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Governo quer aperto, mas bancos estatais mantêm crédito

Ainda que o discurso do esfriamento do consumo prevaleça, na prática bancos ainda tentam investir no ganho de market share

Diante do encarecimento de algumas linhas, provocado pelas medidas macroprudenciais do BC, os bancos estatais estão ajustando seus canhões (Lia Lubambo/EXAME)
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Da Redação

Publicado em 15 de abril de 2011 às 19h10.

São Paulo - Governo e bancos estatais se entenderam muito bem quando a ordem foi aumentar a oferta de crédito no imediato pós-crise, mas não parecem estar dançando a mesma música agora que o principal desafio do país passou a ser ameaça inflacionária.

Publicamente, o discurso de que o crédito para o consumo esfriou no começo de 2011 está alinhado. Na prática, porém, os bancos oficiais mantém a ofensiva para ganhar market share.

"Tem essa queda-de-braço entre inflação e crescimento. Mas os bancos do governo têm uma ordem interna para continuar pisando no acelerador", disse Carlos Daniel Coradi, presidente da Engenheiros Financeiros & Consultores.

Desde 2008, quando o governo orientou os bancos estatais a ampliar a concessão de financiamentos para tentar debelar os efeitos da crise global, a participação do setor no crédito do sistema subiu de 34 para pouco mais de 40 por cento. Nesse meio tempo, a Caixa tomou do Santander Brasil a quarta posição no ranking dos maiores bancos por ativos no Brasil.

Agora o governo, em meio à pressão persistente dos preços que estão levando as perspectivas para o IPCA de 2011 para perto do teto da meta oficial de 6,5 por cento, vem desde dezembro batalhando para esfriar o ritmo da economia, principalmente com medidas para diminuir a concessão de financiamentos, notadamente os voltados a pessoa física.

"Tem uma verdadeira volúpia entre os bancos por empréstimos ao varejo", disse um analista do setor bancário, sob condição de anonimato, avaliando que ainda há demanda forte por crédito devido ao aumento da renda das famílias nos últimos anos.

Nesse contexto, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil têm mantido as perspectivas de expansão de suas carteiras de financiamento para 2011 na casa de 17 a 30 por cento, em níveis acima da faixa de até 15 por cento pretendida pelo governo.

DESCOMPASSO Uma evidência desse descompasso veio na semana passada, quando a Caixa reportou que novos desembolsos para crédito habitacional no primeiro trimestre somaram 15,7 bilhões de reais de janeiro a março, um pouco acima do registrado em igual período de 2010, mesmo sem o governo federal ter liberado nada para o programa Minha Casa, Minha Vida, um dos principais motores do setor nos últimos anos.

Enquanto isso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, dobrava o IOF sobre o crédito ao consumo para 3 por cento ao ano, numa clara mostra de insatisfação com os números divulgados uma semana antes pelo BC, mostrando que o crédito voltou a acelerar em fevereiro, após ter perdido fôlego em janeiro.

Diante do encarecimento de algumas linhas, provocado pelas medidas macroprudenciais do BC, os bancos estatais estão ajustando seus canhões, esperando que um resultado menor no crédito ao consumo seja compensado com crescimento maior em outros segmentos, como empréstimos a empresas e imobiliário.

Este último, por exemplo, escapa do aumento do IOF e é responsável por cerca de 60 por cento da carteira de crédito da Caixa. De forma geral, há indícios de que outras linhas, como empréstimos para empresas e para compra de automóveis, seguem firmes.

Para Miguel Santacreu, analista da Austin Asis, a tendência é o governo esperar a divulgação dos resultados de bancos no primeiro trimestre, a partir do final deste mês, antes de tomar novas decisões.

"Dependendo do ritmo do começo do ano, as medidas terão que ser fortes para impedir que o crescimento seja superior ao que quer o governo", disse.

O sucesso das medidas prudenciais é vital para o governo, já que o BC lançou mão delas como recurso para não ter que subir com mais força os juros contra a inflação, o que poderia acarretar em mais apreciação cambial, desaceleração econômica e endividamento público.

Essa receita, ainda pouco conhecida no Brasil, tem sido recebida com ceticismo por parcela dos economistas, que acharam pouco o aumento de 1 ponto na Selic este ano.

Já os bancos oficiais não mostram muita simpatia com a ideia de por o pé no freio num dos mercados de consumo mais promissores do planeta. Argumentam que a inadimplência em níveis extraordinariamente baixos para os padrões brasileiros permitem mais agressividade.

"Temos conforto para aguentar uma piora da inadimplência ao longo do tempo", disse o presidente do BB, Aldemir Bendine, durante o Reuters Latin American Investment Summit.

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São Paulo - Governo e bancos estatais se entenderam muito bem quando a ordem foi aumentar a oferta de crédito no imediato pós-crise, mas não parecem estar dançando a mesma música agora que o principal desafio do país passou a ser ameaça inflacionária.

Publicamente, o discurso de que o crédito para o consumo esfriou no começo de 2011 está alinhado. Na prática, porém, os bancos oficiais mantém a ofensiva para ganhar market share.

"Tem essa queda-de-braço entre inflação e crescimento. Mas os bancos do governo têm uma ordem interna para continuar pisando no acelerador", disse Carlos Daniel Coradi, presidente da Engenheiros Financeiros & Consultores.

Desde 2008, quando o governo orientou os bancos estatais a ampliar a concessão de financiamentos para tentar debelar os efeitos da crise global, a participação do setor no crédito do sistema subiu de 34 para pouco mais de 40 por cento. Nesse meio tempo, a Caixa tomou do Santander Brasil a quarta posição no ranking dos maiores bancos por ativos no Brasil.

Agora o governo, em meio à pressão persistente dos preços que estão levando as perspectivas para o IPCA de 2011 para perto do teto da meta oficial de 6,5 por cento, vem desde dezembro batalhando para esfriar o ritmo da economia, principalmente com medidas para diminuir a concessão de financiamentos, notadamente os voltados a pessoa física.

"Tem uma verdadeira volúpia entre os bancos por empréstimos ao varejo", disse um analista do setor bancário, sob condição de anonimato, avaliando que ainda há demanda forte por crédito devido ao aumento da renda das famílias nos últimos anos.

Nesse contexto, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil têm mantido as perspectivas de expansão de suas carteiras de financiamento para 2011 na casa de 17 a 30 por cento, em níveis acima da faixa de até 15 por cento pretendida pelo governo.

DESCOMPASSO Uma evidência desse descompasso veio na semana passada, quando a Caixa reportou que novos desembolsos para crédito habitacional no primeiro trimestre somaram 15,7 bilhões de reais de janeiro a março, um pouco acima do registrado em igual período de 2010, mesmo sem o governo federal ter liberado nada para o programa Minha Casa, Minha Vida, um dos principais motores do setor nos últimos anos.

Enquanto isso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, dobrava o IOF sobre o crédito ao consumo para 3 por cento ao ano, numa clara mostra de insatisfação com os números divulgados uma semana antes pelo BC, mostrando que o crédito voltou a acelerar em fevereiro, após ter perdido fôlego em janeiro.

Diante do encarecimento de algumas linhas, provocado pelas medidas macroprudenciais do BC, os bancos estatais estão ajustando seus canhões, esperando que um resultado menor no crédito ao consumo seja compensado com crescimento maior em outros segmentos, como empréstimos a empresas e imobiliário.

Este último, por exemplo, escapa do aumento do IOF e é responsável por cerca de 60 por cento da carteira de crédito da Caixa. De forma geral, há indícios de que outras linhas, como empréstimos para empresas e para compra de automóveis, seguem firmes.

Para Miguel Santacreu, analista da Austin Asis, a tendência é o governo esperar a divulgação dos resultados de bancos no primeiro trimestre, a partir do final deste mês, antes de tomar novas decisões.

"Dependendo do ritmo do começo do ano, as medidas terão que ser fortes para impedir que o crescimento seja superior ao que quer o governo", disse.

O sucesso das medidas prudenciais é vital para o governo, já que o BC lançou mão delas como recurso para não ter que subir com mais força os juros contra a inflação, o que poderia acarretar em mais apreciação cambial, desaceleração econômica e endividamento público.

Essa receita, ainda pouco conhecida no Brasil, tem sido recebida com ceticismo por parcela dos economistas, que acharam pouco o aumento de 1 ponto na Selic este ano.

Já os bancos oficiais não mostram muita simpatia com a ideia de por o pé no freio num dos mercados de consumo mais promissores do planeta. Argumentam que a inadimplência em níveis extraordinariamente baixos para os padrões brasileiros permitem mais agressividade.

"Temos conforto para aguentar uma piora da inadimplência ao longo do tempo", disse o presidente do BB, Aldemir Bendine, durante o Reuters Latin American Investment Summit.

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