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Governo canta vitória, mas impacto da greve ainda será digerido

Temer e seus representantes minimizam os atos desta sexta-feira, apontando o que consideram uma "baixa adesão popular"

Greve geral: opositores a Michel Temer e contrários às reformas consideraram esta uma das maiores mobilizações das últimas décadas (Nacho Doce/Reuters)

Greve geral: opositores a Michel Temer e contrários às reformas consideraram esta uma das maiores mobilizações das últimas décadas (Nacho Doce/Reuters)

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Reuters

Publicado em 28 de abril de 2017 às 21h47.

Brasília - Cada lado do jogo político cantou vitória sobre a greve geral deflagrada nesta sexta-feira contra as reformas trabalhista e previdenciária, mas a ebulição em torno dos temas continua e a dimensão do impacto da mobilização no humor de deputados e senadores só poderá ser aferida mais à frente.

Enquanto o governo e seus representantes minimizam os atos desta sexta-feira, apontando o que consideram uma baixa adesão popular, opositores a Michel Temer e contrários às reformas consideraram esta uma das maiores mobilizações das últimas décadas.

Em uma leitura mais objetiva, analistas afirmam que uma avaliação não é tão simples mas não se pode desprezar o impacto desta sexta-feira na tramitação das reformas no Congresso.

"Não se pode dizer que foi um fracasso, ela foi sentida, isso tem um símbolo muito forte, muito contundente", disse o cientista político do Insper Carlos Melo.

"Isso nunca é bom para o governo e evidentemente não é bom para as reformas, porque tem impacto de opinião pública."

Melo explicou que uma grande vantagem do movimento desta sexta foi ter mobilizado setores ligados ao transporte público, fazendo com que boa parte das cidades brasileiras, principalmente capitais, sentissem seus efeitos.

"Isso bate no Congresso, isso de alguma forma sensibiliza deputados e senadores? Sim, porque eles percebem que de há uma mobilização de setores da sociedade de contrariedade", afirmou.

"Vamos lembrar que a gente esta às vésperas de um ano eleitoral."

Na mesma linha, o diretor do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio, Ricardo Ismael, avalia que, de fato, não se pode falar em uma greve geral nos moldes das paralisações em países com tradições trabalhistas mais fortes, como a França.

Ele aponta, no entanto, que houve mobilização em âmbito nacional, o que demonstra uma reação de contrariedade.

"A fervura vai continuar, não se pode falar em fracasso", afirmou Ismael. "Hoje foi um dia que pouca gente trabalhou no país. Mostra que há uma reação contra as reformas apresentadas pelo governo. Os parlamentares estão olhando as imagens da televisão e estão vendo sua base."

Já o cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB), Flávio Britto, chama a atenção para o fato de a mobilização ter sido organizada em boa parte por entidades sindicais e ressalta que a reforma trabalhista, aprovada pela Câmara dos Deputados nesta semana, retira o caráter obrigatório do imposto sindical, o que vai esvaziar o caixa dos sindicatos.

"A principal reivindicação dos grevistas, a meu ver, se dá em função do fim da obrigatoriedade da contribuição sindical... esse é o pano de fundo que vejo que está por trás da mobilização de hoje", avaliou. "Nesse momento nós não conseguimos avaliar com a precisão necessária o desfecho dessa votação da reforma Previdência."

A reforma trabalhista já foi enviada ao Senado, enquanto a reforma da Previdência ainda está na fase de discussão em uma comissão especial da Câmara.

Logística de interrupção

À medida que o dia passava, consolidava-se o discurso, entre governistas, de que muita gente não trabalhou por não ter conseguido chegar ao trabalho.

"Não foi um movimento de adesão, foi interrupção coercitiva do direito de ir e vir", afirmou o líder da maioria na Câmara, Lelo Coimbra (PMDB-ES).

Para ele, os atos desta sexta, encabeçados por sindicatos e partidos ligados à oposição, não refletem o real sentimento da população e não têm o condão de influenciar a opinião de deputados e senadores.

"O impacto na votação é aquele que já estava previsto. Nós vamos fazer o diálogo com aquela sociedade que não foi para as ruas, intensificar a publicidade, os esclarecimentos. Vamos trabalhar com os deputados, nós temos tempo", disse o líder.

"Vamos mostrar que o que está na rua não é o que a sociedade pensa", acrescentou.

O líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), foi além e afirmou que parte da adesão à greve foi conquistada "na base da violência, da ameaça".

"Não foi uma adesão espontânea, natural", avaliou, acrescentando que os protestos organizados pela oposição no plenário da Câmara na votação da reforma trabalhista criaram uma grande expectativa , não confirmada, na opinião do deputado, sobre o dia de hoje.

Já o líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), considerou a greve um sucesso, com uma adesão "muito grande".

Ele considera que ao contrário do que ocorre em greves pontuais, em que se faz piquete na porta de uma determinada empresa ou grandes protestos de rua, no caso da greve geral o sucesso é determinado pelo esvaziamento dos trabalhos no serviço público e na iniciativa privada.

O vice-líder do PSOL Ivan Valente (SP) avaliou que a paralisação teve a adesão de grande número de categorias e surtiu um enorme efeito. Para ele, desde a década de 1980 não se via uma mobilização desse porte.

"Acho que foi a maior greve dos últimos 35 anos. Estamos entendendo que isso é um recado aos deputados que estão votando uma legislação antipovo, que revoga os direitos dos trabalhadores", defendeu.

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