Brasil

Guedes está cansado da morosidade da articulação política do governo?

Integrantes da equipe econômica avaliam como baixíssima a possibilidade de o governo conseguir realizar as três reformas estruturantes no pós-pandemia

Paulo Guedes: “pessoas” estão se passando pelo ministro (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Paulo Guedes: “pessoas” estão se passando pelo ministro (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 27 de novembro de 2020 às 16h21.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, deixou de esconder o incômodo com as reclamações de que sua pasta não tem um plano consistente. Em todas as declarações públicas que fez ao longo da semana, Guedes rebateu as críticas à demora no andamento da agenda econômica, especialmente na área fiscal. Sobrou até para o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a quem o ministro sugeriu apresentar um plano melhor se o tivesse. Por trás dessa postura está um cansaço de Guedes em ser responsabilizado pela incapacidade do governo na articulação política, afirmam integrantes da equipe econômica.

Guedes também acredita estar pagando o pato por disputas entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o líder do centrão, Arthur Lira, no Congresso. O ministro já foi aconselhado a sair um pouco de Brasília e recarregar as baterias no Rio de Janeiro.

O que vier é lucro

Integrantes da equipe econômica avaliam como baixíssima a possibilidade de o governo conseguir realizar as três reformas estruturantes propostas para o pós-pandemia. A mais importante e urgente delas é a do pacto federativo, que cria mecanismos para a sustentação do teto de gastos. Se essa sair, já será lucro, afirmou uma fonte a par das discussões.

A reforma tributária, por sua vez, continua empacada pela falta de acordo entre o Ministério da Economia e o Congresso sobre a criação de um imposto sobre operações digitais para financiar a desoneração da folha de pagamento das empresas. Assim como fez na época da Previdência com a criação de um regime de capitalização, Guedes está disposto a insistir na desoneração da folha até o fim. Já a reforma administrativa deixou de ser prioridade depois que o governo conseguiu suspender os reajustes de salários do funcionalismo público até o final de 2021.

Só no ano que vem

Mesmo que o Senado consiga aprovar a PEC emergencial, onde estão mecanismos do pacto federativo para cumprir o teto de gastos e as bases para a criação de um novo programa social, ainda em 2020, a expectativa da equipe econômica é que nada andará na Câmara até a eleição para o comando da casa. Embora Maia seja defensor de uma agenda pró-mercado, a visão de um integrante da equipe é que ele não tem muita disposição em resolver nada que beneficie politicamente o presidente Jair Bolsonaro antes de resolver o próprio futuro.

Privatizações

Se as dificuldades do plano de privatizações do governo fossem apenas uma aliança de centro-esquerda feita no Congresso para barrar essas operações, o cenário não seria tão ruim, afirma uma fonte da área econômica. O problema é que dentro do próprio governo a Economia se tornou uma voz isolada em defesa do tema. Guedes diz que quer avançar em quatro grandes privatizações: Eletrobras, Correios, contratos da Pré-Sal Petróleo (PPSA) e Porto de Santos. Como isso vai se dar, ninguém sabe. A mais importante, Eletrobras, ficou mais comprometida pelo apagão de semanas no Amapá que foi resultado de falhas de uma concessão privada. Quem entrou para resolver o assunto foi a estatal.

Reservas Internacionais

A venda de reservas internacionais para reduzir a dívida pública, possibilidade citada constantemente por Guedes, não é algo que valeria para o momento atual, afirma uma fonte a par do assunto. Na visão do ministro esse tipo de medida poderia ser adotada num cenário de consolidação fiscal. Com as contas públicas em ordem e moeda mais fraca, o governo poderia ser dar ao luxo de usar parte das reservas para abater dívida -- mas a realidade atual é outra.

Tweet da semana

Acompanhe tudo sobre:Governo BolsonaroPaulo Guedes

Mais de Brasil

Inmet emite alerta de 'grande perigo' enquanto chuva atinge 18 estados; veja previsão

Após sucesso de ‘Ainda Estou Aqui’, Lula cria Prêmio Eunice Paiva de Defesa da Democracia

Coalizão lança manifesto assinado por mais de 60 entidades contra decisão de Zuckerberg sobre Meta

Ministro da Defesa reforça apoio às investigações do 8/1: ‘Essa será a grande festa’