Governo quer criar ou extinguir órgãos sem precisar de aval do Congresso
A proposta, que altera a Constituição, deve fazer parte da reforma administrativa elaborada pela equipe econômica
Estadão Conteúdo
Publicado em 17 de outubro de 2019 às 13h02.
Última atualização em 17 de outubro de 2019 às 13h03.
O governo quer mudar a Constituição para permitir que o presidente da República altere por decreto a estrutura do Poder Executivo e até declare extintos alguns órgãos e ministérios. A proposta, que se aplica também a fundações e autarquias, deve fazer parte da reforma administrativa que está sendo elaborada pela equipe econômica, segundo apurou o 'Estadão/Broadcast'.
Hoje, o governo precisa do aval do Congresso Nacional para criar reorganizar ou extinguir órgãos e ministérios. Para dar agilidade ao processo, geralmente é editada uma Medida Provisória, que tem vigência imediata, mas precisa ser votada em até 120 dias.
Foi assim que o presidente Jair Bolsonaro enxugou o número de ministérios de 29 para 22 no início deste ano. No entanto, em meio à falta de articulação política, o governo quase viu algumas dessas pastas serem recriadas pelos parlamentares.
Houve ainda queda de braço entre governo e Congresso pelo endereço do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de inteligência que atua no combate à lavagem de dinheiro. O Coaf era ligado ao Ministério da Fazenda, mas o ministro da Justiça, Sergio Moro, reivindicava que ficasse sob sua alçada para fortalecer investigações, inclusive as da Lava Jato. O Congresso, porém, devolveu o órgão ao Ministério da Economia, de Paulo Guedes.
Autonomia
Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o objetivo do governo é dar ao presidente da República a possibilidade de fazer a reorganização da estrutura do Poder Executivo da forma que julgar necessária para o melhor funcionamento da máquina pública - sem ter a sua relação com o Congresso Nacional como limitador. Segundo um integrante do governo, em resumo, deveria caber ao próprio Executivo a competência de organizar sua estrutura.
Hoje é a lei que dispõe sobre a quantidade de ministérios, suas atribuições, estrutura básica e principais cargos. É na estrutura básica que são definidas as secretarias, conselhos e outras unidades e repartições ligadas à pasta. Apenas os detalhes da estrutura regimental interna do ministério podem ser regulados via decreto.
"Essa mudança provocaria um desequilíbrio entre os Poderes. O Congresso ter mecanismos de moderar o Executivo. Vejo risco de deixar os servidores sem função, de se criar categorias fantasmas e moribundas", disse o deputado Israel Batista (PV-DF) presidente da Frente Parlamentar Mista de Defesa do Serviço Público, formada por 235 deputados e seis senadores de 23 partidos.
A proposta de reforma administrativa também planeja reestruturar as carreiras do funcionalismo federal e propor novas regras para contratação, promoção e desligamento de servidores.
Entre as medidas que devem ser incorporadas está ainda a redução do número de carreiras (hoje, são 117) e o encolhimento do salário inicial. "Percebemos que algumas das pautas que têm vindo da Esplanada dos Ministérios são embasadas em discursos prontos que usam da lógica de nós e eles para defender a tese de que o servidor é privilegiado", afirmou Batista.
Estados e municípios
Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a equipe econômica quer ainda colocar um comando na Constituição para que Estados e municípios possam aderir às regras federais de organização da administração, caso assim desejem.
Há governadores pedindo a inclusão dos Estados da reforma, diante do quadro de gastos elevados com pessoal.
O cuidado do governo é grande para tentar evitar o que se viu na Previdência. Na proposta que muda as regras de aposentadoria e pensão no País, a equipe econômica incluiu servidores estaduais e municipais, mas a medida enfrentou forte resistência na Câmara dos Deputados e ameaçou travar o andamento da proposta. Como resultado, Estados e municípios acabaram ficando de fora da reforma. Foi após ser "escaldado" na experiência negativa, que o governo buscou uma solução que permitisse que a adesão de governadores e prefeitos seja opcional.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.