Governo quer retomar reforma da Previdência após votar denúncia
Governistas defendem que a votação de um texto possível com mudanças nas regras previdenciárias ganhará corpo com uma vitória do presidente
Reuters
Publicado em 21 de julho de 2017 às 19h17.
Última atualização em 21 de julho de 2017 às 19h18.
Brasília - Para evitar sinais de paralisia da principal agenda do governo no Congresso, o Palácio do Planalto e seus interlocutores querem retomar a negociação do texto da reforma da Previdência tão logo a Câmara decida barrar a autorização para que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgue a denúncia contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva.
Governistas defendem que a votação de um texto possível com mudanças nas regras previdenciárias ganhará corpo com uma vitória do presidente, que acredita já ter votos suficientes para impedir o aval para que o STF julgue a denúncia.
"O governo quer retomar as negociações para votação da Previdência assim que conseguir derrubar a denúncia contra o presidente. A intenção é conseguir votar a PEC até setembro", disse à Reuters uma fonte palaciana.
Essa iniciativa deverá ocorrer em paralelo à discussão e votação de uma proposta de reforma tributária que simplifique procedimentos, projeto mais palatável de ser aprovado e que serviria como uma espécie de preparação para a batalha da reforma da Previdência, conforme noticiou a Reuters na terça-feira.
A reforma da Previdência, uma proposta de emenda à Constituição, necessita de um quorum maior para ser votada. No plenário da Câmara, precisa do apoio de ao menos 308 dos 513 deputados.
A votação da simplificação tributária, por outro lado, poderia ser promovida por meio de um projeto de lei com a exigência mínima de 257 votos (no caso de um projeto de lei complementar) ou até maioria simples dos deputados votantes.
A grande questão no momento no governo e na base aliada refere-se à calibragem da proposta que altera o pagamento de aposentadorias e pensões que iria à votação: se o texto que foi aprovado na comissão especial da Câmara ainda no início de maio ou algo mais enxuto e que seja votado de forma fatiada, como, por exemplo, apenas a adoção da idade mínima para a concessão dos benefícios.
Nesta semana, em conversa com um dirigente tucano relatada à Reuters, Temer mostrou-se confiante de que a crise vai reduzir de intensidade após a eventual rejeição da primeira denúncia e considera que outras, caso surjam, vão perder força. E que vai buscar sim, com o apoio do PSDB, retomar a discussão da reforma da Previdência sem sinalizar qual tipo de proposta deverá ir à votação.
No Planalto, um ministro disse à Reuters que se pretende votar a proposta sem modificações que foi aprovada na comissão da Câmara. Desde a eclosão do escândalo da JBS que implicou Temer, a discussão do texto que passou pelo colegiado ficou congelado.
Na Argentina, onde participa de reunião do Mercosul com Temer, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, defendeu também que o governo tente votar a proposta que foi aprovada pela comissão especial, mas avaliou que ele só pode ir à apreciação no plenário quando estiver "maduro".
"A única questão é quando é quando será colocada em votação", disse Meirelles em entrevista em Mendoza.
Um dos vice-líderes do governo na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS), apoia a tentativa de se votar a proposta o mais próximo possível do que passou pela comissão. "Defendo isso, mas vamos ver como a base reage, porque tem gente que não quer", admitiu.
Para Perondi, da tropa-de-choque de Temer, o governo não pode ficar refém de eventuais denúncias que vierem a ser oferecidas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
"A segunda denúncia, se vier, será fraca. Todas serão derrubadas", acredita.
Apesar do otimismo dos aliados, entre os críticos do governo há quem acredite que a situação política do presidente pode ficar muito complicada se uma próxima denúncia vier reforçada por fatos novos de uma das delações em negociação no momento, como a do empresário Lucio Funaro.
Perondi avalia, no entanto, que há um argumento novo para a negociação em torno da reforma da Previdência. Para ele, a recente decisão de aumentar impostos demonstra a urgência da retomada da votação da proposta. "Sem a reforma da Previdência, a elevação (de impostos) será ainda mais gigantesca", disse.
O líder da maioria na Câmara, Lelo Coimbra (PMDB-ES), destacou que o governo também não pode ficar "prisioneiro da crise".
"Se não der para ir (à votação o texto) integral, podemos até fatiar, como se falou. O importante é manter o norte" disse. "Foi mais um adiamento, agora vamos ver o que fazer, depois do recesso. Se for o caso de aprovar três itens já é um passo adiante."
A denúncia contra Temer está marcada para ser votada pelo plenário da Câmara em 2 de agosto. Mas como o quórum mínimo para que a votação ocorra é de 342 deputados e nem os governistas nem os que desejam o afastamento do presidente têm esse número, isso pode se arrastar por alguns dias.