddad (PT). A sua rejeição, de 44% do eleitorado, foi a mais alta entre todos os candidatos.
O que pode ajudar nessa virada, segundo um marqueteiro ouvido por EXAME, é o fato de o principal suspeito ter ligações com a esquerda. A polarização, de acordo com eles, ajuda Bolsonaro nas intenções de voto. Não por acaso, a bolsa de valores subiu após o atentado – parte do mercado está apostando na vitória do candidato de extrema-direita e viu o atentado como positivo para ele. “Os eleitores veem o mártir como um ser superior, assim como os apoiadores do Bolsonaro”, diz esse profissional.
Um dos marqueteiros, contudo, ainda prefere não arriscar um prognóstico. “É muito cedo para falar qualquer coisa”, diz o marqueteiro, que lembra o acidente que matou o então candidato Eduardo Campos em 2014. “Todo mundo pensava que a Marina Silva (candidata à vice-presidente na época) ia ser eleita e ela nem chegou ao segundo turno.”
Todos os candidatos se manifestaram contra o atentado sofrido por Bolsonaro e pediram punição para os envolvidos. A trégua será a tônica dos próximos dias, segundo os profissionais. “Ninguém sabe se o clima de animosidade vai continuar, mas é um fato que ele ajudou a criar esse clima dizendo que iria metralhar petralhas no Acre”, afirma um profissional.
Em evento no Planalto, o presidente Michel Temer afirmou que espera que o ataque “sirva de exemplo para que as pessoas que hoje estão fazendo campanha percebam que a tolerância é uma derivação da própria democracia”.
Não parece ser o caso. Em entrevista à revista eletrônica Crusoé, o general Hamilton Mourão afirmou: “tenho certeza: o autor do atentado é do PT”. Disse ainda: “Se querem usar a violência, os profissionais da violência somos nós”.