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Geraldo Júlio (PSB): Recife, Campos e a crise

Camila Almeida O atual prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB), é candidato à reeleição em condições muito diferentes às de 2012. Desta vez, ele não conta com o apoio político de Eduardo Campos, que o apadrinhou e garantiu que fosse eleito prefeito no primeiro turno, mesmo sem ter disputado qualquer cargo político anteriormente. Na campanha de 2016, […]

GERALDO JÚLIO:  o atual prefeito do Recife teve 49,35% dos votos válidos / Divulgação

GERALDO JÚLIO: o atual prefeito do Recife teve 49,35% dos votos válidos / Divulgação

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Da Redação

Publicado em 20 de setembro de 2016 às 18h39.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h39.

Camila Almeida

O atual prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB), é candidato à reeleição em condições muito diferentes às de 2012. Desta vez, ele não conta com o apoio político de Eduardo Campos, que o apadrinhou e garantiu que fosse eleito prefeito no primeiro turno, mesmo sem ter disputado qualquer cargo político anteriormente. Na campanha de 2016, Geraldo Júlio aparece com 36% das intenções de voto, tecnicamente empatado com João Paulo (PT), com 34%, que foi prefeito do Recife entre 2001 e 2008 e conta com a presença do ex-presidente Lula em seu palanque. Em entrevista a EXAME Hoje, Júlio falou sobre a ausência de Eduardo Campos, os prejuízos que a crise tem trazido à cidade e sobre as investigações da Operação Lava-Jato.

Qual foi o principal marco da sua gestão?
Foi uma mudança no padrão de gestão da prefeitura do Recife. A capacidade de investimento saiu de 6% da receita líquida para 12%. Na educação, em quatro anos, a gente investiu mais do que nos últimos 12. Na saúde, foi o dobro do que havia sido investido na soma de 12 anos. Uma mudança quantitativa muito expressiva. E também uma mudança qualitativa. As creches e as escolas atendem a todas as demandas necessárias, com inclusão tecnológica das crianças a partir de um ano de idade, biblioteca de qualidade, refeitório adequado, laboratório… Apostamos em um padrão completamente diferente. Também fizemos muita coisa que não existia três anos atrás. Projetos como wi-fi gratuito, tablet para todos os alunos, robótica dentro da escola, passe livre para o estudante, bolsas universitárias integrais para 730 jovens. Acho que é um processo de mudança muito firme que está iniciado.

No último ano, o Recife foi o foco principal da microcefalia provocada pelo vírus da zika. Boa parte da população vive em condições precárias sem saneamento. Qual foi a responsabilidade da prefeitura nesse surto?
A cada dez focos do mosquito, nove são encontrados dentro das residências. O foco está dentro da casa, na água limpa e guardada, reservada para consumo em baldes, tanques, tonéis, caixas d’água. Não foi uma questão dos canais, das palafitas ou de saneamento. A gente precisava que todo mundo atuasse. Fizemos uma larga campanha de conscientização com apoio das escolas, das faculdades, das igrejas, do sistema de comunicação, do exército. Todo mundo precisava ser rigoroso com os cuidados dentro de casa para controlar os focos do mosquito. O resultado é que, este ano, o número de focos de mosquitos encontrados na cidade é o menor dos últimos dez anos. 

O número de crimes como roubos e furtos aumentou muito. Pernambuco era referência em redução da criminalidade, com o programa Pacto Pela Vida. Como esse quadro desandou?
Há um crescimento da violência no Brasil inteiro e a crise econômica tem um forte impacto nisso. O Nordeste está sofrendo mais ainda com a crise. A gente está trabalhando para enfrentar esse desafio. Inaugurei em março um serviço chamado Compaz. Três mil pessoas são atendidas todos os dias e contam com uma série de atividades, como prática de artes marciais, futebol, ginástica, dança, atividades culturais, reforço escolar. Também fiz a substituição de 55.000 postes de iluminação e instalei 170 câmeras de segurança.

Na campanha passada, o senhor contou com o apoio de Eduardo Campos, que era governador do estado. A falta dele agora dificulta sua campanha?
A principal falta que eu sinto de Eduardo é do amigo, da presença, da convivência. Além de aliado político de Eduardo eu era muito amigo dele uma amizade intensa, de convívio diário, de família com família. O Brasil perdeu uma grande liderança política. Ele está fazendo falta ao país. Aqui na eleição, claro que a presença de Eduardo seria importante no processo eleitoral de qualquer cidade de Pernambuco, mas a gente chega à eleição com um conjunto de partidos e lideranças políticas até maior do que o que conquistamos em 2012. A gente chega forte.

Eduardo Campos era um grande articulador. A morte dele afetou a atração de investimentos para o estado?
É inegável que ele tinha uma capacidade de articulação muito grande, mas o acidente coincide com um momento de mudança no setor econômico, a partir do segundo semestre de 2014. Foi bem quando o Brasil começou a entrar nessa crise profunda, e o mercado do Nordeste diminuiu de tamanho. As indústrias reduziram seus planos de investimentos e de ampliação. É claro que a capacidade de articulação que ele tinha era importante. Temos hoje uma fábrica de automóveis do porte da Fiat aqui no estado. Mas, neste momento, acho que o que pesa mais no mercado é a questão da crise econômica.

A região portuária foi renovada e o Porto Digital é considerado referência em tecnologia no Nordeste. Turismo e tecnologia são prioridades?
O Recife é uma cidade territorialmente limitada, com um setor industrial consolidado passando por modernização. O futuro do Recife passa por uma geração de empregos no comércio, mas, sem dúvida nenhuma, esses eixos modernos estão no foco da economia do futuro. A cidade hoje é rica em formação de mão-de-obra, em capacidade intelectual, talento, criatividade e isso tudo depende das pessoas, que são o principal patrimônio para o futuro dessa economia.

A Operação Lava-Jato chegou a Pernambuco. Há indícios de irregularidades na Refinaria Abreu e Lima. O nome de Eduardo Campos foi citado. Em que essas denúncias afetam a sua campanha, uma vez que o seu partido está sendo investigado?
Não afeta em nada. Isso é um processo de apuração e investigação, o nosso partido já se pronunciou, é favorável a todas as investigações e eu tenho certeza que, ao final, vai ser comprovado que a campanha de Eduardo não cometeu nenhuma irregularidade.

Mas a construtora Moura Dubeux, também citada, foi uma das maiores financiadoras da sua campanha em 2012. Isso não afeta em nada?
Em 2012, era permitido pela lei que as empresas fizessem doações para as campanhas eleitorais. Praticamente todas as campanhas eleitorais do Brasil, nos últimos anos, receberam doações de empresas que hoje estão sendo investigadas. As minhas contas foram aprovadas pela Justiça Eleitoral e não existe nenhum tipo de questionamento sobre a minha campanha.

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